Isto acontece porque as redes deste tipo de pesca, que geralmente busca espécies que vivem próximas ao fundo, como bacalhau, lula e camarão, são puxadas a uma velocidade que carrega praticamente tudo o que estiver na sua frente, não apenas matando espécies que não são alvo da pesca como destruindo o fundo marinho.
Segundo Pere Puig, pesquisador do Instituto de Ciências Marinhas, que participou do estudo, “o arrasto do equipamento no assoalho marinho levanta e remove partículas finas do sedimento, além colocar em suspensão organismos pequenos que vivem no sedimento e constituem a base da cadeia alimentar nestas profundidades”.
O estudo, publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences – PNAS, comparou uma área sem a prática do arrasto e outra onde as redes são utilizadas.
Os pesquisadores mostram que, em áreas cronicamente utilizadas para o arrasto ao longo do talude continental – porção do fundo marinho com declive muito pronunciado que fica entre a plataforma e a margem continental – no noroeste do Mar Mediterrâneo, há uma perda significativa de matéria orgânica (até 52%) e de biodiversidade (50%).
Eles estimam que o carbono orgânico removido diariamente pela pesca de arrasto na região representa entre 60% e 100% do fluxo de entrada. Tal impacto está causando a degradação de habitats sedimentares em grandes profundidades e a depauperação da fauna, conclui o estudo.
“O arrasto intensivo e crônico do fundo deve transformar grandes porções do talude continental profundo em desertos de fauna e paisagens marinhas altamente degradadas”, alertam os pesquisadores.
“Estas conclusões apoiam a demanda por ações imediatas para uma gestão sustentável da pesca em ambientes profundos”, ressaltam.
A prática da pesca de arrasto se tornou altamente utilizada no final do século 19 e atualmente, com a depauperação dos estoques pesqueiros na costa, se expande, abrangendo cada vez áreas mais profundas do oceano.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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