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sexta-feira, 9 de maio de 2014

Como tanques de guerra

Cavalos são explorados pela PM e terão armadura para combater protestos na Copa do Mundo

09 de maio de 2014


Por Lilian Regato Garrafa (da Redação da ANDA)
Treinamento da cavalaria da PM na sede do Regimento de Cavalaria "9 de Julho", no bairro da Luz, SP. (Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo)
Treinamento da cavalaria da PM na sede do Regimento de Cavalaria “9 de Julho”, no bairro da Luz, SP (Foto: Werther Santana/Estadão)
A mais nova medida de violência por parte dos executores da ‘operação copa do mundo’ desta vez volta a atingir duramente os animais. Cavalos que já são explorados desde remotos tempos pela polícia militar nos mais diferentes enfrentamentos de guerra constantes neste país, agora serão “blindados” para encarar as cenas bélicas que se delineiam para o próximo mês.
Em meio ao mundo que naturalizou a exploração animal, os cavalos estão entre os menos considerados em relação à sua libertação e alforria. Calados, sofrem abusos por corredores de jóquei, carroceiros, fazendeiros, peões de rodeio e estão entre as armas mais tradicionais e intimidadoras da milícia brasileira. O senso comum julga que são tratados “melhor que muita gente”, mas a sua dura realidade é bem outra…
A aparente docilidade e obediência que demonstram são obtidas às custas de dolorosas domesticação e doma e, para serem “bons policiais”, os treinamentos são rigorosos e exaustivos. O aprimoramento para a batalha chegou ao limite da insanidade, ao destacá-los para o combate que, ao que tudo indica, será de extrema violência.
Treinamento dos cavalos da PM com a nova armadura antiprotestos. (Foto: Werther Santana/Estadão)
Treinamento dos cavalos da PM com a nova armadura antiprotestos (Foto: Werther Santana/Estadão)
A armadura com que os cavalos terão de se proteger será composta de viseira de acrílico, botas antiderrapantes, protetor facial e uma cobertura de couro maior no peito. Os animais já estão passando por treinamento neste mês e sendo preparados para todo tipo de choque com manifestantes. Já foram relatadas cenas de desequilíbrio e acidentes nesse período de adaptação dos animais à nova indumentária, uma vez que a viseira modifica a visão devido ao reflexo da luz e o conjunto do equipamento lhes causa desconforto no corpo.
Segundo o comandante do pelotão de doma (picaria), tenente Rafael da Silva Gouveia, trata-se de ”um projeto já em preparação há quatro anos. Aconteceu de coincidir com a Copa, mas servirá para operações em praças esportivas, reintegrações de posse e para todos os outros eventos que possam trazer perigo para o cavalo e o policial militar”.
Merece questionamento, em meio a tantos excessos com que a ostensividade policial trata muitos cidadãos, mais este abuso ao se extirpar todo o resquício de essência natural que um animal selvagem guarda em si para coisificá-lo como um tanque de guerra contra outros tão indefesos quanto ele.
Neste cenário, de um lado está a inescrupulosa federação de futebol aliada ao governo que passou com seu trator por cima de direitos de moradia, de saúde, educação, passou por cima de índios, queimou áreas florestadas onde muitos animais morreram carbonizados para que as máquinas subissem estádios em tempo recorde; de outro lado encontra-se uma parcela da população, que não se conformou com os gastos bilionários em meio a tanto desprezo e covardia aos já tão desfavorecidos, e se dispõe a deixar o conforto de seu sofá e TV para protestar por vidas, por direitos, por mais pão e menos circo. No meio do embate, policiais que são treinados para agredir inconsequentemente, quase involuntariamente, com gestos automáticos e maquinais seguindo ordens de ataque. Os cavalos, sem nenhuma chance de poder fazer a sua própria revolução, estarão, mais uma vez, vitimados pela bandeira do terror, da intolerância, da exploração em nome do poder e do dinheiro.
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Sobre o uso e abuso histórico de cavalos como armas bélicas, leia também o artigo Cavalos: as vítimas esquecidas da I Guerra Mundial.

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