Grajew (2001) menciona que a falta de estabilidade política e social é uma ameaça à sociedade e aos negócios. Isso tem contribuído para a mudança do papel das empresas, que, até pouco tempo, se preocupavam em oferecer produtos e serviços aos clientes e alguns empresários praticavam apenas a filantropia individual. Mais tarde, somente algumas empresas passaram a desenvolver projetos sociais nas comunidades e outras vieram a agregar uma gestão de responsabilidade social a sua corporação.
Antunes (2001) relata que no século 19, Robert Owen, em sua fábrica de fios de algodão, na Escócia, já desenvolvia ações inimagináveis para a época, de plena eflorescência da revolução industrial, como prover um digno ambiente de trabalho e incentivo à educação. Ele comenta que nos anos 80, as Organizações Não-Governamentais que trabalhavam com aspectos políticos passaram a trabalhar com aspectos sociais. E que, nos anos 90, cresceu muito a filantropia corporativa.
A SA 8000 é um princípio ético balizador das ações e relações da empresa com os públicos com os quais ela interage. Ela é baseada nas normas da Organização Internacional do Trabalho, na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Declaração Universal dos Direitos da Criança (SA 8000).
Apesar de esse histórico trazer datas longínquas da existência de ações sociais, o assunto responsabilidade social ainda é enquadrado como novo e, apenas em 1997, surge a Norma SA 8000. O motivo que deu o maior impulso para a elaboração do padrão SA, concluído em 1997, foi à denúncia de utilização de mão-de-obra infantil e escrava na indústria chinesa de brinquedos, maior fornecedora das redes americanas de varejo. Surgiu como uma resposta à pressão do mercado consumidor sobre empresas que ignoram o descaso de seus fornecedores em relação às condições de trabalho oferecidas em suas fábricas (ARNT, 2001).
O surgimento da SA 8000 é a norma que comprova a responsabilidade social de uma empresa. Lançada pelo Council of Economic Priorities Accreditation Agency (Órgão Credenciador do Conselho e Prioridades Econômicas – CEPAA), em outubro de 1997, a norma SA 8000 é uma iniciativa coletiva que visa a reunir códigos de conduta cada vez mais fragmentados e oferecer definições claras de termos na área de direitos do trabalhador, incluindo trabalho forçado, saúde e segurança entre outros (MCINTOSH, 2001).
O processo de evolução na SA 8000 teve a contribuição de Organizações Não-Governamentais, como o Conselho de Prioridades Econômicas, empresas e sindicados que estavam elaborando seus critérios para a obtenção de recursos. Isso acarretou o desenvolvimento de critérios para medir o desempenho das empresas em nível mundial.
A SA 8000 constitui um código de responsabilidade social perante terceiros que pode ser aplicado internacionalmente a todos os setores comerciais para se avaliar se empresas ou outras organizações estão cumprindo as normas básicas de práticas de trabalho e direitos humanos e, por fim, a uma gama mais ampla de questões. Como posição inicial de auditoria, a SA 8000 se preocupa apenas com as questões essenciais de direitos humanos e as questões associadas à saúde e à segurança e oportunidades iguais (MCINTOSH, 2001).
A SA 8000, entre outros aspectos, verifica as condições de trabalho em toda a cadeia produtiva. Esse certificado abriu caminhos para o surgimento de políticas de Responsabilidade Social Corporativa nas empresas, obrigando-as ao empenho de envolverem seus stakeholders e manterem relacionamentos produtivos de longo prazo.
Vinha (2003) ressalta que hoje agregam a esses stakeholders as vítimas, reais potenciais, da poluição ambiental. Com base nesse princípio, Vinha explica que o principal desafio das organizações é aprender a lidar com os anseios e as expectativas das populações locais, com a pressão do movimento ambientalista e com o poder de barganha dos órgãos públicos, principalmente quando essas organizações, de pequeno, médio ou grande porte, operam em áreas ambientalmente sensíveis.
Para Oliveira (2004), a norma funciona como um princípio ético balizador das ações e relações da empresa com os públicos com as quais ela interage – funcionários, consumidores, fornecedores e comunidade. Seu principal objetivo é a busca de valor para todos os elos dessa cadeia.
A certificação do sistema de responsabilidade social com base na norma SA 8000 por uma entidade independente, com reconhecimento internacional, dá credibilidade ao trabalho da empresa.
Segundo o Social Accountability Internacional (2009) em dezembro de 2009 havia 2103 empresas com a certificação, envolvendo 63 países, sendo os maiores pais a Itália, seguindo pela Índia, China, Paquistão e em quinto lugar o Brasil.
GRAJEW, Oded. Por um mundo mais seguro, Revista exame, Guia da boa cidadania corporativa, 2001 pg. 20-21.
ANTUNES, Paulo. Cresce a capacidade de compartilhar. Fórum de Líderes, Minas Gerais, n. 6, ano IV, p.1-10. Julho, 2001.
ARNT, Ricardo. Madeira de Lei. Revista Exame. ano 35.Ed.751.17/10/2001.
MCINTOSH, Malcom. et al. Cidadania corporative: estratégias bem sucedidas paraempresas responsáveis. Tradução de Bazan Tecnologia e Lingüística. Rio de Janeiro: Qualitymark Ed, 2001.
VINHA, V. As empresas e o desenvolvimento sustentável: do eco-eficiência àresponsabilidade social corporativa. Rio de Janeiro, Elsevier, 2003.
OLIVEIRA, O. J. (Org.). Gestão da qualidade: tópicos avançados. São Paulo: Thomson Learning, 2004.
www.sai.com
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FONTE : Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 06/12/2012
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