Ilhas Áreas protegidas argentinas se projetam para o mar
Ilhas Malvinas, o arquipélago reclamado por Argentina e Grã-Bretanha. Foto: Divulgação/Internet
Buenos Aires, Argentina, 18/12/2012 – A Argentina está dando passos acelerados na criação de áreas marinhas protegidas. Nos últimos dez anos, este tipo de preservação em águas salgadas se estendeu, e pela primeira vez se somará à rede uma área no Oceano Atlântico. O Congresso aprovou no final de novembro a criação de dois parques costeiros em águas oceânicas na província de Santa Cruz e deu meia sanção ao projeto de criar uma área protegida em torno da meseta submarina identificada como Banco Burdwood.
Esta área, com uma diversidade biológica muito rica e alta vulnerabilidade, está localizada nas Ilhas Malvinas, o arquipélago reclamado por Argentina e Grã-Bretanha, e 150 quilômetros a leste da Ilha dos Estados, que pertence à província de Terra do Fogo. Será a primeira área protegida oceânica dentro da zona econômica exclusiva da Argentina, mas fora da área de influência jurisdicional das províncias, o significa que, devido à estrutura federal do país, ficará sob administração do Estado nacional.
A iniciativa do Banco Burdwood convocou múltiplos atores políticos, cientistas e ambientalistas, que apoiaram a ideia. O projeto foi aprovado quase por unanimidade na Câmara de Deputados e caminha para uma segura confirmação no Senado.
Com esses passos, “nos aproximamos muito do compromisso de proteger 10% dos mares até 2020”, disse à IPS a coordenadora do Programa de Áreas Protegidas da Fundação Vida Silvestre Argentina, Andrea Michelson. A ativista se referia à meta 11 do Plano Estratégico para a Diversidade Biológica 2011-2012, assinado pelos países participantes na décima Conferência das Partes (COP 10) do Convênio sobre a Diversidade Biológica, realizada em 2010 na cidade japonesa de Nagoya.
A meta é que, até 2020, pelo menos 10% das zonas marinhas e costeiras, “especialmente as que apresentam particular importância para a diversidade biológica e os serviços dos ecossistemas, estejam conservados por meio de sistemas de áreas protegidas”. A Administração de Parques Nacionais indica que, neste país, que tinha protegido apenas 0,5% de sua costa marinha em 2003, essa área aumentou em novembro para 1,8%, após a criação dos dois parques de Santa Cruz, e com o Banco Burdwood se poderá chegar a 4%.
Até agora, as áreas protegidas existentes são costeiras. Trata-se dos parques Marinho Costeiro Patagônia Austral, na província de Chubut, Monte León e os recém-criados Isla Pingüino e Makenke, todos em Santa Cruz. Contudo, com a criação da área oceânica, muito mais extensa, se avança rapidamente para alcançar as Metas de Aichi sobre diversidade, pelo nome da província japonesa em cuja capital foi assinado o Protocolo de Nagoya.
“É muito difícil chegar aos 10% sugeridos apenas com áreas costeiras, e não será tão rica e diversa a zona de proteção se não for incorporada parte do oceano”, disse Andrea, que tem grande expectativa na sanção do projeto que protege o Banco Burdwood. Para a Fundação Vida Silvestre e outras organizações ambientalistas, a criação de uma área protegida puramente marinha apresenta um enorme desafio para seu manejo, a cargo de vários órgãos estatais e ministérios, já que se trata de fazer um acompanhamento remoto de um espaço no qual intervêm múltiplos atores.
O projeto pretende dar à nova área de preservação o nome de Namuncurá, em homenagem ao indígena Ceferino, da Patagônia, morto ainda jovem, no começo do século 20, e hoje em processo de canonização. Entretanto, manterá o nome de Burdwood para o acidente geográfico, em cujo entorno se prevê um zoneamento de 34 mil quilômetros quadrados.
O biólogo Santiago Krapovickas, coordenador do Fórum para a Conservação do Mar Patagônio e Áreas de Influência, disse à IPS, se referindo à criação da área oceânica, que “será a primeira vez que se tenta algo assim na Argentina”. E acrescentou que “nós, que trabalhamos em conservação, estamos muito esperançosos com esta novidade, porque se trata de um sítio único no mar argentino, muito singular, pouco explorado, delicado, com espécies que ainda nem foram descritas”.
Em razão deste projeto, o Fórum, que reúne diversas organizações de Argentina, Chile, Uruguai e outras internacionais, está recopilando informação científica sobre a área para divulgar a riqueza que guardam essas profundezas marinhas. Na área em questão, há esponjas, crustáceos, tubarões, merluzas de cauda, austral e negra, pinguins de penacho amarelo e de frente dourada, variedades de albatrozes e petreles, golfinhos austrais, elefantes e lobos-marinhos, entre outras espécies.
Krapovickas explicou que a meseta submarina é rodeada por uma corrente marinha fria que vem das Ilhas Malvinas e, ao se encontrar com este obstáculo, movimenta o fundo, que é muito rico em nutrientes, gerando uma área ideal para a reprodução. Também destacou que, por ser um fundo marinho relativamente pouco profundo sobre a meseta – entre 100 e 200 metros – recebe luz solar, um fenômeno que permite o desenvolvimento do fitoplâncton, que está na base da cadeia alimentar.
O biólogo explicou que atualmente o banco não está ameaçado. Não é uma área tão apreciada para pesca, porque há outras de acesso mais fácil e porque agora os preços internacionais não justificam o esforço de captura. E acrescentou que tampouco se vê risco de exploração de hidrocarbonos, pelo menos no momento, apesar de estar perto das Malvinas, em disputa de soberania com a Grã-Bretanha, que as ocupa desde o século 20, e em torno das quais há projetos de prospecção.
Krapovickas, de todo modo, acredita que é “um bom momento” para delimitar ali uma área de proteção e paz. “É importante para a pesquisa científica, que é uma atividade pacífica e para benefício da humanidade”, enfatizou. Sobre o acompanhamento, acredita que as novas tecnologias permitirão um controle e até um programa de pesquisa realizado à distância.
“Não é preciso dispor o tempo todo de embarcações ou helicópteros, pois temos satélites, inclusive um argentino, o SAC-D Aquarius, com sensores remotos projetados especialmente para obter dados marinhos”, ressaltou. Por essa razão, a partir de agora deve-se incentivar a comunidade científica a se preparar para baixar esta informação e ter acesso a conhecimentos que permitam a melhor preservação dessa afastada área oceânica.

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FONTE :  Envolverde/IPS