Durban, África do Sul, 14/12/21012 – Quando o criador da Organização Mundial da Privada, Jack Sim, completou 40 anos, literalmente começou a calcular quanto dias mais teria de vida, e se deu conta de que deveria fazer algo significativo. “Pode imaginar uma pessoa chegar a este mundo e passar a sua vida apenas ajudando a si mesma? Quando essa pessoa morrer, sua vida não terá significado, então, para que se preocupar em vir aqui?”, pensou.
Empresário de sucesso, Sim voltou sua atenção para um campo que para ele estava sendo marginalizado. A questão do acesso a vasos sanitários “estava totalmente abandonada em Singapura (seu país de origem). Me dei conta de que o mesmo ocorria no resto do mundo”, disse em entrevista à IPS. “As pessoas se sentiam muito envergonhadas. Agora quebramos o tabu e legitimamos o tema durante esses 12 anos de defesa efetiva. Estou orgulhoso de dizer que quebramos o tabu que cerca o tema do saneamento”, ressaltou.
IPS: Por que o saneamento é tão importante?
JACK SIM: Para um país crescer é necessário ter gente sadia. É melhor prevenir que as pessoas fiquem doentes do que curá-las. As privadas são a medicina mais barata do mundo. Um adequado saneamento, somado à lavagem das mãos com sabão, reduz as enfermidades entre 50% e 80%. Muitos males, como diarreia e os parasitas, se devem basicamente à propagação de patogênicos por meio das fezes e de vias de transmissão como os dedos, os pés, as moscas e os fluidos. É preciso romper isso. As pessoas podem ser saudáveis. São necessárias privadas cobertas para que as moscas não tenham acesso, que as pessoas não pisem, que a chuva não encha e espalhe seu conteúdo, bem como lugares para lavar as mãos. Para conseguir isto precisamos de educação, explicar porque as privadas são boas, torná-las uma tendência em lugar de uma receita. Os sanitários também precisam de donos. Se não houver um dono ficarão inservíveis muito rapidamente. Se alguém compra uma privada, sente que é seu dono. É preciso cultivar o sentimento de propriedade. As pessoas devem ser capacitadas para se encarregar de sua limpeza e segurança. Sem privadas, as pessoas são menos saudáveis e menos felizes, e, como resultado, há produtividade muita baixa e baixa renda. Então, é necessário incorrer em gastos para tratar as doenças, e isto pode afetar a subsistência, criando um círculo de pobreza que, por sua vez, se converte em um problema político. O bom saneamento pode prevenir todas estas bombas de tempo.
IPS: Quais progressos aconteceram no continente africano em termos de saneamento?
JS: A boa notícia é que a África atualmente experimenta um dos períodos mais pacíficos de sua história recente. Graças a isto, há crescimento econômico médio mais rápido do que o asiático. Quando as pessoas têm um pouco mais de dinheiro, têm mais expectativas. Então, é fácil que aumente a demanda por vasos sanitários. No continente africano houve alguns progressos em termos de um enfoque de saneamento total nas comunidades, que impulsiona as pessoas a cavarem seus próprios buracos e terem suas próprias latrinas rudimentares. Com este enfoque, as pessoas se dão conta da necessidade de ter um vaso sanitário adequado. Começam fazendo um buraco e indo a um lugar fixo para defecar. Isto já representa uma grande mudança de comportamento. Logo, se tornam disciplinadas, sentem a necessidade de privacidade e de proteger seus vizinhos. Então, a primeira etapa é simplesmente ir a algum lugar fixo e cobrir o buraco. É muito rudimentar, mas é melhor do que fazer ao ar livre, onde as mulheres podem ser molestadas. Na fase seguinte, estimula-se as pessoas a comprarem privadas, que custam entre US$ 50 e US$ 100.
IPS: O quanto é alta essa demanda atualmente na África?
LS: O que precisamos é conseguir colocar os vasos sanitários em um nível mais alto na escala de prioridades das pessoas, tão alto quanto o telefone celular. Para a maior parte dos habitantes do continente, a prioridade tem sido televisão e em seguida o celular, mas não a privada. Precisamos que seja moda ser dono de um vaso sanitário, passando a mensagem de que não possuir um é viver em um estado animal. As pessoas não querem ser classificadas como animais.
IPS: O quanto é fácil para uma pessoa o acesso a um vaso sanitário?
JS: Temos que facilitar o acesso, seja ele comprado ou fornecido pelo governo. Necessitamos saneamento seguro, bem como encarregados de limpeza e manutenção dos vasos, que sejam profissionalmente capacitados. E também temos que educar a comunidade para cuidar de suas latrinas, de modo que possa continuar usando-as. Em outras palavras, o esforço exige uma combinação de pessoas, do governo e do setor privado.
IPS: O que ocorre na África do Sul? Houve avanços?
JS: Alguns. Mas o crescimento dos assentamentos irregulares gera muitas dificuldades, não só em termos de fornecimento de latrinas, como também quanto a onde instalá-las. Não se pode estabelecer uma estrutura permanente em terra ilegal. Contudo, as pessoas precisam de privadas. É necessário algum tipo de reforma das leis, que permita instalar vasos sanitários permanentes nesses assentamentos. O governo tampouco é suficientemente rápido em termos de fornecimento, mas creio que está interessado em acelerar o tema, porque sabe que não pode ter uma nação com doentes.
IPS: Como a Organização Mundial da Privada colabora com o saneamento na África?
LS: Nos associamos à Unilever para lançar uma academia. Iremos às escolas para estimular os alunos a começarem a usar os vasos sanitários. Quando utilizam na escola, promovem seu uso em suas casas. A oferta de vasos sanitários na África não cobre a demanda. Esta academia capacitará as pessoas para que construam privadas em pequenas fábricas, convertendo-as, assim, em empresárias que fazem produtos acessíveis, com algum lucro, vendendo em sua própria comunidade. Desta forma, o saneamento vai além da saúde e da higiene. Quando uma mulher conta com renda, tem mais poder no lar, pode usar o dinheiro sabiamente para a família e tem mais autoridade quando fala com sua sogra ou com seu sogro. Assim, estamos criando igualdade de gênero e sustentabilidade. Fizemos isso muito bem no Camboja. Em três anos, foram fabricados 24 mil vasos sanitários, gerando US$ 48 mil para os agentes de vendas. Ansiamos ver o dia em que todas as pessoas de todos os lugares tenham acesso a um vaso sanitário limpo e seguro ao qual possam recorrer sempre que precisarem.
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FONTE : Envolverde/IPS
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