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sábado, 19 de junho de 2010

Um oásis em terra degradada

Em Santiago del Estero, uma das províncias argentinas mais afetadas pelo desmatamento e pela desertificação, foi criado um oásis de espécies nativas para recuperar o solo e atrair novamente produtores que haviam emigrado. “Não é fácil, é muito caro e demora, mas é possível recuperar terras degradadas”, assegura à IPS Sonia Ramírez, coordenadora do projeto de reflorestamento em Colonia El Simbolar.

Nessa localidade, que fica 1.150 quilômetros a noroeste de Buenos Aires, foi erguido um viveiro da espécie nativa jatobá branco (Prosopis alba) e foram plantados quase 1.900 hectares de árvores que já estão com cerca de dois metros. O objetivo era chegar a três mil, mas os promotores do programa reduziram suas expectativas para dois mil hectares. Ou seja, já estão perto da nova meta e a cobertura do solo mostra avançados sinais de recuperação.

Deste programa participa uma centena de produtores que haviam abandonado os lotes onde alguma vez cultivaram algodão, soja, frutas e hortaliças. “Deles, 80% são pequenos produtores com problemas de subsistência”, explicou Ramírez. A coordenadora afirmou que, além de produzir as mudas, é preciso prepara o solo, plantar e manter os cultivos. Até agora, o que se observa é “uma excelente recuperação” na matéria orgânica da maior parte dos solos trabalhados.

Dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) indicam que a Argentina, com 75% de sua superfície árida, semiárida e sub-úmida seca, é o país mais afetado na região pela degradação causada principalmente pelo avanço da fronteira agropecuária sobre a floresta. Em Santiago del Estero, o coração da região norte do país, a expansão da monocultura aconteceu em detrimento da cobertura vegetal. Atualmente, restam 5,6 milhões de hectares de florestas dos 6,6 milhões que havia em 1992, segundo informes oficiais.

Assim, uma das províncias com mais florestas do país deixou desnudo um solo vulnerável, desertificado, que obrigou milhares de camponeses e pequenos produtores a emigrar, mesmo à custa de abandonar terras que lhes pertenciam. Na Colonia El Simbolar em 2006 começou a preparação do projeto “Reflorestamento para Combater a Desertificação, Mitigar a Mudança Climática e Proteger a Biodiversidade – Grupos Ambientais Juvenis”.

A meta é combater a desertificação, mitigar a mudança climática mediante a captura de dióxido de carbono no solo e na massa florestal, e proteger a biodiversidade ecológica, utilizando espécies nativas para reflorestar. A proposta inclui melhorar as condições de vida das comunidades locais e mostrar a sinergia entre as principais convenções das Nações Unidas sobre meio ambiente: de mudança climática, desertificação e biodiversidade.

Um membro da secretaria da Convenção da Luta contra a Desertificação, da Organização das Nações Unidas, disse à IPS que o plano é único na região na tentativa de recuperar terras degradadas e poderia servir com protótipo para outros casos de grave desertificação na América Latina e no mundo. A iniciativa tem apoio financeiro e técnico do governo da Itália, da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Argentina, autoridades provinciais, da italiana Universidade La Tuscia e da Universidade Católica de Santiago del Estero.

Os executores são o Grupo Ambiental para o Desenvolvimento, uma organização não governamental com sede em Santiago del Estero onde trabalha Ramírez, e a Fundação do Sul, em Buenos Aires. Os que levam adiante os trabalhos do viveiro, que fazem cursos de capacitação sobre melhores práticas de manejo destes solos frágeis, e os que plantam, são moradores locais, alguns deles donos de pequenas parcelas de deserto.

Juan Luis Mérega, diretor da Fundação do Sul, explicou à IPS que Santiago del Estero foi escolhida “porque é uma área muito castigada pelo desmatamento, que aumentou dramaticamente nos últimos anos pela expansão da soja”. Essa leguminosa é o principal cultivo de exportação. Devido ao desenvolvimento de uma semente geneticamente modificada, que a torna mais apta para resistir a herbicidas, mais da metade da superfície plantada do país é de soja.

Em terras férteis e úmidas, como as de Pampa úmido, no centro-oeste do país, o cultivo é apto, mas em zonas áridas protegidas pela floresta nativa, embora se desenvolva bem, a deterioração que causa no solo é quase irreversível. “Os médios e grandes produtores que participam deste projeto cederam lotes marginais e seguem com suas explorações agropecuárias, e os pequenos vivem de subsídios do Estado”, explicou Mérega.

Para ele, a deterioração do solo “não é fácil de reverter. A degradação se detecta à simples vista porque a terra está branca pelo sal (da água de irrigação), que tira sua fertilidade. E, ao mesmo tempo, é notável como se prendem as árvores’, acrescentou. O projeto é candidato a ingressar no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, uma ferramenta prevista no Protocolo de Kyoto para mitigar a mudança climática mediante a venda de créditos de carbono, segundo informou Mérega.

Os promotores do programa acreditam que o projeto permitirá a captura de 324 mil toneladas de carbono ao longo de 20 anos de desenvolvimento do plantio. Apesar disso, os produtores poderiam se beneficiar antes com a venda de madeira. “Aos sete anos (que serão completados em 2013) já é preciso deixar a área mais rala e aí está a possibilidade de vender o que for retirado”, acrescentou.
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FONTE : Marcela Valente, da IPS (IPS/Envolverde)

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