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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Planeta contaminado pela sociedade de consumo

O crescimento da riqueza mundial não faz prever nada bom para a saúde do planeta, afirma o primeiro estudo exaustivo sobre o consumo mundial, divulgado na semana passada. Os maiores assassinos do planeta são o uso do combustível fóssil e a agricultura, segundo a pesquisa “Impactos ambientais do consumo e da produção: produtos e materiais prioritários”, divulgado pela Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia (UE), com sede em Bruxelas.

O estudo, patrocinado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) se concentrou em identificar os pontos conflitantes em termos de impacto ambiental para que políticos e governantes adequem suas políticas segundo essa informação. O irônico é que são dois dos setores mais subsidiados, afirmou Ernst von Weizsaecker, da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega e um dos presidentes do Grupo Internacional de Gestão Sustentável de Recursos.

Isso se soma à enorme quantidade de provas sobre a necessidade de transformar de forma urgente o motor do crescimento econômico para que seja mais verde e que o uso dos recursos seja mais eficiente, concluiu o Grupo Internacional. “A duplicação da riqueza costuma aumentar a pressão sobre o meio ambiente entre 60% e 80% no tocante ao dióxido de carbono, e às vezes mais nas economias emergentes”, disse Weizsaecker.

A prosperidade crescente também mudou a dieta, agora baseada em um consumo maior de carne e produtos lácteos. O gado acaba com a maior parte dos cultivos do mundo e, indiretamente, com 70% da água potável. Além disso, é responsável pela maior parte da contaminação pelo uso de fertilizantes, disse o especialista desde Bruxelas. “É claro que uma dieta à base de carne exige mais terra e fertilizantes e emite muito mais dióxido de carbono do que uma dieta vegetariana”, acrescentou Weizsaecker.

Países ricos como Estados Unidos, Japão e os da União Europeia “exportam” grande parte, ou a maioria, dos danos ambientais para as nações em desenvolvimento quando importam alimentos e outros produtos, diz o estudo. O aumento das emissões de dióxido de carbono da China e o desmatamento da Malásia são, em parte consequência direta de sua maior produção, consumida na América do Norte e Europa. “O comércio internacional mostra claramente que os países ricos reassentam seu impacto” sobre a natureza, acrescentou Weizsaecker.

Diante desse cenário, “talvez, a atual forma de estruturar os acordos sobre redução das emissões seja obsoleta”, afirmou Ashok Khosla, presidente do Grupo Internacional e da União Internacional para a Conservação da Natureza. No âmbito doméstico, os produtos e serviços são os responsáveis pelo maior impacto ambiental, e não os automóveis, apesar da maior eficiência dos materiais e melhor uso da energia nas últimas décadas. A eficiência é maior quando se mede o gasto por dólar, mas as pessoas consomem mais, o que impede toda melhoria, disse Sangwon Suh, da Universidade da Califórnia, também especialista do Grupo Internacional. “Os políticos não podem levar em conta apenas as emissões diretas, devem estudar o ciclo de vida total do consumo e incorporar seu impacto em seus processos de decisão”, afirmou Suh à IPS.

O Grupo Internacional sintetizou uma biblioteca com os estudos mais sérios do mundo para fornecer analises científicas de produtos, materiais, atividades econômicas e estilos de vida que mais danos causam ao planeta. “É a primeira análise sobre quais atividades de consumo têm maior impacto” ambiental, disse Suh. O uso de combustível fóssil e a agricultura estão entre as principais atividades mais contaminantes, seguidas da pesca industrial, também muito subsidiada, e a produção e o consumo de metais e plásticos, entre outros, segundo o documento de 149 páginas. Estas duas últimas atividades causam um grande dano em escala local, mas não tanto em comparação com as consequências das duas primeiras, acrescenta.

“Fixar prioridades parece prudente para acelerar uma economia verde que faça um uso mais eficiente dos recursos e libere menos dióxido de carbono” na atmosfera, disse Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma. Governantes e economistas terão de abandonar sua obsessão com o crescimento econômico como solução para todos os problemas, escreveu o autor australiano Clive Hamilton em “Réquiem para as Espécies”. O crescimento se tornou um poderoso símbolo de êxito e modernidade, mas não o é, insistiu o pesquisador da Universidade Nacional Australiana.

É necessária uma enorme vontade política para acabar com a sociedade de consumo, na qual meninos e meninas são bombardeados por publicidades que custam cerca de US$ 17 bilhões ao ano apenas nos Estados Unidos, afirmou Hamilton. Sair às compras ocupa grande parte do tempo livre das classes média e alta da China, que consumiram em 2005 mais de 12% dos produtos de luxo do mundo. É o primeiro país atrás dos Estados Unidos na matéria.
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FONTE : Stephen Leahy, da IPS (IPS/Envolverde)

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