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quarta-feira, 2 de junho de 2010

A cadeia alimentar no Golfo do México corre perigo

Cientistas e ambientalistas estão preocupados com as consequências de longo prazo sobre a vida silvestre do vazamento de petróleo que acontece há mais de um mês no Golfo do México. Não há sinais de que seja possível controlar no curto prazo. A corrente marítima está depositando animais na costa do Estado norte-americano da Geórgia. Foram encontradas aves mortas em piscinas de petróleo e dispersantes, que inundaram seus hábitats pantanosos.

Várias espécies de animais do Golfo do México estão em risco de extinção, como as tartarugas oliva e de couro, a baleia cachalote, algumas aves como o batuíra melodiosa, e o esturjão, segundo o Centro Biológico da Diversidade (CBD). Em razão do desastre, a organização pediu à Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos que acrescentasse o atum azul.

“Há centenas de aves e mamíferos marinhos que são muito sensíveis ao petróleo”, disse o professor Michael Blum, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Tulane. “Espécies inteiras podem desaparecer. O pelicano pardo acaba de ser retirado da lista de animais em perigo. Se começarem a morrer em grande quantidade, podem voltar à situação anterior”, acrescentou. “Muitas espécies que causam grande preocupação, como as tartarugas e os golfinhos, se reproduzem, se alimentam ou atravessam esta região em sua rota migratória”, explicou.

Não existem golfinhos que passem apenas pelo Golfo do México, mas serão tão poucos os que não serão afetados pelo vazamento que possivelmente o ritmo de reprodução não será suficiente para impedir sua extinção, acrescentou. Ainda não se conhece o impacto que terá o vazamento e o uso sem precedentes de dispersantes tóxicos sobre as espécies silvestres, reconheceu a EPA. “Estamos profundamente preocupados pelas coisas que desconhecemos, como o efeito no longo prazo sobre a vida aquática”, disse em entrevista coletiva esta semana a secretária da EPA, Lisa Jackson.

É preciso realizar autópsias rigorosas para determinar se os animais morrem devido ao vazamento ou por alguma outra razão, disse a Agência. Amostras do solo e do ar não apresentam níveis perigosos de contaminação no momento. “Dizem que não está claro, e é bom dizer isso”, afirmou Blum.

“Como cientista, é preciso não ser ambicioso nem tirar conclusões erradas. No entanto, sendo realista, vendo de perto o que ocorre e compreendendo o ecossistema, sentimos os efeitos imediatos da exposição ao petróleo", ressaltou. “Certamente, quando o petróleo chega à costa, as consequências são vistas de forma imediata. Os peixes não podem respirar porque têm as guelras tapadas. Com o caranguejo acontece o mesmo. As plantas sufocam e têm dificuldades para realizar a fotossíntese”, explicou Blum.

“O petróleo se acumula nos pântanos em quantidades importantes”, afirmou Jackson, que visitou a área do desastre duas vezes. A maré negra que chega até a costa é um verdadeiro grude, segundo a especialista. “Coletamos amostra desse material. Há muita especulação sobre sua composição, buscamos dispersantes químicos e qualquer outra coisa que possam ter. A BP nos impôs um dos maiores desafios ambientais de nossos tempos”, acrescentou Jackson.

No dia 20 de abril, explodiu uma torre de perfuração da British Petroleum (BP), provocando o maior vazamento de petróleo na história da região, afirmaram especialistas. As costas do Golfo do México e os pântanos são locais de reprodução de muitos animais. Os camarões pequenos amadurecem ali e depois migram para o oceano, onde se convertem e alimento de peixes. Toda a cadeia alimentar será afetada se em três ou quatro anos não houver adultos para emigrar. “As consequências são cumulativas. Existe um impacto imediato no sistema, mas a mortalidade é relativamente pequena em comparação com os efeitos futuros. A situação não está tão ruim quanto poderá ficar”, afirmou Blum.

Os projetos de perfuração apresentados por companhias como a BP ao governo dos Estados Unidos mostram atitude displicente em relação ao risco previsível de sua iniciativa para a fauna do Golfo do México, lamentam organizações não governamentais. “Um dos projetos de exploração que li dizia que em caso de vazamento a vida silvestre poderia navegar ao redor”, disse Miyoko Sakashita, diretor de oceanos da CBD. “O peso recai sobre a fauna”, disse. “Alguns animais têm um sentido mais refinado e permanecem à margem. Mas há estudos feitos em tartarugas indicando que vão direto para a mancha”, explicou Sakashita.

A dimensão do vazamento no Golfo do México dependerá de muitos fatores, afirmam os cientistas. Ao que parece, continuará vazando petróleo até agosto, mas não se sabe se o volume continuará sendo o mesmo ou se aumentará. Também dependerá de a BP e o governo dos Estados Unidos conseguirem manter a mancha longe da costa por meio de barreiras ou tanques que aspirem a água com petróleo, façam a separação e a devolvam limpa ao oceano. É mais fácil separar a água oceânica do petróleo do que a dos pântanos, que, segundo Blum são como esponjas. Na temporada de furacões, que aparentemente será ativa, a mancha poderá ser empurrada para a costa, o que só vai piorar a situação dos pântanos.
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FONTE : Este artigo é parte de uma série de reportagens sobre biodiversidade produzida por IPS, CGIAR/Bioversity International, IFEJ e Pnuma/CB, membros da Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (IPS/Envolverde).

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