“Para que a humanidade possa resolver seus dilemas em relação aos atuais modelos de produção, consumo e desenvolvimento, é preciso antes reconhecer que existem dilemas”, diz o autor.
Mundo em Transe – do Aquecimento Global ao Ecodesenvolvimento, o mais recente livro do economista José Eli da Veiga, foi lançado esta semana na Livraria Cultura, em São Paulo, com um debate entre o autor e os também economistas Ricardo Abramovay e Ladislau Dowbor, mediado pelo diretor-executivo do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi.
Para o autor, um dos mais importantes desafios da transição para uma economia de baixo carbono é que grande parte dos economistas sequer reconhece que há um dilema econômico a ser enfrentado. “A macroeconomia é construída sobre o crescimento permanente do consumo”, explica. No entanto, ele acredita que é preciso progredir para um estágio no qual melhorar o consumo é mais importante do que simplesmente crescer.
José Eli explica que algumas das sociedades mais avançadas já não estão baseadas no crescimento, e sim em oferecer cada vez mais qualidade para as pessoas. No entanto, esta não é uma realidade universal. Muitos países sequer atingiram um patamar digno de consumo e precisam avançar muito para garantir a sobrevivência da população. Da plateia, outro economista não menos famoso, Ignacy Sachs, argumentou que é preciso retomar conceitos históricos de repartição de renda como forma de oferecer qualidade de vida para o planeta como um todo. Uma conta rápida feita por Ladislau Dowbor mostra que a divisão do PIB mundial pela população representaria uma renda mensal de R$ 6.000.
Mas a questão de distribuição de renda não tem avançado muito nos últimos 80 anos. Ricardo Abramovay conta que os níveis de distribuição de renda nos Estados Unidos hoje são os mesmos encontrados em 1929, pouco antes do grande crash da Bolsa de Nova York. Abramovay explica que há alguns modelos que precisam ser mais bem compreendidos. Um deles é a crença de que a tecnologia, que faz com que se produza mais com menor consumo de energia e de matérias-primas, é uma solução final. “Isso realmente acontece, mas o crescimento dos volumes de produção fazem com que os ganhos em produtividade sejam imediatamente compensados por uma forte pressão de demanda”, explica. Isso porque a maioria da população mundial ainda não tem acesso a bens de consumo. Quando países como Índia e China elevam o poder de compra de suas sociedades os impactos ambientais se ampliam.
O debate trouxe de volta à cena a necessidade de se retomar as discussões em relação à política de distribuição de renda. E também de que é preciso redefinir o que é uma crise. Ladislau Dowbor lembra que mais de 10 milhões de crianças morrem todos os anos em razão de desnutrição e pela falta de atendimento básico de saúde, assim como milhões de pessoas não têm acesso aos níveis diários mínimos de calorias indicados pela ONU. “O avanço do neoliberalismo nos anos 1990 desarticulou as instâncias de planejamento e de políticas públicas na maioria dos países”, explica Dowbor.
O caminho para uma economia de baixo carbono passa, também, por uma maior valorização de modelos de desenvolvimento local. O livro de José Eli mostra que a opção por uma economia de baixo carbono deve ser feita de forma planejada. Ele cita como exemplo a Dinamarca, que no início dos anos 1970 tinha uma dependência de 99% de energia fóssil importada do Oriente Médio. Hoje essa dependência não existe mais, e mesmo assim a economia do país cresceu mais de 80% desde então.
SERVIÇO
Título: Mundo em Transe – do Aquecimento Global ao Ecodesenvolvimento;
128 págs.; R$ 19,00;
Autor: José Eli da Veiga;
Editora: Autores Associados;
Catálogo on-line: www.autoresassociados.com.br.
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FONTE : Benjamin S. Gonçalves (Instituto Ethos)(Envolverde/Instituto Ethos)
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