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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Biodiversidade: Crianças em defesa dos gorilas, no Congo
“Por que matam os gorilas ou os prendem e os enjaulam? Um dia, se for presidente, prenderei todos os que matam gorilas, chimpanzés e os chimpanzés pigmeus”, afirma Judicaëlle, uma estudante de 11 anos de um curso sobre proteção dos grandes símios, em risco de extinção no Congo. Judicaëlle, aluna da Escola Espírito Santo de Moungali, faz parte da centena de estudantes que assistiram o curso em Brazzaville. Em grupo de cinco, aprendem a proteger os gorilas e outros grandes símios como os chimpanzés e os chamados chimpanzés pigmeus.
Laetitia, de 10 anos, recitou o que aprendeu: “É proibido matar, comer, vender, transportar ou possuir um gorila”, cuja posse no Congo é punida com cinco anos de prisão e multa de US$ 10 mil. O curso é dado por organizações não-governamentais deste país da África central que abriga uma população importante de gorilas e chimpanzés. O terceiro dos grandes símios, os chimpanzés pigmeus, habita apenas as montanhas orientais da vizinha República Democrática do Congo.
“Ensinamos estas coisas às crianças porque amanhã elas estarão encarregadas da humanidade. Devem ser conscientes destas questões agora”, afirmou Virgile Safoula, um dos diretores do curso e secretário-executivo de Desenvolvimento Ambiental de Iniciativas Comunitárias, uma organizações ecológica da capital do Congo. “Devemos começar pela raiz, não podemos permitir que os pais imponham aos seus filhos uma ideia diferente, de aceitação da captura e do consumo dos gorilas, além disso, as crianças que mostram um grande interesse”, diz Laurent Loufoua, outro diretor do curso e integrante da Associação pela proteção dos Primatas no Congo.
Em cada parte da sala de aula há fotos de gorilas e cartazes desestimulando as ações que agridem estes animais. As crianças ouvem historias sobre a floresta, com fantoches em forma de rãs e tigres que lhes contam do sofrimento que padecem os gorilas. No final, é perguntado sobre o que viram e ouviram. “Aqui há uma criança ameaçada por um gorila. Isto significa que o gorila não é um mascote, um animal doméstico”, disse Safoula, outra aluna, diante do retrado de um dos símios em ameaça de extinção.
Neste país fica um décimo da selva tropical da bacia do Congo. Trata-se da segunda área florestal do mundo em tamanho, após a Amazônia, e é o habitat natural dos gorilas e chimpanzés. Mas os caçadores ilegais e as comunidades que vivem próximas das áreas protegidas massacram estes primatas, denunciam as ONGs e os guardas florestais. Para acabar com esta prática, o governo promulgou em novembro de 2008 uma lei que regula a vida silvestre e as zonas protegidas. “Se as pessoas cometem essas infrações é porque não conhecem a lei. Através de um programa especial, teremos de sensibilizar a população sobre a legislação. Passo a passo, chegaremos ao ponto de quase não matarem os gorilas”, disse Safoula.
Ao mesmo tempo, o Congo desenvolve um projeto de reintrodução dos gorilas na reserva de Lésio-Loun a, 170 quilômetros ao norte de Brazzaville. O refugio de 170 mil hectares abriga cem desses animais. Inaugurado em 1994, é parte do Projeto de Proteção dos Gorilas, financiado pela Fundação John Aspinal (da Grã-Bretanha). Alguns dos gorilas foram resgatados de caçadores ilegais. Muitos foram salvos quando ainda eram muito pequenos, por isso não conseguiram sobreviver à liberdade. “Um terço do total, cerca de 60, conseguiram sobreviver depois de reintroduzidos na natureza”, disse Luc Mathot, coordenador desse projeto.
A Fundação John Aspinall desenvolve desde 1990 um projeto semelhante no vizinho Gabão. Calcula-se que os dois países tinham uma população conjunta de cem mil gorilas nas planícies ocidentais, antes do surgimento do vírus Ébola, mortífero para todos os primatas. Atualmente, esta população é muito inferior, acrescentou Mathot, sem conseguir dar um número exato.
Para Roch Euloge N’zobo, do Observatório Congolense dos Direitos Humanos, a proteção dos gorilas deve seguir de mãos dadas com a proteção dos direitos das pessoas. “Frequentemente, os conservacionistas se esquecem de que nos confins das reservas florestais vivem seres humanos. São expulsos, proibidos de tocar os animais para ganhar a vida. É preciso levar em conta as necessidades das pessoas”, ressaltou.
Jacques Ibara, da organização Proteção do Meio Ambiente, considera que os gorilas estão em vias de extinção não apenas pela caça, mas também pela exploração florestal. “A destruição das florestas também é um fator de destruição do habitat dos gorilas. Já não podem se reproduzir porque são obrigados a passar todo seu tempo fugindo”, explicou.
Porém, o diretor Loufoua destacou que “a sobrevivência dos gorilas no território demonstra que a lição está sendo aprendida, não apenas pelas crianças, mas também por seus pais que vivem perto das reservas florestais”. E acrescentou que “não faz muito tempo era comum encontrar gorilas bebês nas ruas das cidades, mas agora todos temem fazer isso. O governo adotou medidas enérgicas a respeito”, explicou. As autoridades colocaram cartazes em aeroportos, estações ferroviárias, rodovias, escolas e mercados anunciando cinco anos de prisão e multa de US$ 10 mil para que for pego com um gorila.
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FONTE : Arsène Séverin, IPS - este artigo é parte integrante de uma série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (www.complusalliance.org).
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