Cientistas da Califórnia, em um trabalho publicado na revista Nature, estimam que para continuar em sua zona de conforto os ecossistemas terão que se deslocar quase meio quilômetro ao ano para seguir as transformações do clima.
Muitos ecossistemas, incluindo as espécies neles contidas, já apresentam sinais de deslocamento para se adaptar às mudanças climáticas. Mas o quão rápido eles terão que migrar para se manter dentro da sua faixa de conforto, com regimes de chuvas e temperaturas ideais?
Um grupo de cientistas da Academia de Ciências da Califórnia, com o apoio do Instituto de Ciências de Carnegie, Climate Central e da Universidade de Berkeley, tentou responder essa questão e calculou que, em média, seria necessário um deslocamento de 0,42 quilômetros por ano.
O trabalho foi publicado na revista Nature em dezembro e alerta que alguns ecossistemas de planície, como manguezais e desertos, terão que se mover mais de um quilômetro por ano.
A equipe calculou a velocidade das mudanças climáticas globais ao combinar dados atuais sobre o clima e o regime de temperaturas com as mais diversas projeções de modelos climáticos para o próximo século. O grupo se baseou em um nível intermediário de emissões de gases do efeito estufa (o cenário A1B de emissões do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas).
Sob essas condições, a velocidade das mudanças climáticas é projetada para ser mais devagar em florestas coníferas tropicais e subtropicais (0,08 quilômetros ao ano) e em pradarias (0,11 quilômetros ao ano). Já em áreas de planícies ao nível do mar a velocidade será bem mais acentuada: manguezais teriam que se deslocar 0,95 quilômetros por ano e savanas até 1,26 quilômetros por ano.
Conservação
A vulnerabilidade desses biomas não depende apenas da velocidade das mudanças que eles irão experimentar, mas também do tamanho das áreas de proteção nas quais eles se encontram.
Por exemplo, enquanto a transformação do clima nas áreas de desertos é esperada para acontecer velozmente, esta ameaça é minimizada pelo fato de que as áreas desérticas protegidas tendem a ser muito grandes. Por outro lado, o pequeno tamanho e a fragmentação das áreas de conservação para as florestas temperadas no Mediterrâneo e para as florestas boreais, fazem esses habitats serem bastante vulneráveis.
“Um dos principais benefícios deste trabalho é permitir analisar como a atual rede de áreas de conservação será capaz de preservar realmente os ecossistemas”, afirmou Healy Hamilton, diretora do Center for Applied Biodiversity Informatics da Academia de Ciências da Califórnia.
Com relação aos seres vivos, os pesquisadores dizem que o estudo aborda a transformação do clima nos ecossistemas, mas não diretamente em cada espécie. Porém, alertam que os animas, e principalmente as plantas, que não apresentarem uma grande capacidade de adaptação correm sérios riscos. Quase um terço dos habitats estudados terão uma velocidade de deslocamento superior a mais otimista projeção de migração de plantas, por exemplo.
Além disso, os habitats estão muito fragmentados pela ação humana, o que pode resultar que muitas espécies simplesmente não terão para onde ir.
“Se analisarmos o tempo que irá levar para as mudanças climáticas atravessarem toda uma área de proteção, alterando assim o clima ideal para o ecossistema em questão, veremos que apenas 8% das atuais zonas de conservação terão uma sobrevida de pelo menos 100 anos. Se quisermos melhorar essa situação, precisaremos reduzir nossas emissões e trabalhar rapidamente para expandir e interconectar as áreas protegidas”, concluiu Hamilton.
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FONTE : Fabiano Ávila, da Carbono Brasil (Envolverde/CarbonoBrasil)
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