Sem o aumento da conta, a companhia não terá recursos para as obras emergenciais necessárias, afirma Jerson Kelman, o presidente da estatal
O presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Jerson Kelman, afirmou nesta quarta-feira 25 que, com o cenário atual, as possibilidades de rodízio de água na Grande São Paulo são “um evento de baixa probabilidade”. Segundo ele, o risco está praticamente afastado devido ao estoque de água atual e ao cronograma de obras emergenciais.
Kelman refere-se ao rodízio formal. Hoje os consumidores atendidos pelo Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de 6 milhões de pessoas na região metropolitana, enfrentam há meses um racionamento com a redução da pressão, interrompendo o abastecimento em parte do dia.
E, para garantir os recursos para as obras, a conta de água deve ficar mais cara para a população. “Por conta da falta de água, estamos vendendo muito menos água do que a população deseja consumir. Isso (a queda do lucro em função do baixo consumo) dificulta a condição da Sabesp de fazer obras emergenciais para enfrentar o período seco”, explica Kelman. A previsão é de que o aumento tarifário seja autorizado após uma reunião com a diretoria da companhia em abril.
Apesar das chuvas de fevereiro terem aumentado os reservatórios, a Sabesp depende de muitas variáveis para descartar a possibilidade de rodízio. Caso o cronograma de obras atrase ou o consumo da população aumente, por exemplo, um plano mais agressivo de contingenciamento deverá ser implantado. “O que posso garantir é que, se houver rodízio, a população será avisada com duas ou três semanas de antecedência”, garantiu o presidente da companhia.
Ao mesmo tempo, o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, reafirmou o sucesso das medidas adotadas pela companhia e o governo do estado de São Paulo desde março de 2014, entre elas o programa de bônus de redução do consumo. Segundo ele, a soma dessas medidas equivale ao mesmo impacto de um rodízio de três dias sem água e dois com.
Dados de fevereiro mostram 81% da população reduziu o consumo de água e escapou da multa aplicada pelo governo estadual aos ‘gastadores’.
O diretor também apresentou os dados após as chuvas de fevereiro. “Neste mês as chuvas vêm aumentando os níveis a 0,25% ao dia no Cantareira”, disse Massato. Segundo ele, com as obras planejadas pelo governo do estado de São Paulo, a região metropolitana irá resistir sem maiores traumas ao período de seca de 2015. “No pior cenário possível de 2013/2014, conseguimos passar com essas obras. Trabalhamos com um cenário muito pessimista que é de 80% das chuvas de 2013/2014″. Com isso, o prognóstico para este ano não é de agravamento da crise, mas segue sendo de crise.
Grandes consumidores
Após as revelações feitas pelo versão brasileira do jornal El País de que 500 empresas recebem descontos da Sabesp para gastarem mais água, o presidente da companhia afirmou que existe a possibilidade de rever essa prática, denominada como contratos de demanda firme.
Segundo ele, a intenção do programa era garantir a regularização do tratamento de esgoto na cidade, mas foi concebido em uma situação em que não havia falta de água e, por isso, pode ser revisto. “Das 40 grandes empresas que hoje tem seus maiores contratos de demanda firme, 33 já reduziram drasticamente seu consumo e está sendo avaliada a possibilidade de romper os contratos com as outras 7 empresas remanescentes”, disse. Kelman afirmou que a companhia espera que “todas as empresas, mesmo as de demanda firme, participem do esforço coletivo de diminuir o consumo de água”. Atualmente, as indústrias são responsáveis por 40% do consumo de água no estado de São Paulo.
O diretor da Sabesp, Paulo Massato, negou a informação de que a tarifa paga pelas empresas com contrato de demanda firme é mais barata do que a tarifa domiciliar. “Eu posso garantir que essa tarifa industrial, em todos os contratos de demanda firme, não é maior do que a domiciliar”, explica. “Hoje, a tarifa média deste 500 contratos é de R$ 7,8/m³, enquanto a tarifa residencial não passa de R$ 2,3/m³”, garante Massato.
O diretor também negou que políticas de incentivo ao consumo de água para grandes consumidores sigam em curso. “Os grandes consumidores terão apenas o ônus, ou seja, não podem aumentar o consumo”, disse. “Tivemos uma parceria muito forte com os grandes consumidores na redução das demandas, através da perfuração de novos poços artesianos.”
Ar na rede
Ao mesmo tempo constatou-se que a entrada de ar nas tubulações, decorrentes da redução da pressão da distribuição da água, não impactou 88% dos moradores da região metropolitana de São Paulo.
Segundo Massato, das 5 mil reclamações de moradores registradas em janeiro, apenas em 20 casos foi constatada que a entrada de ar na rede comprometia negativamente a medição do consumo da casa. Nestes casos foram instaladas ventosas para corrigir o problema, informou o diretor.
* Publicado originalmente no site Carta Capital.
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