Todd Stern afirmou que não existe possibilidade de um tratado global sem metas para os grandes emergentes e que o documento deve ser construído sobre capacidades nacionais e não ideologias
Uma das razões pelas quais os Estados Unidos nunca gostaram do Protocolo de Quioto é o fato de o tratado não obrigar as nações em desenvolvimento a possuírem metas. Assim, na visão norte-americana, Quioto é prejudicial para a economia dos países ricos por colocar suas empresas em uma situação de desvantagem com relação a companhias chinesas, indianas e brasileiras.
Este é um ‘erro’ que os EUA não vão deixar acontecer no próximo acordo climático global, que é uma das discussões chave na Conferência do Clima de Doha (COP 18), que termina nesta semana no Catar.
“Não podemos traçar uma linha dividindo o planeta e dizer que se você está em determinado lado não precisa cumprir obrigações, enquanto o outro lado tem que cumprir todas elas. O novo acordo precisa ser construído sobre capacidades nacionais e não ideologias”, declarou o enviado especial norte-americano Todd Stern em sua primeira coletiva de imprensa na COP 18.
As negociações do que é chamada de Plataforma de Durban (ADP, em inglês), que define as bases do novo tratado que deve estar pronto até 2015 para entrar em vigor em 2020, é o principal foco dos EUA na COP 18.
Nesta terça-feira (4), primeiro dia com a presença de ministros de Estado em Doha, Stern deixou claro quais são as condições fundamentais para que os EUA votem a favor do acordo.
A primeira é que todos os signatários, ricos ou emergentes, devem possuir metas de redução de gases do efeito estufa, entre outras obrigações. A segunda é que as diferentes responsabilidades respeitem as capacidades de cada país. Por exemplo, apesar de ambas serem consideradas nações em desenvolvimento, a China deveria assumir compromissos muito mais ambiciosos do que a Costa Rica.
“Reconhecemos que existem diferenças entre as nações, assim como é colocado no Protocolo de Quioto. Porém, é preciso identificar essas diferenças com base no mundo real, de forma pragmática”, destacou Stern.
O enviado norte-americano afirmou ainda que acredita que avanços serão alcançados em Doha e que o novo acordo estará pronto até 2015.
“Nossos representantes no ADP estão confiantes e possuem um bom relacionamento com todas as partes. Se mantivermos o alto nível das conversas e quem sabe até aumentarmos o engajamento, teremos sucesso”, disse.
Quioto
A chegada dos ministros aparentemente também ajudou a movimentar as negociações sobre o futuro do Protocolo de Quioto.
A secretária-executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Christiana Figueres, declarou que está confiante de que o segundo período de compromissos de Quioto já está garantido.
“Acredito que veremos os negociadores aqui em Doha apresentarem um texto no qual constará que desde o dia 1º de janeiro de 2013 estaremos sob o segundo período”, disse.
A fala de Figueres ganhou ainda mais força depois que a comissária de ação climática da União Europeia, Connie Hedegaard, garantiu que o bloco assumirá em 28 dias suas obrigações com o segundo período de Quioto e que espera que o tratado vigore por mais sete anos, até 2020, como defendem os países emergentes, incluindo o Brasil.
Porém, Hedegaard se disse preocupada com o que farão as nações que não estão no Protocolo ou que não possuem metas, como os Estados Unidos e a China.
“As emissões europeias caíram 18% desde 1990, enquanto as norte-americanas subiram 10,8% com uma liberação per capita de 17,2 toneladas anuais. Para piorar, os chineses já possuem uma emissão per capita de 6,6 toneladas anuais, comparável à dos europeus, de 7,3 toneladas”, afirmou, citando dados divulgados nesta segunda-feira pelo Global Carbon Project (GDP).
“Todos temos a obrigação de sermos mais ambiciosos, porque estamos nos movendo muito, muito rápido na direção errada”, completou.
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FONTE : * Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
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