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domingo, 31 de outubro de 2010

MAR À VISTA

Intensamente afetada por problemas ambientais e por deficiências das políticas públicas, a biodiversidade marinha precisa ser conhecida para ser protegida. Estimular a formação de grupos de pesquisa sobre o tema é um dos principais objetivos do Workshop sobre biodiversidade marinha: avanços recentes em bioprospecção, biogeografia e filogeografia, que será realizado a partir desta quinta-feira (9/9), na sede da FAPESP, em São Paulo.

Cientistas brasileiros e estrangeiros apresentarão um panorama completo e atualizado da pesquisa internacional sobre a biodiversidade no ambiente marinho.

“O objetivo é ampliar a visão do universo de pesquisa sobre a biodiversidade marinha e permitir que pesquisadores e estudantes conheçam o que está sendo feito nessa área no Brasil e no exterior. Queremos estimular o intercâmbio internacional e a formação de novos grupos dedicados ao estudo do tema”, disse um dos organizadores do evento, Roberto Berlinck, à Agência FAPESP.

Segundo o professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, serão debatidos vários temas relacionados à conservação e ao uso sustentável da biodiversidade marinha brasileira, incluindo a obtenção de produtos naturais bioativos para produção de drogas e o planejamento da intervenção humana no ambiente marinho. O evento terá a participação de pesquisadores do Brasil, Estados Unidos, Nova Zelândia, Canadá e Bélgica.

“Um dos temas particularmente interessantes na programação envolve os trabalhos que estão sendo realizados com a microbiologia marinha. Essa área de pesquisa, que se dedica a um microuniverso dentro do megabioma marinho, existe há menos de 20 anos”, disse Berlinck, que também é membro da coordenação do programa Biota-FAPESP.

Os macrouniversos também terão destaque no evento: estudos relacionados à biogeografia e filogeografia procuram desenhar um panorama geral da biodiversidade em regiões específicas dos oceanos.

“Essas áreas buscam entender a relação entre os organismos em termos de espaço – no caso da biogeografia – e de tempo, no caso da filogeografia, que se refere ao parentesco entre as espécies no decorrer da evolução”, afirmou.

De acordo com Berlinck, a expansão de pesquisas sobre a biodiversidade marinha é um dos focos definidos pelo Biota-FAPESP em sua estratégia para a próxima década.

Em 2009, ao completar dez anos – com uma ampla contribuição para o avanço do conhecimento sobre a biodiversidade brasileira, gerando estudos e inventários que subsidiaram políticas públicas de conservação e uso sustentável da biodiversidade –, o programa realizou um balanço de suas atividades e traçou uma estratégia para a próxima década.

“Na reunião de avaliação do programa, em 2009, concluiu-se que havia sido dada pouca ênfase ao ambiente marinho. Investir nesses estudos foi uma reivindicação dos participantes. O workshop será um importante passo para começarmos a cumprir essa meta”, disse.

Berlinck afirmou que o conhecimento atual sobre o ambiente marinho brasileiro é pontual. Em alguns locais da costa, onde há infraestrutura de pesquisa – como São Sebastião, onde está o Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da Universidade de São Paulo (USP) –, a biodiversidade é bem conhecida. No restante, há imensas lacunas.

“Unidades de pesquisa estão presentes em alguns pontos da costa brasileira. Nessas áreas, há projetos de pesquisa desenvolvidos e apoio logístico disponível. Mas, no restante, o conhecimento é muito limitado. Seria preciso organizar grupos de trabalho para ter acesso a mais pontos da costa e realizar amplos trabalhos que permitam desenhar um quadro um pouco mais completo”, disse.

Realizar um inventário da biodiversidade marinha, como o Programa Biota-FAPESP tem feito com outros biomas, não seria uma tarefa trivial, segundo Berlinck. “Isso é muito difícil por questão de acesso. Podemos fazer levantamentos em pontos da região costeira, mas dificilmente chegaríamos a um inventário completo”, afirmou.

O aumento do esforço para conhecer mais a fundo a biodiversidade marinha deverá ter um impacto importante nas políticas públicas. De acordo com Berlinck, já existem parques e regiões protegidas em diversas áreas da costa, mas é preciso criar políticas públicas eficazes em relação às atividades econômicas e à ocupação humana no litoral.

“É preciso fiscalizar o que é jogado no mar. Além de desastres frequentes, como derramamentos de petróleo, temos visto com grande preocupação a ocupação desordenada do litoral, que leva ao despejo de lixo nos rios, mangues e oceano – em especial no litoral paulista. Vemos praias que eram paradisíacas há 25 anos e hoje estão ocupadas por favelas. É preciso mobilizar a comunidade científica para chamar a atenção da sociedade e dos gestores para esses problemas”, afirmou.

Riqueza marinha

O Workshop sobre biodiversidade marinha: avanços recentes em bioprospecção, biogeografia e filogeografia terá cobertura da Agência FAPESP. O encontro está com inscrições encerradas devido à grande procura, que atingiu a capacidade das instalações da FAPESP.

Um dos destaques do evento será a participação de William Fenical, do Centro de Biotecnologia Marinha e Biomedicina da Universidade da Califórnia, em San Diego, Estados Unidos, que apresentará a palestra “Microrganismos do oceano profundo: uma nova fonte para a descoberta de drogas”.

Fenical estuda há quase 20 anos compostos orgânicos, originados em microrganismos marinhos, com efeitos sobre o câncer e outras doenças. Em trabalho recente, o pesquisador descobriu em sedimentos oceânicos a bactéria Salinospora tropica, que produz um potente agente anticancerígeno para tratamento do mieloma múltiplo. O medicamento ainda será testado em humanos.

Pio Colepicolo, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, falará sobre a utilização de algas como fonte de metabólitos de importante valor econômico.

Paulo Mourão, do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentará resultados de pesquisas sobre agentes anticoagulantes e antitrombóticos encontrados em ouriços-do-mar.

Letícia Veras Costa-Lotufo, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade do Ceará, irá relatar estudos para busca de compostos para tratamento do câncer em invertebrados e microrganismos presentes no litoral do Nordeste brasileiro.

Joseph Neigel, do Departamento de Biologia da Universidade de Louisiana (Estados Unidos), apresentará palestra sobre o tema Mistérios não resolvidos da genética de populações marinhas: há uma explicação comum?.

Heroen Verbruggen, da Universidade Ghent (Bélgica), falará sobre o tema Biodiversidade e biogeografia de algas marinhas: uma perspectiva evolucionária.

Mais informações: http://www.fapesp.br/biota/marinhos
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FONTE : (Envolverde/Agência Fapesp)

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