A proteção climática recebe mais atenção fora do que dentro do Brasil. Embora nação seja vista como promessa de liderança verde, com exceção de Marina Silva, candidatos à presidência dão pouca importância ao assunto.
Sob a perspectiva estrangeira, o Brasil recebe destaque por sua forte atuação em favor da proteção ambiental. A imprensa internacional lembra com frequência o punho de ferro do presidente Lula ao defender, diante da plateia incrédula na cúpula do clima de Copenhague, a adoção de metas de redução de emissões.
“O presidente do Brasil naquela ocasião contribuiu para mudar o resultado das negociações climáticas. Foi depois de Lula que os Estados Unidos, China e Japão começaram a falar em redução também”, cita Federico Foders, pesquisador da Universidade de Colônia.
[Leia na íntegra]Todo esse potencial, no entanto, não encabeça as pautas dos candidatos com chance de ganhar a presidência do país. José Serra faz chegar ao público suas propostas ligadas a economia e saúde. Dilma Rousseff bate na tecla do continuísmo e programas sociais bem-sucedidos do governo Lula. “E Marina Silva é vista como a candidata monotemática pelo eleitorado brasileiro, com foco em políticas ambientais e climáticas”, analisa Daniel Flemes, pesquisador especializado em política brasileira, do Instituto Alemão para Estudos Globais e Regionais (Giga).
Já Roberto Guimarães, pesquisador em política ambiental da Fundação Getúlio Vargas, afirma categoricamente: “Meio ambiente é um tema que não existe na agenda dos candidatos. Marina é a única que discute o assunto sob o aspecto do desenvolvimento sustentável. Ela deu muito enfoque a meio ambiente no começo da campanha, mas há duas semanas ela mudou o discurso, de maneira a que as pessoas entendam mais o assunto. E foi então que ela começou a crescer nas pesquisas”.
Elemento não decisivo
Ainda na década de 1970, Roberto Guimarães passou a investigar as relações entre meio ambiente e política. Sobre a posição internacional progressista em questões ambientais do governo Lula, que gera esse prestígio no exterior, Guimarães pontua: “Essa é, talvez, a única coisa que Lula não pode dizer que seja algo que aconteceu ‘pela primeira vez na história do país’. Porque o Brasil, desde a época da ditadura, sempre é considerado de vanguarda quando se discute o problema internacionalmente, só se esquecem de aplicar dentro do país o que falam lá fora”.
Em 1972, quando se falou em internacionalização da Amazônia, o governo ditatorial não fez qualquer oposição, não defendeu o território brasileiro. Argumentou apenas que, já que a floresta era considerada um patrimônio internacional, o conhecimento científico também teria esse mérito e que, portanto, todas as patentes mundiais deveriam ser quebradas para que o conhecimento fosse internacionalizado. O mundo calou-se e não se falou mais sobre a Amazônia como território compartilhado, lembra Guimarães, citando o histórico progressismo internacional brasileiro para questões ligadas ao meio ambiente.
Da Alemanha, Daniel Flemes analisa que a ex-ministra do Meio Ambiente deu um impulso tardio significativo à administração Lula. “Foi somente depois que Marina Silva deixou o ministério que o governo do Partido dos Trabalhadores reconheceu a importância da discussão climática e tentou, com certo sucesso, promover o Brasil como potência climática no cenário mundial.”
Heranças incertas
O posicionamento brasileiro na área de meio ambiente também rende manchetes internacionais não tão positivas. E dois temas especialmente polêmicos do governo Lula serão herdados pelo próximo presidente: a hidrelétrica de Belo Monte e a usina nuclear Angra 3.
“Se Dilma vencer as eleições, ela não só vai herdar a questão de Belo Monte, ela também vai tocar o projeto adiante. O escândalo está no fato de que essa é uma obra totalmente financiada pelo governo. Não é viável nem em termos de mercado. Além de todas as outras questões de impacto ambiental e social”, analisa Roberto Guimarães.
O edital de montagem de Angra, conforme noticiou a Eletronuclear nesta quarta-feira (29/09), foi adiado e agora é esperado para novembro, quando o Brasil já souber quem será seu novo presidente.
Efeito pós-eleição
Para Daniel Flemes, embora o tema proteção ambiental seja mencionado de forma breve por José Serra e Dilma Rousseff, a maioria dos eleitores não pondera o assunto de forma crucial: “Clima e meio ambiente não são tão importantes como problemas sociais e econômicos, saúde e educação. Portanto, as questões ligadas a meio ambiente não terão um impacto decisivo nas eleições”.
Já o Roberto Guimarães vê o avanço de Marina Silva nas pesquisas como um indicativo de que a população brasileira possa estar mais atenta à discussão. “Acredito que a campanha de Marina esteja influenciando, sim, a população, e que as ideias pregadas por ela vão causar um impacto depois da eleição. Os brasileiros irão exigir mais do governo nesse assunto.”
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FONTE : Nádia Pontes com revisão de Roselaine Wandscheer (Matéria da Agência Deutsche Welle, DW-WORLD.DE, publicada pelo EcoDebate, 01/10/2010).
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