Sertão, terra rachada, sol a pino, povo sobrevivente. A imagem mais relacionada à Caatinga esconde uma realidade pouco conhecida. O único bioma exclusivamente brasileiro é também a região semiárida mais rica em biodiversidade do planeta. Os dados mais atuais indicam 932 espécies de plantas, 148 de mamíferos e 510 de aves, algumas exclusivas do bioma.
Ocupando 11% do território brasileiro, a Caatinga também apresenta grande potencial de uso sustentável de seus recursos naturais como madeiras, forrageiras, medicinais, fibras, resinas, borrachas, ceras, tonantes, oleaginosas, alimentícias, aromáticas, além de sítios arqueológicos e paisagens consideradas ideais para o ecoturismo.
Contudo, o semiárido brasileiro ainda é lembrado principalmente pela pobreza, com seus 1.482 municípios entre os mais pobres do país; pelo clima seco, com 95% da área do bioma em regiões suscetíveis à desertificação; pela ocupação humana desordenada, que começou nos tempos do Brasil colônia e que, hoje, abriga 27 milhões de pessoas, o semiárido mais habitado do mundo; e pela grande área – quase metade do bioma – alterada por desmatamentos e queimadas.
O ciclo do desmatamento na Caatinga começa nas pequenas propriedades – descapitalizadas e dependentes do carvão – e move as indústrias de gesso e cerâmica no Nordeste, bem como a de ferro gusa nas siderúrgicas do Centro-Sul. Os dados do desmatamento na Caatinga, segundo o inédito Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite, mostram que o bioma ainda possui 53% de vegetação remanescente (dados do período entre 2002 e 2008). Uma confirmação de que ainda é possível conservar e fazer o uso sustentável dos recursos naturais do semiárido brasileiro.
Uso sustentável da biodiversidade
Um dos instrumentos mais efetivos para a conservação da biodiversidade é a criação de unidades de conservação (UC), que na Caatinga não atingiu a meta de 10% do bioma estipulada pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) e confirmada pela Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio). Na Caatinga, são 144 UC que representam 7% da área total do bioma, mas apenas 1% das unidades é de proteção integral, que são as mais restritivas à intervenção humana. Os dados são do Mapa de Unidades de Conservação e Terras Indígenas da Caatinga, produzido em parceria entre Ministério do Meio Ambiente e The Nature Conservancy e publicado em 2008.
Por outro lado, o uso sustentável dos recursos naturais – outro dos princípios da CDB junto à conservação e à repartição justa e equitativa dos benefícios – apresenta grandes perspectivas no semiárido brasileiro. A Caatinga dispõe de modelos já testados e com bons resultados para o manejo agrosilvopastoril, a integração do uso sustentável de produtos madeireiros e não-madeireiros e o manejo da vegetação para pecuária e agricultura. A valorização dos produtos da sociobiodiversidade e a criação de mecanismos de financiamento de atividades sustentáveis, aliados à tecnologia sustentável e aos conhecimentos tradicionais, são outras possibilidades para modificar o perfil de uso da Caatinga.
Com grande potencial de energia de biomassa, o manejo florestal sustentável, com a recomposição da cobertura florestal, é também uma alternativa do ponto de vista econômico e ecológico para melhorar a qualidade de vida da população do semiárido. Com uso sustentável, árvores podem ser usadas tanto para fins madeireiros quanto para uso diversos, como alimentação e remédio. Alguns instrumentos disponíveis são o Macrozoneamento Ecológico-Econômico (MacroZEE) do Nordeste, o Programa Caatinga Sustentável e o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Caatinga.
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FONTE : texto de Ana Flora Caminha / Edição: Gerusa Barbosa / MMA (EcoDebate, 11/10/2010).
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