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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Microcefalias, causas e polêmicas, artigo de Montserrat Martins



saúde

[EcoDebate] O Zika vírus será o (único) causador das microcefalias havidas principalmente na região Nordeste do país? Várias dúvidas foram levantadas nas últimas semana, correndo nas mídias e redes sociais várias versões de notícias de que atribuem as microcefalias desde a vacinas inadequadas, até a um larvicida usado na água.
O que a Medicina pode afirmar com toda a segurança, hoje, sobre o assunto? Que os estudos devem continuar até esgotar todas as possibilidades, embora o Ministério da Saúde tenha dada a questão por encerrada correlacionando os casos recentes definitivamente ao Zika vírus e descartando as outras hipóteses.
A informação de um levantamento na Colômbia em mais de 3 mil gestantes que tiveram contato com o Zika vírus, sem desenvolver microcefalia nos bebês, merece ser conferida. Porque se existe uma correlação entre o mosquito Aedes Aegypti como transmissor e os efeitos no feto, a relação pode ser outra que não o efeito do vírus. Foi levantada por médicos argentinos a possível correlação com o emprego de um larvicida na água, o Pyriproxyfen.
O argumento do fabricante do larvicida Pyriproxyfen, de que seu produto seria inocente, entre outras justificativas, por ser aprovado por órgãos oficiais, não nos dá uma segurança definitiva. A Talidomida também era, até se descobrirem casos na Alemanha, Reino Unido e Austrália, de grávidas com malformações associadas à Talidomida na gestação. As verdades, em Medicina, muitas vezes levam muitos anos ou décadas para serem descobertas ou comprovadas com toda a segurança. Até mesmo uma simples Novalgina ou Dorflex, produtos que tem Dipirona, por exemplo, são capazes de causar em 1 a cada 40.00 pacientes, aplasia de medula, grave incapacidade de produzir células brancas do sangue que nos defendem de infecções.
Pode haver exagero em algumas acusações, como a do médico que teria denunciado ao MPF (Ministério Público Federal) que a causa das microcefalias seria o emprego de vacinas inadequadas às gestantes, o que configuraria um erro grosseiro do próprio Ministério da Saúde e do SUS.
O fato é que aos médicos, aos cientistas, os pesquisadores, cabe a cautela de examinar todas as hipóteses e correlações possíveis, além de manter é claro o combate rigoroso ao Aedes Aegypti. Podemos afirmar com certeza que microcefalias podem ser causadas por vários tipos de agentes que interfiram na gestação, sejam vírus (como a rubéola), sejam produtos químicos (metil-mercúrio), drogas (álcool, cocaína), doenças metabólicas da gestante (diabetes, hipotireoidismo), radioatividade atômica, insuficiência placentária e problemas genéticos. A pressa do Ministério da Saúde parece mais política do que médica, mesmo que sua tese venha ser comprovar.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade.

in EcoDebate, 22/02/2016
"Microcefalias, causas e polêmicas, artigo de Montserrat Martins," in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2016, http://www.ecodebate.com.br/2016/02/22/microcefalias-causas-e-polemicas-artigo-de-montserrat-martins/.

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