07 de fevereiro de 2015
(da Redação da ANDA)
Quem se depara com uma página no Facebook intitulada “Diário vegano da esposa de um rancheiro” provavelmente vai achar que há algo estranho. Certamente, esta é a resposta que Renee King-Sonnen já se habituou a encontrar depois de se casar com um pecuarista de quarta geração e logo em seguida tomar a decisão de assumir um estilo de vida vegano. Apesar disso parecer extraordinário, Renee está agora trabalhando para tentar converter o rancho de seu marido em um santuário para animais de fazenda. É desnecessário dizer que esta é uma mulher com uma grande missão. As informações são do One Green Planet.
Vida no rancho
Depois de se mudar para o rancho de 50 hectares de seu marido, a realidade de como as vacas sofrem na pecuária começou a se revelar para Renee.
“Testemunhar os bezerros indo a leilão e as mães chorando todas as noites por uma semana é o suficiente para conduzir uma pessoa sensível até o limite”, diz Renee ao One Green Planet. Foi só uma questão de tempo para que ela adotasse uma dieta baseada em vegetais e, quando ela fez isso, seu ponto de vista a respeito dos animais na fazenda do marido mudou completamente: ”Eu passei a vê-los de uma forma que eu nunca tinha visto antes – é como se algo tivesse se ligado em meu DNA, que eu não sabia que estava lá antes de eu ver a alma deles e eles a minha – é tão difícil de colocar isso em palavras”.
As vacas são criaturas incrivelmente inteligentes e emotivas. Muitas pessoas não param para apreciar o quão dinâmicos estes animais são, porque elas não querem assumir a culpa por comerem carne. É um fato triste, mas é uma realidade social.
Uma vez que Renee deixou de comer carne e começou a ter contato com as vacas no dia-a-dia, tornou-se mais e mais difícil lidar com o que o marido fazia para viver. Cada vez que um grupo de bezerros era “empilhado” no trailer vermelho de seu marido e enviado para a venda, e sua morte inevitável, Renee chorava e lamentava a sua perda. Conhecer a dor que as mães desses bezerros estavam enfrentando foi demais para ela. Para ajudar a aliviar o seu sofrimento, o marido de Renee tentava ocultar dela os dias da venda, mas ela continuou a temer e abominar todo o processo.
O trailer tornou-se uma espécie de símbolo de mau presságio do que estava por vir.
Rowdy Girl e Houdini, o começo de tudo
Rowdy Girl foi a primeira vaca resgatada por Renee. Ela comprou Rowdy ainda filhote por meros 300 dólares e a alimentou com mamadeira até quando foi preciso. Não demorou para que as duas formassem um vínculo. Cerca de cinco anos e meio depois, Rowdy teve uma filha, que se chama Houdini. O nome Houdini foi dado devido à sua habilidade de escapar da cerca do rancho sem que ninguém perceba. Renee explica que Rowdy Girl costumava fazer o mesmo, e a característica parece ter sido transmitida.
Como o desejo de Houdini pela liberdade era admirável, Renee e seu marido começaram a ter problemas com a polícia local. Vendo Houdini e Rowdy como um bem material, o marido de Renee disse-lhe que eles teriam de vender as duas.
Este foi o momento em que Renee teve um impasse. Vender Rowdy e Houdini estava absolutamente fora de questão, mas a dificuldade em encontrar um santuário confiável para onde pudesse levá-las deixou-a em um beco sem saída.
“Um dia, pouco depois de pensar exaustivamente em todas as possibilidades, eu falei para o meu marido: Por que não podemos simplesmente transformar o nosso rancho em um santuário para animais de fazenda?”, disse Renee ao One Green Planet.
Naturalmente, esta explosão foi recebida com uma série de “Você perdeu a cabeça?!” de seu marido. Talvez ela tivesse, mas se outras pessoas criam santuários desse tipo, então por que ela não poderia?
Depois de algum tempo levado para pensarem no assunto, foi decidido que Renee poderia converter o rancho em um santuário se ela pudesse levantar o montante de 30 mil dólares para “comprar” as vacas sob seus cuidados.
“Da forma como ele colocou, ou seria assim, ou pediria o divórcio”, brinca Renee, que diz que, com o passar do tempo, seu coração está amolecendo. “Ele observou cada documentário que eu coloquei na TV e ele tem visto os benefícios da dieta sem ingredientes animais”, acrescenta ela.
Uma vez que o custo inicial foi coberto, ele concordou em deixar o negócio de criação de gado e passou a trabalhar no projeto do santuário.
De rancho para refúgio
Renee explica que demorou um pouco para convencer totalmente o seu marido de que ela estava falando sério e que gostaria de fazer o santuário acontecer, mas quando ela lançou a sua campanha para ajudar a levantar fundos, não havia como voltar atrás. O santuário será chamado Rowdy Girl Sanctuary, em homenagem à sua musa inicial.
Iniciar um santuário para animais de fazenda é um negócio sério, mas Renee foi buscar todas as informações com especialistas como Gene Baur e Susie Coston do Farm Sanctuary, Harold Brown do Peaceable Kingdom, e muitos outros. O objetivo é que o Rowdy Girl Sanctuary seja mais do que apenas um refúgio para animais explorados para consumo humano, mas também seja um local que ensine ativamente o público sobre a dieta e estilo de vida livre de crueldade. Renee espera ainda que o seu exemplo inspire outros pequenos pecuaristas do Texas a fazer o mesmo.
Há 29 vacas no total – 12 das quais estão grávidas. Há também quatro cavalos e seis galinhas que vivem no rancho e que também passarão a fazer parte do santuário. Uma vez que tudo estiver em plena operação, Renee pretende cuidar de porcos, cabras e ovelhas, pois há espaço suficiente para todos eles.
Enquanto algumas pessoas podem pensar que Renee enlouqueceu ao querer transformar uma fazenda de gado em um refúgio para animais de criação pecuarista, o certo é que teria sido mais espantoso da parte dela se ela não tentasse.
“Minha esperança é que as pessoas de todos os lugares aprendam que, uma vez que vêem esses animais de fazenda como indivíduos com direitos a viver como nós, que os seus corações se abram”, disse Renee ao One Green Planet. “Afinal, quando você olha para a Terra da perspectiva do espaço, todos nós somos um – a única coisa que nos divide como uma espécie é o raciocínio humano – e os seres humanos devem usar a sua inteligência para se permitir ter compaixão. Nas palavras de Benjamin Franklin: se todos estão pensando da mesma forma, ninguém está pensando”.
Para saber mais sobre o santuário e acompanhar o andamento de sua jornada, visite a página noFacebook.
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