[EcoDebate] A ONU estabeleceu o dia 05 de junho como data comemorativa do MEIO AMBIENTE. Entre os objetivos das comemorações estão: “a) Mostrar o lado humano das questões ambientais; b) Capacitar as pessoas a se tornarem agentes ativos do desenvolvimento sustentável; c) Promover a compreensão de que é fundamental que comunidades e indivíduos mudem atitudes em relação ao uso dos recursos e das questões ambientais; d) Advogar parcerias para garantir que todas as nações e povos desfrutem um futuro mais seguro e mais próspero”. O Dia Mundial do Meio Ambiente foi estabelecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1972, marcando a abertura da Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano.
Mas nos últimos 42 anos, enquanto os indicadores humanos melhoraram (a despeito das desigualdades sociais), a situação ambiental na Terra piorou e pode estar caminhando para um colapso, caso não haja uma mudança de rumo. O homo sapiens surgiu a cerca de 200 mil anos na África e se espalhou por todos os cantos do Planeta. Na medida em que o número de indivíduos da espécie crescia e as atividades antrópicas aumentavam o grau de dominação e exploração da natureza, a biodiversidade e as áreas selvagens do mundo caminhavam em sentido contrário, perdendo espaço e direitos enquanto as civilizações humanas foram se tornando onipresentes em um meio ambiente degradado.
As áreas de florestas foram as primeiras a sofrerem com a demanda humana por madeira, lenha e espaço para a agricultura e a pecuária. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o ritmo do desmatamento, devido ao uso de áreas florestais para fins agrícolas, foi de 14,5 milhões de hectares por ano entre 1990 e 2005. Entre 2005 e 2010 o ritmo de destruição foi um pouco menor, sendo que o planeta perdeu, em média, 4,9 milhões de hectares de floresta por ano no período. Mas isto significou 10 hectares de desmatamento por minuto.
A destruição dos habitats tem provocado a extinção de algo entre 10 a 30 mil espécies por ano. Centenas de rinocerontes são abatidos covardemente todos os anos para fomentar o comércio apenas do chifre, cujo preço no mercado negro vale mais que o ouro, chegando a 50.000 euros por quilo. Os criminosos cortam os chifres dos animais e vendem como remédio para diversos tipos de doença ou como porções afrodisíacas na China e no Sudeste Asiático. Milhares de elefantes são mortos cruelmente todos os anos para que alguns poucos humanos possam lucrar com o comércio de marfim e outros tantos humanos possam lucrar com a compra e venda de joias e objetos de decoração fabricados a partir das presas e do sacrifício de um dos animais mais fantásticos do Planeta. Os Tigres, os Leões, as Onças, os Gorilas e tanto outros animais que vivem na Terra muito antes do homo sapiens estão ameaçados de extinção.
Para alimentar uma população crescente de seres humanos mais de 60 bilhões de animais terrestres são mortos todos os anos e a escravidão animal é responsável pelo confinamento de 19 bilhões de galinhas, 1,4 bilhão de bovinos, 1 bilhão de porcos, 1 bilhão de ovelhas e um número considerável de cabritos, búfalos, coelhos, capivaras, javalis, avestruzes, gansos, perus, patos, etc., segundo dados da FAO. O sofrimento imposto às outras espécies é imenso. Além disto, o boi e a vaca, por exemplo, são animais ruminantes cujo processo digestivo provoca uma fermentação que faz o animal liberar muito gás metano. O metano é o segundo gás que mais contribui para o efeito estufa, sendo 21 vezes mais poluente do que o gás carbônico (CO2). Cada animal bovino adulto libera cerca de 56 quilos de metano por ano. Portanto, os 1,4 bilhão de bois e vacas do mundo liberam algo em torno de 78 milhões de toneladas de metano por ano, o que é uma contribuição significativa para o aquecimento global.
Enquanto a pecuária amplia o domínio sobre a vida animal, a agricultura também desmata e revolve as terras, ampliando o uso de fertilizantes e agrotóxicos. Especies invasoras substituem a vegetação original. O CO2, o nitrogênio, o fósforo, o potássio e o zinco, além de diversos produtos químicos, são importantes elementos utilizados para aumentar a produtividade agrícola, mas criam uma rede de poluição que provoca a degradação do solo, a perda de qualidade do ar e da água e a extinção de espécies. O uso dos agrotóxicos neonicotinóides tem provocado a morte das abelhas e o fenômeno caracterizado como Síndrome do Colapso das Colmeias. Tudo isto vai reverter em perda de segurança alimentar. O mau uso do solo provoca erosão, salinização e desertificação, enquanto áreas férteis e produtivas diminuem, cedendo espaço para os aterros sanitários receberem o crescente volume de lixo e resíduos sólidos.
Os rios foram desviados, represados, assoreados e degradados. A poluição dos rios reduz a disponibilidade de água doce, diminui o oxigênio e provoca a mortandade de peixes. Cachoeiras e belezas naturais, como Sete Guedas, em Guaíra no Paraná, foram inundadas por represas hidrelétricas. Lagos, como o mar da Aral estão diminuindo ou secando para atender aos interesses da irrigação. Dois bilhões e meio de pessoas vivem sem saneamento básico e jogam seus esgotos diretamente em rios ou lagoas. A contaminação química e os agrotóxicos matam indiscriminadamente a vida terrestre e aquática. Diversos rios e lagos do globo estão sendo destruídos, contaminados ou desviados para diversos usos. O rio Colorado nos Estados Unidos não chega mais ao mar porque suas águas são consumidas antes. Os rios da China estão sendo represados e poluídos, gerando um conflito hidropolítico com a Índia, Paquistão, Bangladesh e Vietnã.
Aquíferos fósseis estão desaparecendo e os aquíferos renováveis não estão conseguindo manter os níveis de reposição dos estoques, reduzindo a capacidade de carga. Segundo reportagem do jornal indiano Economic Times (ET), há cerca de 50 anos, no norte da Gujurat, os agricultores obtinham água dos poços escavados numa profundidade de 30 a 40 pés. Agora os poços tubulares estão indo até 1.300 pés. Mesmo assim, está difícil a extração de água, pois não há recarga suficiente dos aquíferos. Metade do abastecimento de água da Índia em áreas rurais (onde vivem 70% da população do país) está contaminada por bactérias tóxicas. Portanto, a maior parte da Índia rural está sob estresse hídrico, afetando as vidas humanas e não humanas. A cidade de São Paulo, que “não podia parar”, agora tem que reduzir as atividades e o consumo de água.
A maioria da sujeira dos solos e dos rios corre para o mar. Assim, os oceanos do mundo estão se tornando mais ácidos em consequência da poluição dos rios e da absorção de 26% do dióxido de carbono emitido na atmosfera, afetando tanto as cadeias alimentares marinhas quanto a resiliência dos recifes de corais. Se a acidificação dos oceanos continuar, é provável que haja alterações nas cadeias alimentares bem como impactos diretos e indiretos sobre diversas espécies. A sobrepesca fez com que 85% de todos os estoques de peixes fossem atualmente classificados como sobre-explorados, esgotados, em recuperação ou totalmente explorados, uma situação substancialmente pior do que há duas décadas.
O aumento das emissões de gases de efeito estufa está provocando o aquecimento global, tendo como consequência o derretimento das geleiras e das camadas de gelo, provocando escassez de água potável e o aumento do nível dos oceanos. Os últimos dados mostram que a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera ficou durante todo o mês de abril de 2014 acima das 400 partes por milhão (ppm), algo que não acontecia há pelo menos 800 mil anos. A constatação foi anunciada pelo Instituto Scripps de Oceanografia, da Universidade de San Diego, que monitora a estação de Mauna Loa, no Havaí. Segundo as medições, a concentração média de CO2 em abril foi de 401,33 ppm. E a curva continua sua trajetória ascendente rumo a um ponto de não retorno.
Como consequência, a elevação do nível do mar ameaça a existência de países como Tuvalu e pode alagar áreas densamente povoadas. Dois estudos da NASA, de maio de 2014, mostram que a contração das geleiras na Antártida ocidental se tornou irreversível. A humanidade ultrapassou um patamar crítico. Somente a geleira Pine Island, no oeste da Antártida, é responsável por 20% do total de gelo da parte ocidental do continente e já iniciou um processo irreversível de colapso.
A elevação do nível do mar já prejudica os deltas dos principais rios do mundo. Artigo de James Syvitski e co-autores, “Naufrágio dos deltas devido às atividades humanas” (Sinking deltas due to human activities), publicado na Revista Nature Geoscience, em 2009, mostra como o delta de vários rios importantes do mundo estão afundando devido às atividades antrópicas, com perdas de áreas férteis. Diversos animais e plantas, assim como inúmeros ecossistemas vão sofrer com o aquecimento global, as mudanças climáticas e suas consequências. Evidentemente muitas espécies vão se adaptar à nova realidade climática, mas diversas outras vão desaparecer em decorrência da expansão humana e dos resultados negativos das atividades antrópicas.
A humanidade ocupa cada vez mais espaço no Planeta e tem investido de maneira predatória contra todas as formas de vida ecossistêmicas da Terra. O ser humano está reincidindo, de maneira recorrente, nos crimes do especismo e do ecocídio. Se a dinâmica demográfica e econômica continuar sufocando a dinâmica biológica e ecológica a civilização caminhará para o abismo e o suicídio. Porém, antes de o antropoceno provocar uma extinção em massa da vida na Terra é preciso uma ação radical no sentido conter a ganância egoística e garantir a saúde do meio ambiente. Senão teremos vergonha de sermos seres humanos.
Referências:
ALVES, JED. Do antropocentrismo ao mundo ecocêntrico. EcoDebate, RJ, 13/06/2012
ALVES, JED. Erradicar o Ecocídio. EcoDebate, RJ, 31/10/2012
ALVES, JED. Especismo e as desigualdades entre espécies. EcoDebate, RJ, 14/03/2012
ALVES, JED. População humana e seus animais domesticados. EcoDebate, RJ, 04/01/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: o massacre de elefantes e o comércio de marfim. EcoDebate, RJ, 21/11/2012 http://www.ecodebate.com.br/2012/11/21/especismo-e-ecocidio-o-massacre-de-elefantes-e-o-comercio-de-marfim-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a ameaça de extinção dos rinocerontes. EcoDebate, RJ, 28/11/2012
ALVES, JED. Por um mundo mais selvagem! . EcoDebate, RJ, 14/08/2013
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: 100 milhões de tubarões mortos por ano. EcoDebate, RJ, 07/11/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a destruição da Amazônia. EcoDebate, RJ, 01/02/2013
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: Gorilas ameaçados de extinção. EcoDebate, RJ, 10/04/2013
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a extinção dos tigres. EcoDebate, RJ, 25/10/2013
ALVES, JED. Especísmo e ecocídio: o sumiço das abelhas. EcoDebate, RJ, 18/09/2013
ALVES, JED. O naufrágio dos deltas devido às atividades humanas. EcoDebate, RJ, 21/05/2014
Vídeos mostrando os impactos negativos da humanidade sobre o Planeta e a escravidão animal:
Ética e Direitos Animais – Sônia T. Felipe
A Carne é Fraca – documentário completo
“Carne Sofriboi”, do chargista Maurício Ricardo
Documentário “Linha de Desmontagem”
Se os abatedouros tivessem paredes de vidro – com Paul McCartney (dublado em português)
Ser humano espécie invasora e praga sobre a Terra?
Como o ser humano destrói o planeta http://www.huffingtonpost.com/2014/03/27/everything-wrong-with-humanity-animation_n_5037496.html?utm_hp_ref=mostpopular
Video: Sobrevivendo ao Progresso “Surviving Progress” (2011) Legenda em português
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 04/06/2014
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