Rio de Janeiro, Brasil, 5 de novembro de 2012 (Terramérica).- Cientistas brasileiros tentam clonar exemplares de espécies ameaçadas de extinção, como a onça-pintada e o logo-guará. Seu impacto na conservação ainda não está claro. A iniciativa do Jardim Zoológico de Brasília, em associação com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), já está em sua segunda etapa. Os estudos se encaminham para viabilizar o uso de técnicas de clonagem como ferramenta auxiliar da conservação.
O primeiro passo foi coletar amostras de material genético, ou germoplasma, sob a forma de sangue, espermatozoides, células somáticas e do cordão umbilical. “Já temos 420 amostras de germoplasma armazenadas em nosso banco e vamos continuar coletando”, disse ao Terramérica o pesquisador Carlos Frederico Martins, da Embrapa Cerrados.
Os escolhidos são oito animais, como o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), a onça-pintada (Panthera onca) e mico-leão-preto (Leojtopithecus chrysopygus), na maioria presentes no Livro Vermelho de Espécies Ameaçadas de Extinção, produzido pelo estatal Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). As amostras foram obtidas ao longo de dois anos. Além das três espécies citadas, o banco conta com germoplasma do cachorro-do-mato (Speothos venaticus), quati (gênero Nasua), tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) e bisão (gênero Bison).
A próxima etapa será capacitar os pesquisadores do zoológico. “Na Embrapa já realizamos a clonagem de bovinos. O que vamos fazer é transferir nosso conhecimento aos pesquisadores para que possam realizar os estudos de adaptação da técnica com animais silvestres”, explicou Martins. A Embrapa foi responsável pelo nascimento do primeiro animal clonado em território brasileiro, a bezerra Vitória, que nasceu em 2001 e viveu até 2011. Depois dela foram clonados muitos outros animais, principalmente bovinos e equinos, que atualmente somam mais de uma centena de indivíduos vivos.
Um projeto de lei que tramita no Senado desde 2007 busca regulamentar a prática da clonagem, já que a legislação atual não apresenta regras muito claras. “A pesquisa está liberada, mas existe pouco controle. Qualquer laboratório pode clonar bovinos e por isso não é possível precisar quantos clones existem”, contou o pesquisador da Embrapa. Esta é a primeira tentativa brasileira de clonar animais silvestres. Martins explicou que “países como Estados Unidos e Coreia do Sul já trabalham em pesquisas semelhantes”.
A falta de experiência impede, segundo o cientista, prever quanto tempo será necessário para o primeiro clone. Porém, “podemos dizer que talvez seja um logo-guará, já que é uma espécie da qual temos muitas amostras de material genético”, afirmou. Martins destacou que o objetivo não é libertar os clones na natureza. “O zoológico quer multiplicar exemplares para seu próprio uso. A ideia é manter esses animais em cativeiro. O uso de clones evitaria o mal causado pela retirada dos animais do ambiente”, explicou.
“Do ponto de vista da conservação, o ideal é preservar e multiplicar a fauna onde esta se encontra”, prosseguiu Martins. Como o exemplar clonado contém exatamente os mesmos genes do que lhe deu origem, “os clones não têm variabilidade genética para que seja benéfico introduzi-los na natureza”, pontuou. Só em casos extremos se poderá libertar animais clonados, ressaltou. “Se alguma espécie estiver em uma situação de extinção extrema, em risco de desaparecer totalmente, e for possível fazer um reforço, teremos a capacidade”, disse ao Terramérica a superintendente de Conservação e Pesquisa do Zoológico de Brasília, Juciara Pelles.
“Estamos na fase de desenvolver tecnologia, então ainda não sabemos se será possível recuperar uma população na natureza, mas é possível que se torne viável”, afirmou Juciara. A técnica apresenta eficiência entre 5% e 7%. Segundo Martins, essa porcentagem está dentro dos padrões médios já alcançados no mundo. “É um número baixo, que encarece a tecnologia, mas é médio. As pesquisas também pretendem elevá-lo”, informou.
Para o biólogo Onildo João Marini Filho, do ICMBio, a clonagem de equinos e bovinos se justifica por seu objetivo comercial. Mas empregá-la em animais silvestres exige cautela. “Precisa haver um benefício bastante tangível para a conservação. Se houver um ganho, é válido. Pode ser possível, por exemplo, aumenta a quantidade de animais para ajudar em um programa de reprodução”, disse ao Terramérica.
Para que a segunda etapa do estudo comece efetivamente, o projeto do Zoológico de Brasília aguarda a aprovação jurídica dos órgãos competentes. Espera-se que em um mês sejam dados os passos iniciais para dar vida ao primeiro clone. “É um projeto de longo prazo”, enfatizou Juciara.
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FONTE : Envolverde/Terramérica
* A autora é jornalista da Envolverde.
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