“Não vamos ficar vendo como alguns dos países industrializados conspiram para enterrar o Protocolo de Kyoto em Doha”, disse à IPS o delegando ugandense Chebet Maikut. O Protocolo, único instrumento internacional contra o aquecimento global, compromete o Norte industrializado a reduzir suas emissões de gases-estufa. E o Grupo Africano de Negociadores e a Aliança de Pequenos Estados Insulares pressionam para que seja renovado.
“Alguns dos países industrializados que estão ganhando tempo (para implantar as reduções de emissões acordadas) querem aproveitar o vencimento próximo para pôr fim ao Protocolo de Kyoto, e nós estamos dizendo que não”, afirmou à IPS o coordenador da Greening Kenya Initiative, Peter Odhengo. Canadá, Japão e Rússia não estão dispostos a assinar um segundo período de compromissos, em parte por desejarem que economias emergentes como China e Índia também se comprometam com maiores reduções nas emissões, afirmou Odhengo.
A secretária executiva da Convenção, Christiana Figueres, disse à IPS que é preciso urgentemente um novo período do Protocolo de Kyoto para salvaguardar as reduções acordadas nele. “É o único acordo vinculante existente pelo qual os países industrializados se comprometem a reduzir gases-estufa. Estabelece um compromisso político internacional pelo qual as nações industrializadas são responsáveis por liderarem as reduções de emissões”, ressaltou.
No entanto, Figueres recordou que os temas de Doha já foram discutidos ao longo do ano, e disse não esperar que surjam novos obstáculos. A expectativa geral é que a COP 18 conclua com a aprovação de um segundo período de compromissos do Protocolo de Kyoto, bem como com uma série de acordos institucionais e apoio aos países do Sul em desenvolvimento.
Segundo Odhengo, enquanto os países africanos estão impacientes para salvar o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), por meio do qual são executados projetos de redução de emissões que deixariam de existir se o Protocolo de Kyoto não for prorrogado. Entretanto, em conversa com a IPS, Peter Storey, coordenador da Iniciativa de Tecnologia Climática, da norte-americana Private Financing Advisory Network, afirmou que não tem sentido a África pressionar por isto.
Esse continente tem menos de 2% de todos os projetos registrados sob o MDL em todo o mundo. A maioria dos que ainda funcionam estão na China, no Brasil e na Índia. Mas Conor Barry, chefe de mecanismos de desenvolvimento das partes da Secretaria de Mudança Climática da Organização das Nações Unidas, disse à IPS que os projetos sob o MDL aumentam rapidamente na África.
A diferença é que, nesse continente e em países menos adiantados, os projetos acontecem em pequena escala, quando no Brasil, na China e na Índia têm maior alcance. “Aprendemos muito com o MDL neste primeiro período de compromissos, e acreditamos que a situação será muito melhor para a África se as partes em Doha acordarem um segundo período”, afirmou Barry.
Barry também destacou que a secretaria expande seus projetos de pequena escala, incluindo alguns que promovem o uso de fogões melhorados e lâmpadas com energia solar em diversas áreas geográficas. Segundo ele, em abril a secretaria introduziu um sistema de empréstimo destinado a estimular o registro de projetos no MDL. John Christensen, diretor do Centro Risoe, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), afirmou que esse tipo de iniciativa poderia aumentar a participação da África no MDL.
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FONTE : Envolverde/IPS
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