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Os nova-iorquinos já se acostumaram com as medidas às vezes radicais da mulher que manda no trânsito da maior cidade americana.
Em cinco anos no cargo, a superpoderosa secretária de Transportes de Nova York abriu 450 km de ciclovias, 50 km de corredores de ônibus e fechou várias praças aos carros --a mais famosa delas, a Times Square, tornou-se um grande calçadão.
Reduziu o número de pistas da Broadway pela metade, dobrando as calçadas dos dois lados e espalhando cadeiras e mesinhas.
Pela velocidade com que está transformando a paisagem nova-iorquina, ela é amada por ciclistas e odiada com igual intensidade por taxistas.
Magra, com corpo forte de quem pedala e faz ioga, um orçamento anual de R$ 4 bilhões e mais de 4.500 funcionários em sua equipe,
Janette, 51, é igualmente retratada em reportagens de urbanismo e em publicações de estilo.
É uma rara política de olfato fashion, bronzeada e de corpo torneado, destoando do clichê das burocratas de tailleurs.
Formada em ciência política e em direito pela Universidade Columbia, era vice-presidente de uma grande empresa de engenharia quando foi "descoberta" por Bloomberg.
"Antes, a política de transporte se resumia a aumentar a velocidade dos carros na cidade. Para mim, o mais importante de tudo é priorizar o pedestre, o ciclista e o transporte público", disse à Serafina, em seu escritório, em um arranha-céu com vista para o East River e o Brooklyn, no distrito financeiro de Manhattan.
SECRETÁRIA DAS BIKES
"Diziam que os lojistas da Times Square perderiam muito dinheiro quando fechássemos a praça ao trânsito, e o contrário aconteceu. A renda do varejo duplicou em três anos, a frequência triplicou, e os pedestres, quando podem circular em paz, acabam gastando mais ali", explica.
"O espaço para carros e pedestres estava distribuído de forma desigual, havia 70 pedestres para cada dez carros."
Depois dessa experiência, ela acabou fechando pistas ao lado da Madison Avenue e da Herald Square e transformando parte da Broadway em um semicalçadão. Mais de 50 pracinhas como essa foram criadas em quatro anos.
"Tudo foi feito de forma simples, com mesas e cadeiras baratas. Se desse certo, faríamos algo de longo prazo, com design melhor", conta, dizendo que as obras definitivas para a nova Times Square começam no final do ano, com projeto dos arquitetos do escritório norueguês Snohetta.
Os críticos da secretária, entretanto, a acusam de impor esses "testes" como algo permanente. "Mudar um banco de praça na cidade pode levar anos de burocracia. Por isso, fazemos algo mais simples, de forma direta, para medir o resultado", rebate.
Janette também recebeu saraivadas pela pressa com que implantou as ciclovias (em cinco anos, ela fez 450 km; São Paulo tem 55 km de ciclovias e 67 km de ciclofaixas, que funcionam aos domingos).
A secretária já foi processada por moradores do bairro Prospect Park, no Brooklyn, que se opunham à ideia (eles perderam a ação).
O tabloide "New York Post" fez piada com o seu cargo e a chamou de "secretária das bicicletas". Mesmo gente da prefeitura já criticou a extensão das ciclovias.
O secretário de Segurança, Ray Kelly, disse que nem sempre concorda com ela e que "a criação das ciclovias aumentou a responsabilidade dos policiais em tempos de mão de obra escassa".
Ela defende a cria: "As ciclovias reduziram em 40% o número de acidentes com ciclistas na cidade. Quando o ciclista precisa se aventurar no meio dos carros, sem proteção, ele é muito vulnerável, como acontece com os pedestres".
Olugbenro Ogunsemore | ||
Janette Sadik-Khan, a poderosa secretária de Transportes de Nova York, na Times Square |
Janette fez um estudo que listou 400 variáveis que interferem na velocidade dos veículos, da cobrança da passagem à maneira como a cidade poda suas árvores, asfalta as ruas ou bloqueia os maiores cruzamentos. "Vamos resolver um por um", promete.
"Trabalho para Bloomberg, que é movido a números. Preciso ter todos os dados na ponta da língua", brinca, e dá uma risada alta. Fica evidente que adora o que faz.
Não para de receber pedidos de missões de prefeitos e governos, de Istambul ao México e outras grandes cidades americanas, que querem conhecer suas soluções mais de perto.
Circulando agitada pelo escritório, enquanto mostra gráficos e maquetes do que está por vir em Nova York, ela conta que o programa de compartilhamento de bicicletas (que já existe em São Paulo e no Rio), inspirado nos sucessos de Paris e Barcelona, só começará em março.
"Estamos chegando tarde, mas será um dos melhores do mundo, com 420 postos e 10 mil bicicletas", promete.
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FONTE : Raul Juste Lores (de Nova Iorque para a FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 25/11/2-12), http://www1.folha.uol.com.br/serafina/1189421-nova-york-virou-paraiso-dos-ciclistas-gracas-a-uma-mulher.shtml
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