Por Conexão COP*
Das emissões de gases de efeito estufa (GEE) mundiais, 80% estão associadas, de maneira direta e indireta, às grandes cidades, onde são gerados impactos ambientais muito importantes. São necessárias ações coletivas, individuais e mudanças de hábitos para, de maneira conjunta, enfrentar a mudança climática.
Conexão COP, 26/8/2015 – “É preciso criar conscientização de que uma cidade diferente é possível, para isso deve-se entender que primeiro estão os pedestres e ciclistas, seguidos por transporte público, logística e transporte de carga, e por fim os veículos particulares”. Esta foi uma das conclusões que deu a conhecer Santiago Ortega, do projeto Ciudad Verde, durante o webinar Inclusão Social e Igualdade no Desenvolvimento Urbano Sustentável, que foi realizado na semana passada por Nivela, El Árbol e CO2.cr.
Segundo informação da organização El Árbol, as cidades apresentam um interessante paradoxo: são responsáveis pela mudança climática, mas também são uma fonte de enormes oportunidades de mitigação das emissões de gases-estufa, portanto, a ação climática nas cidades é crucial.
Ortega afirmou que é preciso mudar os hábitos dos moradores das cidades e, para isso, é necessário falar de sustentabilidade, mas em linguagem coloquial, para ser compreendida, e começarem as mudanças necessárias para que se entenda a problemática da mudança climática e enfrentá-la com ações individuais e coletivas.
Gian Carlo Delgado, autor-líder do grupo 3 do 5º Informe do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), afirmou, durante o encontro digital, que na América Latina as cidades têm uma capacidade econômica limitada e, se não forem tomadas medidas de mitigação, poderão ver as consequências da mudança climática em um relativo curto prazo.
Sabe-se, por exemplo, que, em Bogotá, sem ações de mitigação, se começaria a ver fenômenos climáticos em 2033, mas, se forem executadas iniciativas, os eventos começariam em 2047. Em Santiago do Chile, o cenário é parecido: sem ações de mitigação, os cidadãos dessa cidade começarão a enfrentar mudanças ambientais em 2043, mas, se a ação for rápida, essas mudanças ficariam para 2071. As pesquisas são claras: quanto mais demorarem as ações de mitigação, os eventos extremos acontecerão com maior brevidade.
“As cidades latino-americanas geram impactos ambientais muito importantes, pelo menos as grandes cidades, que estão conectadas em todos os níveis e geram consumo desmedido. Deve-se considerar que as cidades modernas requerem até cem vezes ou mais de superfície para obter os recursos necessários”, destacou Delgado.
Cenários de mudanças sem ações de mitigação
Cenários de mudanças com ações de mitigação
Cerca de 80% das emissões de GEE estão associadas às cidades de todo o planeta, de maneira direta ou indireta. Os principais impulsores dessas emissões provêm da geografia econômica e da renda com o trabalho. A energia e os serviços representam também uma importante emissão de GEE, bem como os sistemas de transporte.
Delgado apontou que, na América Latina, as cidades têm uma capacidade econômica limitada e o número de cidades aumentará. Por isso, “os principais fatores para o êxito da governança climática urbana estão relacionados aos acordos institucionais que facilitem a integração da mitigação e da adaptação com outras agendas urbanas de alta prioridade. Também se deve permitir um contexto de governança multinível que dê poder às cidades e promova a transformação urbana”, ressaltou.
Medellín, na Colômbia, é um exemplo claro de cidade latino-americana que apostou na sustentabilidade, na inclusão e na igualdade. Nessa cidade, se conseguiu avançar para uma cidade mais humana mediante investimentos em mobilidade e em diversas ações desenvolvidas pelas redes de municípios contra a mudança climática.
“Qualquer ação que seja sustentável tem de ser capaz de se perpetuar no tempo. Uma das estratégias e formas de consegui-lo é converter os temas social, ambiental e econômico e dar-lhes um tom claramente 100% econômico, porque a evidência mostra que a questão econômica de maneira sustentável é boa para se chegar a excelentes resultados”, destacou Ortega.
O colombiano informou que Medellín alcançou seu melhor desempenho em saneamento ambiental, obteve bons resultados em qualidade do ar e está dentro da média em transporte, água e governança. Em contraste, está abaixo da média em uso de energia, emissões de CO2, geração de resíduos e uso da terra e edifícios. Se sobressai pela menor quantidade de carros e motocicletas, menor geração de lixo por pessoa, além de níveis menores de dióxido de enxofre no ar, e por contar com a rede de transporte de massa mais longa entre os países de baixa renda.
Ortega enfatizou que são necessárias transformações na vida do ser humano. “É preciso mudar o chip destatus associado ao carro, à grande casa e à grande cidade. É necessário entender que as cidades devem se direcionar para o crescimento sustentável”, afirmou. Envolverde/IPS
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