Por Redação JBRJ –
Para Celina Carpi, uma parcela do setor empresarial acredita que haja vantagens na transição do Brasil para uma economia de baixo carbono.
Nesta segunda-feira (24/8), um encontro reuniu, no Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, mais de 120 pessoas interessadas em discutir as metas que o Brasil apresentará para a 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21). Era uma iniciativa da Frente Parlamentar Ambientalista do Estado do Rio de Janeiro, da Coppe/UFRJ e do próprio Jardim Botânico.
A mesa foi composta por Carlos Minc, deputado estadual do Rio de Janeiro e ex-ministro do Meio Ambiente; Samyra Crespo, presidente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ); o economista e pesquisador Sérgio Besserman; o professor Emilio La Rovere, coordenador do Centro Clima da COPPE/UFRJ; Celina Carpi, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos; e o ambientalista Alfredo Sirkis.
Samyra Crespo abriu o debate destacando a relevância da participação do Brasil na COP 21 e os esforços dedicados a atingir as metas na questão ambiental. Segundo a presidente do JBRJ, a iniciativa do encontro é uma contribuição a essa discussão global.
Após a apresentação do professor Emilio La Rovere sobre o estudo Implicações Econômicas e Sociais de Cenários de Mitigação no Brasil – 2030, coordenado pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), os convidados puderam fazer suas considerações e o público levantar questões pertinentes ao tema.
O estudo aponta para resultados baseados em dados e levantamentos sobre as emissões de gases do efeito estufa (GEE) no Brasil, incluindo medidas adicionais de mitigação aos planos governamentais já em andamento. Algumas das conclusões, esclareceu Emilio La Rovere, confirmam que “o custo da inação é maior do que o da adoção de medidas efetivas em relação às mudanças climáticas”. O projeto, que contou com a participação de especialistas do governo, do setor privado e do meio acadêmico, bem como de membros da sociedade civil, demonstra que, apesar de inúmeras barreiras, o Brasil pode potencializar a redução da emissão de gases impulsionando medidas como eficiência energética, fontes renováveis de energia, técnicas para agropecuária de baixo carbono e mudança de modais de transportes.
Os debatedores apontaram como principal impedimento para a mudança de comportamento com relação ao meio ambiente a ideia de que há uma dissociação entre a redução das emissões de GEE e a economia. Para alguns, as medidas para a diminuição das emissões levariam a um prejuízo nos investimentos econômicos. Raciocínio contestado por Emilio La Rovere, que declara que, se não houver um esforço adicional de mitigação, a tendência é que, entre 2020 e 2030, haja um aumento dessas emissões em razão do ritmo de crescimento da queima de combustíveis fósseis e da agropecuária.
Para Celina Carpi, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, uma parcela do setor empresarial acredita que haja vantagens na transição do Brasil para uma economia de baixo carbono. Celina citou como exemplo a Carta Aberta ao Brasil sobre Mudança do Clima – 2015, recém-lançada pelas empresas integrantes do Fórum Clima – Ação Empresarial sobre Mudanças Climáticas, iniciativa articulada pelo Instituto Ethos. Na carta, as empresas signatárias assumem compromissos voluntários em relação às mudanças climáticas e incluem propostas ao governo brasileiro sobre o tema. De uma maneira geral, essas empresas esperam que o governo proponha, na COP 21, a meta global de zerar as emissões de GEE líquidas até 2050.
Essa expectativa é considerada otimista pelo economista Sérgio Besserman. Para ele, garantir que o aquecimento global não ultrapasse os 2 graus centígrados já será meta difícil de alcançar. De acordo com Besserman, o Banco Mundial já faz uma previsão de que, se nenhuma medida mais eficaz e radical for tomada, em 30 anos teremos perdido todas as conquistas dos últimos 20 anos contra a pobreza.
Nesse sentido, Alfredo Sirkis reforça a necessidade de que o Brasil apresente metas mais ousadas na COP 21, como por exemplo, propor uma baixa nas emissões em 2030 da ordem de 1 giga, ou seja, 30 a 40% a menos do que os números de 1990. E lembra que, mesmo o país sendo responsável por apenas 3,5% das emissões globais, sua participação da COP 21 pode ser de grande relevância, dependendo das propostas apresentadas.
A visão de Sirkis foi corroborada por Carlos Minc, que destacou algumas iniciativas acertadas de setores do governo e segmentos que reforçam a ideia de que “descarbonizar” é fundamental para garantir o futuro do planeta. Minc lembrou ainda que tais iniciativas positivas só foram possíveis diante de amplo debate e negociação com os empresários.
Metas mais ambiciosas para levar a uma competitividade maior – essa é a ideia de Sérgio Besserman, que deixa uma crítica para reflexão: “Estamos olhando as ações de contenção das mudanças climáticas como um custo, quando deveríamos vê-las como nossa única oportunidade. Somos a única economia do mundo que, pela redução das emissões de GEE, ganha competitividade, em vez de perder”. (Instituto Ethos/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e retirado do Instituto Ethos.
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