26 de agosto de 2015
(da Redação da ANDA)
Apesar da terrível brutalidade que apresentam, os atos de crueldade contra os animais não ocupam as primeiras páginas de nenhum jornal nem parecem escandalizar muito a população. No entanto, têm um significado final que deveria nos interessar como sociedade. Aqueles que abusam dos animais, segundo especialistas, são até 5 vezes mais propensos a praticar crimes violentos contra as pessoas.
Um adolescente britânico que coloca o hamster do seu irmão no microondas, um grupo de jovens que crucifica um gato na Comunidade Valenciana e outro que assassina brutalmente um burro na Extremadura, três mexicanos que torturam um cão e colocam os vídeos na internet…. animais esfolados, queimados, empalados, mutilados, espancados…
Frequentemente lemos ou escutamos frases como ¨são coisas de crianças¨ quando se trata desse tipo de acontecimento. É certo que, às vezes, dentro de uma brincadeira, especialmente em grupo, alguns menores de idade cometem atos lamentáveis, mas os psiquiatras e criminologistas advertem que, muitas vezes, isso é um ¨sinal de alarme¨ que as pessoas não escutam, ¨não uma válvula de escape inofensiva em um indivíduo saudável¨, nas palavras de Allen Brantley, supervisor e agente especial do FBI, um dos grandes especialistas do mundo no assunto.
¨Brincar de matar animais que não nos inspiram compaixão, como os mexilhões, é bastante normal. Mas algumas crianças o fazem de forma repetitiva, inclusive desfrutando do momento e isso é um problema¨, explica Francisco Montañés, chefe do Departamento de Psiquiatria da Fundação Hospital Alcorcón.
Comportamento antissocial
Em países como os Estados Unidos, o interesse por este tipo de ato é crescente. Não só pela maior sensibilização para com os animais, mas também pelas evidências cada vez mais numerosas da relação entre os atos de crueldade com os animais e outros crimes que vão desde o consumo de drogas aos assassinatos em série.
Na década de 80, Alan Felthous, especialista em Psiquiatria Forense, realizou várias investigações que mostravam de maneira consistente, que por detrás das agressões a pessoas havia, em muitas ocasiões, uma história de abuso a animais. Seus trabalhos, realizados com homens especialmente violentos internados nos presídios dos Estados Unidos, confirmaram sua suspeita.
Depois disso, outros analisaram a questão. Em 2002, a revista ¨Journal of the American Academy of Psychiatry and the Law¨ tornou público um estudo no qual eram associados os atos repetidos de crueldade com os animais durante a infância com o desenvolvimento de um transtorno de personalidade antissocial, a presença de traços antissociais e o abuso de drogas.
Aproximadamente, metade dos indivíduos antissociais incorrem em condutas sádicas e se o fazem antes dos 10 anos de idade, o prognóstico é pior, observa Montañés. Que o menor passe de um ato isolado de violência contra um animal a cometer outros crimes ¨é uma escalada¨, acrescenta o especialista. ¨Se repete o ato, vai aumentando o tamanho do animal; se há diversão, desfrute… as possibilidades são maiores¨.
Frank Ascione, do Departamento de Psicologia da Universidade de Utah (Estados Unidos) e reconhecido especialista, escreveu no Boletim de Justiça Juvenil em 2001: ¨O abuso de animais e a violência interpessoal compartilham características: ambos tipos de vítimas são criaturas vivas, têm capacidade para experimentar a dor e poderiam morrer em consequência das lesões infligidas ¨.
Uma oportunidade para intervir
A sensibilização na Espanha diante desta problemática é baixa. ¨Estamos esperando¨, afirma Núria Querol i Viñas, médica de família do Hospital Universitário Mútua de Terrassa, criminologista e especialista no assunto. ¨O maltrato aos animais é aterrador e poucas vezes é feito alguma coisa¨, acrescenta.
No entanto, Querol sublinha que ela também faz parte da Associação Americana de Criminologia e que, ¨quando são detectados casos de menores que maltratam animais, é preciso ter cuidado, pois pode existir um transtorno de conduta. Não se pode ignorar o fato , é uma oportunidade para intervir¨.
O Dr. Montañés concorda com ela nesse ponto ao ressaltar a necessidade de ¨recorrer a um psiquiatra em casos de crueldade com os animais, porque se tratadas desde o início, essas pessoas podem ter solução. A falta de controle dos impulsos, a empatia, a gerência da raiva… são coisas que podem ser tratadas se isto for feito a tempo¨, acrescenta Querol.
Um do objetivos desta especialista é instaurar na Espanha, como já existe em outros países, programas de intervenção para trabalhar com essas pessoas, já que é ¨muito importante mudar os valores e isso não se faz de forma sistemática¨, conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário