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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

ÉPOCA VULNERÁVEL : Denúncias de maus-tratos a gambás geram comoção online

23 de outubro de 2015 

Segundo especialistas, fêmeas ficam mais vulneráveis em outubro, pois é quando começa o período de reprodução do animal Foto: Daniela Dacorso / O Globo
Segundo especialistas, fêmeas ficam mais vulneráveis em outubro, pois é quando começa o período de reprodução do animal Foto: Daniela Dacorso / O Globo
Os gambás são animais silvestres cada vez mais presentes nas zonas urbanas. Porém, a convivência com os homens está longe de ser harmoniosa. Apesar de serem protegidos por lei, os gambás ainda são vistos como pragas por parte da população e sofrem, diariamente, maus-tratos e agressões.
Nas últimas semanas, circularam nas redes sociais denúncias de maus-tratos a esses animais, que geraram bastante comoção entre internautas. Uma delas foi sobre o caso de uma fêmea que entrou em um prédio e foi espancada com um cabo de vassoura por moradores. O relato, publicado no dia 30 de setembro no Facebook, teve mais de 141 mil curtidas e 81.400 compartilhamentos.
Segundo especialistas, a partir de outubro, os gambás ficam ainda mais vulneráveis a ataques e atropelamentos, pois é quando começa o período de reprodução das fêmeas e elas ficam com mais dificuldade para se locomover. O que poucos sabem é que os gambás são muito importantes para o ecossistema e que, apesar de soltarem um forte odor quando se sentem ameaçados, não são animais agressivos.
internauta denunciou agressão a gambá no Facebook Foto: Reprodução / Facebook
internauta denunciou agressão a gambá no Facebook Foto: Reprodução / Facebook
Postagem gerou muita repercussão na rede social Foto: Reprodução / Facebook
Postagem gerou muita repercussão na rede social Foto: Reprodução / Facebook
De acordo com a bióloga Daniela Lima, da clínica Dr. Selvagem – Medicina de Animais Silvestres e Exóticos, localizada em Santa Catarina, a espécie de gambá mais comum nas áreas urbanas é o gambá-de-orelha-preta, também conhecida como saruê. Segundo a bióloga, o animal costuma viver em porões de casas, árvores e até em latas de lixo, onde consegue fugir da luminosidade para dormir. Daniela também destaca que gambás dessa espécie são excelentes escaladores – podem ser vistos em galhos de árvores e até mesmo caminhando sobre muros.
A bióloga Daniela Lima trabalha na clínica Dr. Selvagem - Medicina de Animais Silvestres e Exóticos, localizada em SC Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
A bióloga Daniela Lima trabalha na clínica Dr. Selvagem – Medicina de Animais Silvestres e Exóticos, localizada em SC Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
A bióloga explica que, durante o período de reprodução, que começa em outubro e termina em janeiro, as fêmeas da espécie ficam mais pesadas por conta dos filhotes abrigados no marsúpio – bolsa externa onde ficam até se desenvolverem – ou agarrados ao corpo da mãe. Por causa disso, ficam mais lentas e vulneráveis.
– Após darem à luz, as fêmeas – que têm entre quatro e 11 filhotes – ficam com mais dificuldade para andar. Mesmo assim, não desistem de buscar alimentos. Porém, muitas vezes acabam cruzando com pessoas que consideram o animal uma praga e que não conhecem a legislação, e acabam agredidas ou mortas. Com isso, os filhotes acabam retirados das mães mortas sem estarem desenvolvidos. Além disso, nessa época, as fêmeas ficam mais suscetíveis a atropelamentos, pois atravessam a rua de forma mais lenta – explica.
De acordo com o professor Jeferson Pires, coordenador do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres da Universidade Estácio de Sá, a maioria dos atendimentos a gambás no centro é feita em decorrência de atropelamentos, agressões com pedaços de madeira e pedras e ataques de cachorros. Também é comum, segundo ele, o atendimento a filhotes que caíram do marsúpio da mãe. Segundo ambos os especialistas, nos centros de reabilitação, os animais são tratados, medicados e, quando recuperados, reinseridos na natureza, com o apoio de órgãos ambientais do estado e do município.
Quando fêmeas são agredidas ou mortas, os filhotes acabam retirados do marsúpio sem estarem desenvolvidos Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
Quando fêmeas são agredidas ou mortas, os filhotes acabam retirados do marsúpio sem estarem desenvolvidos Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
Segundo especialistas, gambás são muito importantes para ecossistema
Apesar de muitos os considerarem pragas, os gambás são, na realidade, muito importantes para o ecossistema.
– Os gambás são excelentes controladores de populações de pequenos roedores e serpentes, inclusive as peçonhentas. O gambá-de-orelha-preta, por exemplo, é imune ao veneno da jararaca, o que o torna um predador natural da cobra. Além disso, são grandes dispersores de sementes – ao se alimentarem de frutos, e defecarem em suas andanças, vão plantando árvores. Há algumas sementes que só germinam quando passam pelo trato digestório dos animais – explica a bióloga.
Segundo a bióloga, gambás são muito importantes para o ecossistema Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
Segundo a bióloga, gambás são muito importantes para o ecossistema Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
Risco de o gambá transmitir doenças e atacar possível agressor é baixo, mas é preciso tomar cuidados
De acordo com Pires, apesar de muitos considerarem o gambá um animal sujo – em parte pelo forte odor que libera quando se sente ameaçado – a chance de ele transmitir doenças é baixa.
– Os gambás podem transmitir algumas zoonoses, mas, se não ocorrer contato direto com o animal, o risco fica muito reduzido. Caso alguém encontre um gambá em situação de risco, o ideal é colocar uma caixa com furos em cima do animal e acionar a Patrulha Ambiental – afirma.
Especialistas orientam pessoas a não tocarem nos gambás Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
Especialistas orientam pessoas a não tocarem nos gambás Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
Em relação ao risco de ataques, Daniela diz que é baixo. Segundo ela, geralmente, os gambás apenas mostram os dentes, emitem grunhidos e assobios e ficam imóveis até a situação de perigo passar, além de liberarem uma substância de forte odor, que não é tóxica, pelas glândulas genitais. No entanto, em algumas situações, podem tentar morder o agressor. Por isso, a recomendação é para não se aproximar do animal.
Em 2014, Patrulha Ambiental do Rio de Janeiro resgatou 642 gambás
A Patrulha Ambiental do Rio de Janeiro informou que foram contabilizados 1.185 atendimentos a danos a fauna na cidade em 2014. Os gambás foram alvo de mais de 50% das ações – no total, foram resgatados 642. Segundo o órgão, grande parte dos resgates é feita em residências.
Para aqueles que encontrarem um gambá em casa ou em situação de risco, a orientação do órgão é para não tocar no animal ou alimentá-lo, colocá-lo em uma área isolada e acionar a Patrulha Ambiental através do 1746 da prefeitura, que tem o prazo de 72 horas para fazer o resgate. Segundo o órgão, o manejo inadequado representa um risco para o animal e a pessoa. O resgate também pode ser realizado pelo Corpo de Bombeiros.
Caso estejam feridos, serão encaminhados para um centro de recuperação – a maior parte, disseram, é levada para Centro de Reabilitação de Animais Silvestres da Universidade Estácio de Sá. Caso não tenham ferimentos, serão soltos na natureza.
Patrulha Ambiental do Rio de Janeiro resgatou 642 gambás em 2014
Patrulha Ambiental do Rio de Janeiro resgatou 642 gambás em 2014
Maltratar ou matar animais silvestres é crime
De acordo com a Lei Nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida, é crime. A pena prevista é de seis meses a um ano de detenção, além do pagamento de multa.
Além disso, também é crime praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Nesse caso, a pena é de três meses a um ano de detenção e multa.
Fonte: Extra

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