27 de junho de 2015
Se a convivência humana impõe mais desafios do que se poderia imaginar, o que dizer da adaptação dos animais domésticos à vida em comum? Para os gatos adotados Bastet, uma fêmea de 5 anos, e o macho Anakin, de 2, não tem sido nada fácil compartilhar a presença do outro na nova família constituída pelos tutores, o médico-veterinário Samuel Douglas Pereira de Oliveira, de 27 anos, e o professor Wagner Patrick Nicácio, de 37. “É uma luta diária pela harmonia em casa”, resume Douglas. Com a experiência profissional, ele ajudou os felinos adotados a superar alguns sintomas da depressão provocada pela perda do reinado do qual desfrutavam há cerca de cinco meses.
Aplicação de baunilha sobre o dorso dos animais, associada à medicação anti-estresse, tratou manifestações que poderiam ter se agravado. Os gatos deixaram de se limpar e de comer depois que os tutores resolveram dividir o mesmo espaço. Anakin foi quem mais sentiu a mudança e partiu para a briga. Bastet respondeu à altura, fazendo xixi fora dos locais determinados e arranhando o sofá e a cama.
A depressão não é algo incomum até mesmo entre os animais silvestres e requer atenção dedicada dos tutores. Diferenciá-la de atitudes típicas da chantagem emocional ou do charme lançado pelo bicho no intuito de manipular o tutor parece ser o mais difícil. No entanto, um bom começo é entender que a depressão pode significar comportamento anormal, provocado pela percepção aguçada que os animais têm de alterações de humor dos tutores, somadas às influências do meio ambiente.
“Comportamentos como destruir móveis e objetos, se auto-mutilar, os latidos, a agressividade ou a prostração estão relacionados, na maioria das vezes, a um ambiente inadequado. Não podem ser interpretados como depressão”, diz a médica-veterinária Júnia Maria Cordeiro de Menezes, do Hospital Veterinário da UFMG. O estilo de vida imposto ao animal também pode levar a distúrbios de comportamento. Sedentarismo e consumo excessivo de alimentos são problemas frequentes observados pela especialista tanto entre cães e gatos quanto entre coelhos, peixes e pôneis.
“O proprietário cuidadoso é capaz de perceber alterações sutis e a medicação, quando há desvios, deverá ser usada depois de uma investigação da causa e uma vez esgotadas todas as opções de corrigir a origem do problema”, afirma. Os tratamentos incluem opções além da medicação, como cromoterapia e musicoterapia. São recomendadas atitudes como conversar e cantar.
A falta do tutor pode levar à depressão, a menos que sejam preservados a segurança e o bem-estar do animal. O ambiente de luto e tristeza pode mudar as atitudes do bicho. Outra causa é a solidão para raças que vivem em matilhas e as de caça, quando passam a viver em apartamentos.
Bichos sensíveis
Entre os animais silvestres, da mesma forma, a depressão pode se manifestar quando há perda de um animal companheiro da mesma espécie, observa a médica-veterinária de aves e animais silvestres Tânia Negreiros Faria, representante da Comissão Especial de Animais Selvagens do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais. Não é diferente se a solidão tomar conta principalmente daqueles que vivem em sociedade, como psitacídeos, também chamados de aves de bico curto, a exemplo dos papagaios, periquitos e calopsitas. “Os sintomas mais evidentes, além das mudanças de comportamento, são a falta de apetite e o desinteresse das coisas que ocorrem ao seu redor. A perda de apetite por 24 horas já pode ser fatal e, portanto, não se deve esperar muito para procurar ajuda”, alerta.
Especialista em medicina felina, a médica-veterinária Myriam Kátia Iser Teixeira observa que o tema da depressão não está pacificado na própria literatura mundial. Os gatos sofrem estresse com facilidade. “Qualquer mudança na rotina desses animais deve ser planejada com cautela.”
O médico-veterinário Samuel Douglas, tutor de Bastet, destaca que ainda podem desencadear sintomas de depressão doenças comuns em gatos, a exemplo de obstrução urinária em gatos não castrados, estomatites e problemas nos dentes. Os bichanos são, de fato, animais mais independentes dos tutores, mas isso não significa desamor e nem pode ser motivo de descuido com eles.
Fonte: Diário de Pernambuco
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