Projeto de banco mundial de sementes faz 10 anos com carregamento do Brasil
Por Irene Quaile/Clarissa Neher
O banco acaba de receber mais carregamento internacional, com vinte mil novas amostras, vindas inclusive do Brasil. É a segunda vez que a Embrapa envia uma carga – a primeira chegou em setembro de 2012. Ao todo, o Brasil garantiu no local a preservação de 264 amostras de milho, 541 de arroz e 514 de feijão, conta o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes.
Considerado uma potência agrícola mundial, a contribuição brasileira é importante para que o Banco de Svalbard cumpra seus objetivos. "Nós precisamos preservar a diversidade da maioria das culturas para podermos alimentar o mundo. Essa diversidade é realmente a base para a agricultura no futuro. E agricultura é para alguns o maior desafio. Nós precisaremos alimentar um bilhão de pessoas a mais nos próximos dez anos e temos que fazer isso em meio a mudanças climáticas", afirma Marie Haga, diretora executiva do GCDT.
Queda da variedade
Situações parecidas estão sendo documentadas em países europeus. "Na década de 1970, a Espanha possuía 400 variedades de melões. Atualmente, existem apenas 12. Nós estamos perdendo a diversidade nos campos devido à forma como fazemos agricultura. Por isso é muito importante conservar essas sementes em bancos de sementes pelo mundo", justifica Haga.
Em meio ao gelo, banco de Svalbard guarda tesouros mundiais
Escolha das sementesPara enviar amostras ao banco internacional, os países precisam seguir alguns critérios na escolha das sementes. Um fator decisivo é o tratado internacional que estipulou a lista de plantas prioritárias. "A lista é composta por culturas que fornecem a maior parte da ingestão calórica dos povos da Terra", afirma Maurício Antônio Lopes, da Embrapa.
Além disso, é preciso também verificar a qualidade genética da variação das sementes de culturas enviadas. Segundo Lopes, o Brasil tem escolhido enviar "coleções essenciais", pois assim a variedade genética da coleção é bem representada.
O trabalho para a seleção dessas sementes é grande. Uma modelagem biométrica complexa é usada para estabelecer quais acessos formam a coleção essencial. Após essa etapa, é necessário regenerar os acessos para produção de novas sementes com alto índice de germinação. Após esse processo, as sementes selecionadas podem ser enviadas.
O caixa-forte de Svalbard tem capacidade para guardar 4,5 milhões de sementes. A temperatura ambiente é de -7°C, mas um sistema de resfriamento a mantém o termômetro na casa dos - 18°C, ou seja, a temperatura ideal para estocar as amostras.
O tempo de sobrevivência das amostras ao congelamento, sem danificar seu material genético, é variável. "Depende fortemente da espécie de cultura particular, variando de poucas décadas até centenas ou milhares de anos, em casos raros", afirma Hannes Dempewolf, pesquisador da iniciativa.
Rede de bancos
O GCDT apoia uma rede internacional de bancos genéticos que coleta sementes de diferentes regiões. Diferentemente do localizado no permafrost na Noruega, grande parte dessas instalações sofre ameaças de guerra ou desastres naturais.
"Nós perdemos bancos de genes de plantas nas Filipinas por causa de inundações e incêndios. Muitos bancos de sementes importantes foram perdidos no Afeganistão. Atualmente, estamos muito preocupados com o que pode estar acontecendo com um banco de sementes muito importante em Aleppo, na Síria. Algo pode acontecer com uma diversidade muito importante do trigo que temos nesse local", argumenta Haga.
Amostras do Brasil chegaram ao banco internacional em fevereiro
Até o momento, Svalbard é considerado um dos locais mais seguros do mundo para o armazenamento desses exemplares. "O banco está em uma região muito acima do nível do mar. É uma parte do mundo muito estável, sem terremotos ou instabilidade política", justifica Haga.Juntamente com as amostras brasileiras que chegaram no décimo aniversário do projeto, pela primeira vez o banco recebeu um carregamento do Japão. Para Haga, salvar essas sementes e preservar um conjunto diversificado de genes de plantas é uma forma de se preparar para as mudanças climáticas.
"Há muitas incertezas pelo mundo, algumas feitas pelo homem ou por desastres naturais. No caso de acontecer um erro terrível, sabemos que há a possibilidade única de ir para Svalbard e recuperar o material perdido no mundo real", afirma Haga.
Edição Nádia Pontes
Fonte: DW.
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