O Painel Intergovernamental da ONU sobre Alterações Climáticas (IPCC) alertou nesta segunda-feira, 31 de março, que crescentes emissões de carbono vão ampliar o risco de conflitos, fome, cheias e migrações durante este século e advertiu que, se nada for feito, as emissões de gases de efeito estufa poderão custar bilhões de dólares, principalmente em danos em propriedades e ecossistemas.
A conclusão consta do relatório apresentado em Yokohama (Japão), elaborado por cerca de 500 cientistas e representantes políticos, em que é analisado o conhecimento atual das mudanças climáticas e o seu impacto no homem e na natureza em diferentes pontos do mundo.
Trata-se de “um dos mais completos relatórios científicos da história”, definiu o secretário da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Michel Jarraud, em entrevista durante a apresentação do documento. “Não há nenhuma dúvida de que o clima está mudando”, acrescentou, e que “95% dessas mudanças devem-se à ação humana”.
O relatório apresentado pelo IPCC – criado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnuma) e pela OMM – analisa os efeitos das alterações climáticas atualmente, a médio (entre 2030 e 2040) e a longo prazo (2080-2100), tendo em conta um aquecimento global entre 2 e 4 graus centígrados, baseado em projeções atuais.
No caso da Europa, as mudanças climáticas vão provocar um aumento das restrições de água devido à “significativa redução da extração dos rios e aquíferos subterrâneos” combinada com o aumento da procura para irrigação, energia, indústria e uso doméstico, diz o documento citado pelas agências internacionais.
O processo será intensificado em determinadas áreas do continente, devido à maior perda de água por meio do seu processo natural de evaporação, particularmente no Sul da Europa”, acrescenta o relatório.
Eventos extremos
Outro risco para a Europa refere-se ao aumento do calor, que pode ter impacto negativo na saúde e no bem-estar da população, na produtividade, na produção agrícola e na qualidade do ar, bem como ao risco de incêndios florestais “no Sul do continente e no Extremo Norte da Rússia”.
No relatório, o IPCC alerta, além disso, para a maior probabilidade de inundações nas zonas costeiras devido à crescente urbanização, ao aumento do nível do mar e à erosão da costa.
A fim de atenuar esses riscos, o IPCC apela aos líderes políticos para que tomem medidas a fim de reforçar os sistemas de vigilância, advertindo para “eventos climáticos extremos”, melhorem a gestão de recursos hídricos e as políticas para promover a poupança de água ou para combater os incêndios florestais.
Consequências catastróficas
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, alertou que se não houver uma ação imediata diante das alterações climáticas, o mundo vai enfrentar consequências “catastróficas” .
“Se não agirmos de forma dramática e rápida, a ciência diz que o nosso clima e o nosso modo de vida estão literalmente em perigo”, ressaltou Kerry em comunicado divulgado em Paris, onde se deslocou para conversações com a Rússia sobre a crise ucraniana.
O secretário de Estado norte-americano destacou que “negar a ciência é negligência”, advertindo que “os custos da inércia são catastróficos”.
Os Estados Unidos e a China encontram-se no grupo dos principais poluidores do mundo, mas John Kerry lembra que não é apenas um país que provoca alterações climáticas, da mesma forma que não é apenas uma nação que as pode travar.
Atuação urgente
A comissária europeia da Ação pelo Clima, Connie Hedegaard, advertiu que não se pode suspender as alterações climáticas e pediu aos parceiros internacionais que atuem urgentemente para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
“Carregar no botão ‘adiar’ não funciona quando se trata do clima”, observou Hedegaard em comunicado, após conhecer os resultados do relatório divulgado hoje.
“Mais conhecimento é sempre bom, mais ação seria ainda melhor”, lembrou Hedegaard, destacando que é hora de “despertar e atuar da forma necessária”.
A comissária disse que a União Europeia prepara a adoção de um objetivo “ambicioso” de redução em 40% das emissões de gases de efeito de estufa até 2030, em relação aos níveis de 1990. Ela espera que a meta seja adotada até ao fim deste ano, após a aprovação pelos Estados-Membros e pelo Parlamento europeu.
Hedegaard pediu a “todos os grandes emissores” desses gases contaminantes que “façam o mesmo com urgência”, e insistiu que não se pode deixar de atuar contra as alterações climáticas.
“Ao acordar com o alarme do relógio todas as manhãs, carregar no botão de ‘repetição’ pode parecer que nos dá mais um momento de calma antes de termos de nos levantar e enfrentar o dia. Mas esse tempo adicional será uma ajuda?. Não quando se trata do clima”, comparou Hedegaard.
- Conheça aqui mais detalhes do relatório do IPCC em PDF (em espanhol) -
* Publicado originalmente no site EcoD.
(EcoD)
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