[EcoDebate] O sol é um astro produtor de energia que libera, anualmente, 4 milhões de vezes a energia que consumimos. A terra recebe do sol uma quantidade diária 10.000 vezes o consumo mundial de energia. Uma parte da energia emitida pelo sol que chega ao nosso planeta é refletida de volta para o espaço, outra parte se perde na evaporação da água, mais um tanto é absorvido pelas plantas, pela terra e oceanos.
Mas a energia restante é plenamente capaz de atender, com sobras, toda a demanda antrópica. As principais vantagens da energia solar são: menor grau de emissão de gases de efeito estufa (GEE), a possibilidade de atender áreas remotas sem longas linhas de transmissão e o baixo custo de manutenção das usinas. As principais desvantagens são: a intermitência da produção (em dias nublados ou chuvosos), a dificuldade de se produzir energia à noite e a impossibilidade de se estocar grandes quantidades de energia (como acontece com o petróleo).
Como escrevi em outro artigo (Alves, 21/02/2014), a energia solar fotovoltaica (Photovoltaics – PV) é a forma de produção de eletricidade que mais cresce no mundo atualmente. De 1995 a 2013 a capacidade global de produção de energia solar fotovoltaica aumentou mais de 200 vezes, passando de 0,6 gigawatts (GW) para mais de 120 GW. Foi um crescimento exponencial impressionante. Se a produção de energia fotovoltaica mantiver um ritmo de dobrar a capacidade instalada a cada 3 anos, grande parte da crise energética da humanidade poderia ser equacionada em até 30 anos. Mas nada garante que isto vá acontecer.
Diferentemente da fotovoltaica, a energia Solar Concentrada (CSP) utiliza espelhos para concentrar a luz solar sobre um encanamento ou em uma torre, aquecendo uma mistura de sal fundido, que em contato com a água produz vapor em seu interior. Este vapor aciona então as turbinas e os geradores de eletricidade. Para estocar calor e operar 24h, mesmo em dias de pouca radiação solar, as usinas usam um processo de armazenamento térmico, que mantém milhares de litros de sal fundido a temperaturas elevadas, insumo utilizado para acionar as turbinas a vapor, produzindo energia mesmo durante a noite.
Por exemplo, o projeto “Desertec” é uma proposta conceitual que visa produzir energia solar e eólica nos desertos do norte da África e do Oriente Médio. Somente, uma área do tamanho de Estado de Sergipe seria suficiente, em tese, para produzir energia para o mundo todo. O projeto Desertec pretende abastecer 15% da demanda europeia de energia com fontes renováveis até 2050.
Os Emirados Árabes inauguraram em 2013 sua primeira grande usina solar CSP. A usina Shams 1, como foi nomeada, está entre as maiores centrais do tipo no mundo. O Gemasolar Concentrated Solar Power Plant (CSP), perto de Sevilha, Espanha, atingiu um total de 24 horas de produção de energia solar em um mês após entrar em operação, sendo que a planta tem capacidade de 19,9 MW.
Nos Estados Unidos, o projeto Ivanpah pretende ser uma usina solar capaz de gerar 1 milhão de MWh por ano, beneficiando mais de 400 mil casas e reduzindo a emissão de dióxido de carbono. A construção instalada na Califórnia (no Deserto de Mojave) tem capacidade individual de 392 MW e é composta por três plantas, que juntas ocupam um espaço de 3.500 acres. A primeira fase foi finalizada em fevereiro de 2014.
Como visto, diversos países estão investindo pesadamente na produção energia solar concentrada, como forma de garantir a segurança energética e como estratégia de desenvolver uma nova fronteira de produção que possibilite avanços no processo de descarbonização da economia. Para mitigar a atual crise ambiental e o aquecimento global o caminho passa pela superação da dependência dos combustíveis fósseis. Embora a produção de energia renovável não esteja isenta de problemas ambientais, pode ser um caminho, ou uma pequena trilha, para uma maior harmonia entre o ser humano e a natureza.
Mesmo assim, não vai ser fácil superar o atual modelo econômico que suga os recursos da natureza e degrada o meio ambiente. Não adianta renovar a matriz energética sem renovar o modelo de desenvolvimento consumista, concentrador de riqueza e explorador da natureza.
Referências:
Vanessa Barbosa. 10 das maiores usinas de energia solar concentrada do mundo, Exame, 18/03/2013
http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/10-das-maiores-usinas-de-energia-solar-concentrada-do-mundo#1
AFP. Usina de energia solar ocupa área de 300 campos de futebol, Terra, 19 de Março de 2013
http://noticias.terra.com.br/ciencia/videos/usina-de-energia-solar-ocupa-area-de-300-campos-de-futebol,462038.html
DESERTEC. http://www.desertec.org/
Lenny Bernstein. Solar on a grand scale: Big power plants coming online in the West, The Washington Post, January 16, 2014
http://www.washingtonpost.com/national/health-science/solar-on-a-grand-scale-big-power-plants-coming-online-in-the-west/2014/01/16/80d68182-68fc-11e3-ae56-22de072140a2_story.html?hpid=z3
Fabiano Ávila. Maior usina solar térmica do mundo entra em operação. Carbono Brasil, 14/02/2014
http://www.institutocarbonobrasil.org.br/energias1/noticia=736366
ALVES, JED. Energia renovável: um salto na evolução? EcoDebate, RJ, 29/01/2010
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ALVES, JED. Energia verde para reduzir a pegada ecológica. EcoDebate, RJ, 04/02/2010
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ALVES, JED. Blowin’ In The Wind: Itaipus de cataventos. Ecodebate, RJ, 05/02/2010
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ALVES, JED. Existe dinheiro para limpar a matriz energética do mundo? EcoDebate, RJ, 26/02/2010
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ALVES, JED. Uma dúvida sobre o pré-sal e o sonho da (in)segurança. EcoDebate, RJ, 12/03/2010
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ALVES, JED. Era do Sol/Vento. EcoDebate, RJ, 03/02/2011
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ALVES, JED. O Brasil pode ser a “Arábia Saudita” da energia renovável. EcoDebate, RJ, 09/06/2011
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ALVES, JED. O pico de Hubbert e o fim dos combustíveis fósseis. EcoDebate, RJ, 07/03/2012
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ALVES, JED. O pico dos combustíveis fósseis e a próxima crise econômica internacional. EcoDebate, Rio de Janeiro, 21/08/2013
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ALVES, JED. Turbina eólica vertical urbana. EcoDebate, Rio de Janeiro, 04/09/2013
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ALVES, JED. Gás de Xisto: a festa de despedida dos combustíveis fósseis? EcoDebate, RJ, 04/11/2013
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ALVES, JED. Petróleo, aquecimento global e doença holandesa: os riscos do pré-sal. EcoDebate, RJ, 29/11/2013
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ALVES, JED. Combustíveis fósseis dominarão a matriz energética até 2040, EcoDebate, RJ, 12/12/2013
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ALVES, JED. Energia renovável: o otimismo exponencial de Ray Kurzweil. EcoDebate, RJ, 16/12/2013
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ALVES, JED. A erosão da EROEI: Energia Retornada sobre Energia Investida. EcoDebate, RJ, 18/12/2013
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ALVES, JED. O Pico do Petróleo e o aumento do Preço dos Alimentos. EcoDebate, RJ, 20/12/2013
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ALVES, JED. Bolha de Carbono: crise ambiental ou crise financeira? EcoDebate, RJ, 05/02/2014
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ALVES, JED. Os ventos favoráveis da energia eólica, EcoDebate, RJ, 19/02/2014
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ALVES, JED. Esquenta a produção global de energia solar. EcoDebate, RJ, 21/02/2014
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José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 21/03/2014
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