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quinta-feira, 11 de março de 2010
Inambari, a polêmica hidrelétrica brasileira, provoca violentos protestos no Peru
O Brasil vive atualmente um impressionante “boom” de hidrelétricas. Na Amazônia temos as duas do rio Madeira, Belo Monte no Xingu e o complexo hidrelétrico do Tapajós com cinco hidrelétricas que irão a leilão ainda esse ano. E também temos as hidrelétricas de Estreito, Serra Quebrada, Tupiratins, Marabá no rio Tocantins, fora outras que serão construídas no sul do país mostrando que essa onda de hidrelétricas não é um privilegio somente da Amazônia brasileira.
O fato é que grande parte dessas obras afeta diretamente vários povos indígenas do sul ao norte do país. Tampouco essa onda se restringe aos limites de nosso país. O Brasil também está exportando suas megas hidrelétricas aos países vizinhos, como o Peru.
Desde novembro de 2006 que Peru e Brasil vêm iniciando um entendimento para uma integração energética entre os dois países. Acordo que prevê a construção de seis hidrelétricas na Amazônia peruana: Inambari com 2.000 mw, Sumabeni com 1.074 mw, Paquitzapango com 2.000 mw, Urubamba com 950 mw, Vizcatán com 750 mw e Chuquipampa com 800 mw. As seis hidrelétricas gerarão mais de sete mil mw a partir do início de seus funcionamentos em 2015. O Brasil promove e financiará essas obras com a pretensão de comprar 80 % dessa produção.
Mas o número de hidrelétricas não ficará em apenas seis, ambos os governos falam de um total de 15 hidrelétricas a serem construídas com tecnologia brasileira para atender o mercado brasileiro. De acordo com o ministro de Minas e Energia do Brasil, Edison Lobão, esta produção poderia atingir 20 mil mw.
O Acordo para o Fornecimento de Eletricidade ao Peru e Exportação de Excedentes ao Brasil que durará 30 anos já está pronto e prestes a ser assinado.
Inambari será a primeira dessas seis hidrelétricas já previstas. Um projeto econômico e energeticamente ambicioso. Até hoje a Amazônia peruana nunca tinha visto nenhuma obra desta dimensão. Inambari será a maior hidrelétrica do Peru, a quinta da América do Sul, e com seus 41 mil ha de área de inundação formaria o segundo maior lago do país, só perdendo para o próprio lago Titicaca.
Seus dois mil mw representam hoje a metade de toda a demanda energética atual do Peru e o Brasil ficará com 80 % dessa energia. Para levar a energia até o Brasil construirão 1.500 km de linhas elétricas de transmissão, que conectará as redes elétricas de ambos os países. Inambari custará quatro bilhões de dólares, demorará cinco anos e será feita por um consórcio integrado pelas brasileiras OAS, Electrobras e Furnas que investirão quatro bilhões de dólares na sua construção. Grande parte desses recursos será fornecido pelo BNDES.
Com o início de suas obras previsto para o final deste ano Inambari inundará 27 centros povoados peruanos, deslocará 3.500 pessoas e afetará 4.600 moradores indiretamente.
Localizada a 300 km da fronteira com o Brasil, nos limites dos departamentos peruanos de Puno, Cusco e Madre de Dios, Inambari também represará água para promover um maior aproveitamento das hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio, no rio Madeira, durante as épocas de estiagem.
Protestos
Nos últimos dia 4 e 5 de março os moradores dos 27 centros povoados afetados pela hidrelétrica promoveram um protesto de 48 horas na cidade de Puno. Mais de 1.800 moradores participaram e houve bloqueio das principais ruas que dão acesso a cidade. O comércio foi fechado e vários trabalhadores e donos de transportes públicos juntaram-se a paralisação.
Durante as manifestações milhares de pessoas gritaram durante horas “não a central hidrelétrica de Inambari”. Afirmam que Puno não quer essa hidrelétrica e questionam o Governo que negocia as escondidas com o Brasil sem consultar a região, afirmando que não vão permitir isso.
Houve enfrentamentos com os policiais e a prisão de três líderes do movimento, o que provocou um ataque dos manifestantes e alunos da Universidad Nacional del Altiplano (UNA). Os estudantes atacaram a delegacia com pedras e a polícia respondeu com gases lacrimogêneos. Atacaram também a sede do Governo estadual de Puno onde fica a Seguridade do Estado quebrando suas janelas.
O projeto de construção da hidrelétrica é rejeitado por mais de 60 organizações sociais andinas que sinalizam que em breve vão fazer uma marcha até a cidade de Lima, capital do país. Na região Amazônica mais de 30 comunidades nativas pertencentes a Federação Nativa de Madre de Dios – FENAMAD rejeitaram também a hidrelétrica através de um comunicado oficial.
Expertos sinalizam que o custo ambiental e social será muito alto. O colégio de engenheiros do Peru declarou que o seu país consumirá muito pouco da energia produzida, mas ficará com todos os impactos sociais e ambientais. Em fevereiro deste ano também um grupo de organizações da sociedade civil peruana e universidades assinaram um termo com questionamentos e recomendações ao projeto de integração energética que ambos os países estão prestes a assinar.
O Peru vem de uma série de conflitos sociais violentos por causa da agressiva política do atual presidente Alan García em conceder para a exploração os recursos amazônicos sem consultar os seus moradores indígenas. Em 5 de junho de 2009, a menos de 1 anos atrás, os indígenas amazônicos peruanos em protesto contra essa política de Governo que pretendia facilitar o acesso a suas terras para plantações de biocombustíveis entraram em violentos confrontos com a polícia. O resultado foi um saldo de 33 mortos, sendo 23 policiais, 5 civis e 5 indígenas. Uma tragédia que sacudiu o país. Tudo parece que novos confrontos estão sendo gerados no Peru e desta vez nós brasileiros poderemos estar diretamente envolvidos.
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FONTE : Hilton S. Nascimento e Helena Ladeira, EcoDebate (11/03/2010)
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LULA DEPREDADOR DA AMAZÔNIA
Depredador da Amazônia, artigo de Leonardo Boff
O governo Lula possui méritos inegáveis na questão social. Mas, na questão ambiental, é de uma inconsciência e de um atraso palmar. Ao analisar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) temos a impressão de sermos devolvidos ao século XIX.
É a mesma mentalidade que vê a natureza como mera reserva de recursos, base para alavancar projetos faraônicos, levados avante a ferro e fogo, dentro de um modelo de crescimento ultrapassado que favorece as grandes empresas à custa da depredação da natureza e da criação de muita pobreza.
Este modelo está sendo questionado no mundo inteiro por desestabilizar o planeta Terra como um todo e mesmo assim é assumido pelo PAC sem qualquer escrúpulo. A discussão com as populações afetadas e com a sociedade foi pífia. impera a lógica autoritária: primeiro decide-se, depois convoca-se a audiência pública. Pois é exatamente isto que está ocorrendo com o projeto da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingu, no Pará.
Tudo está sendo levado aos trambolhões, atropelando processos, ocultando o importante parecer 114/09 de dezembro de 2009, emitido pelo IBAMA (órgão que cuida das questões ambientais) contrário à construção da usina, a opinião da maioria dos Ambientalistas nacionais e internacionais que dizem ser este projeto um grave equívoco com consequências ambientais imprevisíveis.
O Ministério Público Federal, que encaminhou processos de embargo, eventualmente levando a questão a foros internacionais, sofreu coação da Advocacia Geral da União (AGU), com o apoio público do presidente, de processar os procuradores e promotores destas ações por abuso de poder.
Esse projeto vem da ditadura militar dos anos 70. Sob pressão dos indígenas apoiados pelo cantor Sting, em parceria com o cacique Raoni, foi engavetado em 1989. Agora, com a licença prévia concedida no dia 1º de fevereiro, o projeto da ditadura pôde voltar triunfalmente, apresentado pelo governo como a maior obra do PAC
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http://www.ecodebate.com.br/2010/03/02/depredador-da-amazonia-artigo-de-leonardo-boff/
mariasabinachaman@gmail.com
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