Qualquer monocultivo em escala industrial, em especial o afeto ao plantio de milhões de árvores clonadas de eucalipto, é incompatível com o propalado desenvolvimento sustentável”.
A afirmação é do geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves e foi divulgada pela ONG WRM. Ele critica os extensos plantios de eucalipto que tomam as áreas de Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, entre outros estados brasileiros.
A constatação do geógrafo se deu após análises no Vale do Paraíba, em São Paulo. Lá ele constatou uma série sem precedentes de devastação ambiental por conta da total ausência de monitoramento estatal e do desrespeito às leis ambientais. Com isso, diz o estudioso, o que se vê atualmente é a ocupação de topos de morros, a afronta a áreas de mananciais e a violação a matas ciliares.
Em Taubaté, por exemplo, nem mesmo a bacia do rio Uma (manancial responsável pelo abastecimento de água potável para as populações de Taubaté e Tremembé) foi poupada. Embora oficialmente tombada pela municipalidade taubateana por sua significativa riqueza hídrica, paisagística e ecológica, a bacia do rio encontra-se tomada por grandes plantações de eucalipto.
Aqui, o cenário não é diferente. Conforme os depoimentos de índios e quilombolas do norte do Estado, inúmeros córregos desapareceram após a implantação dos extensos plantios de eucalipto da Aracruz Celulose (atual Fibria), na região.
“A monocultura do eucalipto não pode ser aceita como floresta, posto que não cumpre o ciclo biológico de devolução dos nutrientes tão característico das florestas nativas e é incompatível com a biodiversidade”.
O geógrafo critica ainda os eucaliptais clonados, que, segundo o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), apesar da negativa da empresa, também são plantados no norte e no do Estado, através,inclusive, do fomento florestal (programa que incentiva o plantio em terras particulares).
“Diante do rápido crescimento das árvores clonadas, todos os nutrientes exauridos da terra pelas árvores são transferidos e aniquilados no processo industrial da pasta de celulose, num processo tecnicamente conhecido como exportação de campo, deixando para trás as terras devastadas, a paisagem lunar, enormes áreas sobrecarregadas com os tocos mortos”.
A agravar ainda mais os efeitos nocivos ao meio ambiente, estes plantios são tratados com a aplicação de toneladas de herbicidas à base de glifosato (elemento químico altamente nocivo ao meio ambiente e cancerígeno), que, via de regra aplicado em topos de morros, escorrem para as áreas baixas, contaminando mananciais.
No Estado, a mortandade de peixes, a desertificação do solo, a contaminação das águas antes utilizadas como lazer e abastecimento das comunidades tradicionais do norte, já foram exaustivamente denunciadas aos órgãos ambientais, mas nada é feito.
Em estudo que se tornou marco sobre o tema, o cientista Augusto Ruschi, assegurou que o consumo assombroso de água derivado da monocultura do eucalipto é responsável pela deficiência hídrica verificada no norte do Espírito Santo.
Já em São Paulo, na pequena cidade de Piquete, o agrotóxico foi responsável pela morte de mais de 8 mil quilos de peixes, centenas de suínos, pássaros silvestres, anfíbios e árvores frutíferas, para não se falar na contaminação dos moradores do entorno de grande latifúndio de eucalipto.
Os extensos plantios de eucalipto também deixam pra trás a destruição da diversidade cultural das localidades campesinas, inviabilizando o desenvolvimento da agricultura familiar. Segundo o estudo, esse plantio “faz com que se extingam manifestações culturais tradicionais como festejos populares, atos devocionais emanados de lugares tidos como sagrados pela população originária, agora suprimidos pelos grandes latifúndios do eucalipto, consumando tudo de ruim que se possa perceber numa região já assolada pelo avanço do monocultivo”.
Como se vê, de floresta o eucalipto possui apenas a cor verde. Um verde enganador, dizem os ambientalitas.
“As vastas plantações de eucalipto não são florestas, e não geram nem a décima parte da oferta de empregos bradada por seus empreendedores. Todos esses questionamentos socioambientais já estão sendo realizados, com êxito, pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo que, em três ações civis públicas ajuizadas em São Luiz do Paraitinga, Distrito de Catuçaba e Piquete, conseguiu acessar decisões judiciais suspendendo os projetos futuros do monocultivo nessas localidades”.
A medida é considerada uma vitória e um exemplo para o Espírito Santo, onde as autoridades fecham os olhos diante dos impactos gerados pela monocultura do eucalipto.
No Estado, sofrem com o plantio de eucaliptos pela Aracruz Celulose, principalmente os municípios de Conceição da Barra e São Mateus. Entretanto, extensos plantios também podem ser encontrados no sul do Estado, inclusive em topos de morros.
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FONTE : SeculoDiario
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