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quinta-feira, 11 de março de 2010
Mais de 6 bilhões de toneladas de gás-estufa são emitidas por ano na produção de bens levados a nações ricas
Países pobres “exportam” 23% de seu CO2 – Maior fluxo de emissões “terceirizadas” é dos EUA para a China; com atraso no acordo do clima, situação alimenta ideia de imposto
Quase um quarto do volume de gases do efeito estufa emitidos por países pobres (23%) tem como origem produtos e serviços vendidos a países ricos, indica um estudo. Analisando a complexa malha internacional de relações comerciais, o trabalho conclui que em 2004, ano base da pesquisa, nações desenvolvidas produziram indiretamente 6,2 bilhões de toneladas de gás carbônico.
Assinado por Steven Davis e Ken Caldeira, da Instituição Carnegie de Washington, o estudo [Consumption-based accounting of CO2 emissions] avaliou o comércio relacionado a 57 setores da indústria em 113 países. Publicado na edição de ontem da revista “PNAS”, o trabalho contribui para o debate de uma das grandes questões na negociação de metas de cortes de emissões. O CO2 emitido para produzir um determinado bem deve ser contabilizado por quem o fabrica ou por quem o consome? Reportagem de Rafael Garcia, na Folha de S.Paulo, com informações complementares do EcoDebate.
“Estamos mostrando que uma política regional para combater o aquecimento global não seria eficiente nos EUA, por exemplo, se as pessoas puderem simplesmente importar produtos de países como a China e esses países não tiverem restrição de emissões”, disse Davis à Folha.
Esses dois países são mesmo exemplos diametralmente opostos -um “importa” CO2 enquanto o outro “exporta”-, mas ambos se beneficiam da situação. Se por um lado a China engorda sua economia queimando combustíveis fósseis para produzir bens exportáveis, por outro os americanos acabam mascarando o impacto ambiental de seu consumismo.
Davis, porém, diz que mapear esse comércio disfarçado de emissões pode ajudar na negociação do acordo do clima. “A China e outros países relutantes em se comprometer com uma meta de redução de emissões podem se tornar mais propensos a negociar se puderem usar esse argumento para convencer nações ricas a pagarem parte do custo de mitigação.”
A estimativa da responsabilidade indireta dos países ricos no estudo de Davis é até conservadora, porque só considera a emissão de CO2 por meio de queima de combustíveis fósseis. Atividades econômicas que alimentam o desmatamento brasileiro, por exemplo, ainda não foram contabilizadas, por serem mais complexas.
Ele também ataca o conceito de “responsabilidade histórica” dos países ricos sobre o aquecimento global. Segundo esse argumento, essas nações deveriam arcar com a conta da mitigação da mudança climática mais por terem emitido gases-estufa no passado do que no presente, pois muitas delas já não são grandes emissoras.
Se o consumo em nações desenvolvidas for responsabilizado por emissões, porém, nações “limpas”, como o Japão e os países nórdicos, ainda são grandes emissores. “A tendência histórica está continuando, não se alterando”, diz Davis.
Luiz Gylvan Meira Filho, do Instituto de Estudos Avançados da USP, especialista em mudança climática, diz que uma divisão de responsabilidades sobre emissões levando em conta o consumo em vez da produção não seria necessariamente mais justa. “Não há nenhuma regra física dizendo que uma seja melhor que outra.”
Para ele, porém, quanto mais o acordo global do clima atrasa, mais o desequilíbrio na “balança comercial” das emissões estimula o que todos temem: a criação de impostos sobre produtos que emitem carbono.
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FONTE : artigo “Consumption-based accounting of CO2 emissions“, de Steven J. Davis e Ken Caldeira (EcoDebate, 11/03/2010)
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