Aparelho menor que um grão de arroz será implantado em cães, gatos, cavalos, asnos e burros
939000002013393. Precisamente 15 dígitos. Não se trata de um número correspondente ao código de barras de uma taxa pagável em algum banco. É uma combinação única. E é do Golias, um vira-lata fanfarrão, de pelo preto e olhar pra lá de adocicado. Como ele, todos os animais domésticos de Florianópolis terão de carregar sob a pele um microchip com um número identificador. É lei.
O projeto enviado pelo Executivo foi aprovado pela Câmara de Vereadores da Capital na terça-feira passada. Agora é preciso o prefeito Dário Berger assinar o documento para passar a valer. Cães, gatos, cavalos, asnos e burros residentes em Florianópolis serão obrigados a ter o microchip, disponibilizado pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). A Secretaria de Saúde comprou 800 mil transponderes (outro nome do aparelho que tem o tamanho de um grão de arroz) e promete implantar a preço de custo. O valor ainda não foi calculado.
A partir da leitura do número contido no equipamento, acessa-se um banco de dados mundial com todas as informações do animal. Nome, cor, raça, data de nascimento, vacinas, intercorrências e, principalmente, quem é o dono, com endereço, telefone e número de CPF.
– Acho ótimo. Se a minha cachorra fugir, saberão que ela é minha – opina Ana Lúcia Pauletti.
Agora que a cadelinha Cacau completou três meses, Ana Lúcia passeia com ela diariamente na Avenida Beira-Mar Norte, em Florianópolis.
Donos zelosos como Ana não estão na mira da prefeitura, apesar de também estarem enquadrados na lei.Caso deixem seus cãezinhos soltos pelas ruas, serão acionados. Mas o principal objetivo é evitar que animais sejam abandonados e vítimas de maus-tratos.
Não há dados sobre a quantidade de cães e gatos de rua na cidade. O que se sabe é que a Diretoria do Bem-Estar Animal recebe em média 50 ligações diárias, com denúncias deste tipo. Foram 4.012 relatos de violência entre 2005 e março de 2010.
– Em casos de mordedura, o dono costuma dizer que o cão não é dele. Agora, não terá como fugir – acrescenta Maria da Graça Dutra, diretora de Bem-Estar Animal e autora do projeto de lei.
Servirá para fazer o censo dos animais nas cidades
Coordenador do Hospital Universitário da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em Lages, Aury Nunes de Moraes entende que o banco de dados, se abastecido corretamente, poderá servir para diagnosticar a população de animais, com contagem dos bichos, levantamento de raças e de doenças. Segundo ele, não há contraindicação à implantação do microchip, como rejeição do organismo ou dor em demasia na hora da aplicação.
Golias, microchipado em 27 de outubro do ano passado, faz valer o que o professor garante. Brinca como qualquer cachorro-bebê. Tem sete meses e tornou-se o mascote do CCZ. Na nuca, não há sinais que indiquem a intervenção. Só se sabe que ele é um cão high-tech ao passar a leitora. O equipamento apita e o visor enumera: 939000002013393.
Até no alazão
O veterinário Rudnei João de Souza está acostumado a implantar o microchip em cavalos. Ele já fez o procedimento em 50 animais, em Florianópolis, no ano passado, bem antes da aprovação da lei.
Na última sexta-feira, contratado pelo dono de um macho da raça crioulo, ele microchipou o cavalo, em São José, na Grande Florianópolis, cidade que ainda não tem a prática regulamentada.
A reportagem do DC acompanhou o procedimento. O veterinário raspou o pelo do animal, desinfectou e aplicou a injeção. Tudo durou menos de um minuto. O cavalo mexeu a cabeça e patas apenas na hora da picada. Logo se acalmou e não mais reagiu.
– É fundamental fazer a assepsia na pele, porque como a agulha é grossa, na hora da inserção, ela pode levar algum material ou microorganismo que está na pele do bicho e isso sim pode provocar uma infecção – afirmou.
Cavalos que participam de competições já são obrigados a ter o registro eletrônico.
Lages quer identificar 24 mil cães
Em Santa Catarina, além de Florianópolis, Lages passou a implantar o microchip na última terça-feira. A regra vale apenas para cães disponíveis para adoção no Centro de Zoonoses. A partir de abril, o programa será estendido a todos.
Por enquanto, serão chipados 24 mil cães. Destes, cerca de 10 mil vivem abandonados. Por dia, são levados ao Centro, em média, sete animais sem lar. Como muitos estão machucados ou doentes, entre 20% e 30% são sacrificados, pois o risco de contaminação do canil, com capacidade para 50 cães, é grande.
Implantação poderá ser feita de graça na cidade
A aplicação do chip será gratuita e feita no próprio Centro de Zoonoses. Os interessados devem levar seus cães e apresentar os documentos pessoais e comprovante de residência. É feito um Registro Geral de Animal (RGA) com uma numeração, os dados do cão e do dono, e uma carteirinha é entregue ao proprietário.
– Não podemos obrigar ninguém a implantar o chip nos seus cães, mas se o cidadão cuida bem do bicho, ele certamente fará questão de aderir ao programa. Nosso objetivo é reduzir a população de cães de rua, que podem morder as pessoas ou espalhar doenças, e promover a propriedade responsável de animais – explica a veterinária Andrea Vieira Paes.
Interessados em adotar os cães do Centro de Controle de Zoonoses de Lages podem ir diretamente ao órgão, no Bairro Tributo, ou telefonar para (49) 3223-0815.
Em São Paulo já existe
No Brasil, a obrigatoriedade do registro eletrônico já é regra em Americana e Itapira, cidades do interior de São Paulo. Na Capital paulista, uma lei de 2008 obriga que petshops e criadores também insiram o aparato eletrônico. Mas não há exigência para a população.
Gustavo Mantovani, médico-veterinário do CãoChorro, projeto que já microchipou 5 mil animais em dois anos, em Americana, garante que a aplicação é como uma vacina e o procedimento dura menos de três minutos.
– O microchip não emite radiaçãoporque ele é um circuito de baixa frequência. O importante é que alguém capacitado faça a implantação – diz.
Há pontos padronizados internacionalmente para inserção em cada espécie. Todos são sob a pele.
Mantovani também trabalha na D4, representante no Brasil de uma das empresas pioneiras na fabricação de microchips para animais, a Destron Fearing. O Brasil não produz o equipamento.
Ele explica que independentemente da marca, todos os microchips são encapsulados em biovidro, o que impede a rejeição pelo organismo ao aparelho, e têm dispositivo que barra a migração da cápsula.
Fora do país, Irlanda e Inglaterra também obrigam a identificação eletrônica. A Comunidade Europeia limitou para julho de 2011 a exigência. Em países como Austrália, Japão, Canadá e EUA, a microchipagem é exigida para a entrada de animais.
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FONTE : Diário Catarinense, edição de 15/março/2010.
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