A necessidade de geração de energia para sustentar o crescimento econômico do País tem sido o principal argumento do governo para a construção das grandes hidrelétricas. Um argumento reforçado pela idéia de que essas mega-usinas provocam um baixo impacto ambiental, que são energias renováveis, etc.
Embora evitem a queima de combustíveis fósseis, as hidrelétricas não são tão sustentáveis quanto se apregoa. Elas provocam alterações climáticas, afetam a biodiversidade, afetam a vida das comunidades do entorno e aumentam a emissão de gás metano, que tem um potencial de aquecimento 60 vezes maior que o do CO², entre outros impactos.
Na verdade, há motivos de sobra para se evitar a construção das grandes hidrelétricas, mas talvez o principal deles seja o fato de que elas podem estar "perdendo mercado" rapidamente para soluções alternativas mais sustentáveis, correndo o risco de transformarem-se em verdadeiros elefantes brancos. As novas tecnologias são baseadas principalmente na luz solar e no vento, que são fontes renováveis, abundantes e de grande potencial de geração de energia, e na evolução das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), de baixo impacto ambiental.
Um fenômeno importante que tem sido pouco observado é a tendência de redução das fontes geradoras de energia, num movimento sintonizado com a busca de sustentabilidade particular, ou individual. Por que, por exemplo, pequenos aparelhos eletrônicos, como celular, mp3 player e câmeras precisam depender da energia gerada em Itaipu? Ou, por que um chuveiro não pode ter uma fonte geradora de energia particular? As escalas vão-se ampliando para a casa consumidora e geradora de energia, a fábrica, o condomínio, a cidade, assim por diante.
Já é uma tendência de mercado. Uma empresa norte-americana acaba de lançar um pequeno gerador de energia que utiliza a iluminação artificial ou natural do ambiente, armazena essa nergia e está sempre pronto para ser usado em aparelhos com entrada USB. Pouca coisa? Não, considerando que em 2009 a quantidade de celulares no mundo chegou a 4,6 bilhões, de MP3 Players a 1 bilhão e de câmeras digitais a 3 bilhões, todos carregados com energia elétrica.
E haja criatividade. Pesquisadores nos EUA estão tentando transformar as estradas em fontes geradoras de energia, através de placas solares especiais que substituiriam o asfalto. De acordo com a empresa Solar Roadways, se o piso de todas as rodovias norte-americanas for substituído pelas placas, a quantidade de energia gerada seria capaz de suprir toda a demanda do país. O próprio governo já investiu 100 mil dólares em testes com um painel de 3,5m x 3,5m. Além de gerar energia as placas podem aquecer o solo e derreter o gelo acumulado nas vias no período de inverno. Soltando a imaginação, os pesquisadores já pensam até na possiblidade de carregar os carros elétricos que passarem pelas placas ou que estacionarem sobre elas.
Os paineis solares estão cada vez mais baratos e eficientes. A China é um dos países que mais tem investido no desenvolvimento de tecnologias para geração de energia solar e eólica nos último anos. Como patrocinadores, os chineses estão fornecendo painéis fotovoltaicos para alimentar 20 centros esportivos, na copa do mundo da África do Sul. A Alemanha também é um dos pólos industriais mundiais mais avançados em tecnologia de geração de energia solar.
No Brasil, estudantes de seis universidades criaram uma casa para ser energeticamente sustentável, batizada de Casa Solar Flex. O projeto participará da competição internacional Solar Decathlon Europe (SDE), que acontecerá em junho deste ano, em Madri, na Espanha. A casa tem 70 metros quadrados de área construída e possui um sistema de automação através de painéis fotovoltaicos acionados de acordo com o posicionamento do sol para aproveitar ao máximo a energia solar.
A tecnologia em energia eólica também avança rapidamente para soluções tanto de grande quanto de pequena escala. Uma estrada, no futuro, poderá ser iluminada com energia produzida por turbinas eólicas movidas pelo vento provocado pelo deslocamento dos carros. A idéia já está sendo testada por uma empresa norte-americana.
Uma empresa italiana está lançando uma turbina eólica residencial e promete "revolucionar" o mercado. O produto, que se chama Revolutionair, tem um formato retangular e potência para gerar até 1.600 kWh por ano, o produto poderá ser instalado em jardins, quintais e telhados e abastecer casas e pequenas empresas com eletricidade limpa.
O Brasil é, pela própria natureza, privilegiado nas suas condições de incidência de luz solar e de ventos e os dois tipos de energia vem ganhando mercado rapidamente no país. Há dificuldades de estabilização do fornecimento de energia gerada por turbinas eólicas ou de painéis solares, mas há também diversas soluções para essas dificuldades, especialmente através de sistemas hibridos.
Se esta for uma tendência duradoura, como parece ser, no futuro poderemos ter uma sociedade abastecida por múltiplas fontes de energia, adaptadas às condições do consumo, sem depender de mega-geradoras, com todos os problemas decorrentes de seu gigantismo, entre eles o complexo, instável e caro sistema de distribuição.
As grandes hidrelétricas são altamente justificáveis quando se pensa na demanda dos grandes conglomerados indústriais, pelo baixo custo da geração. A usina de Belo Monte, por exemplo, terá como cliente prioritário o parque industrial da Alcoa, de produção de aluminio, que exige um consumo intensivo de energia. As mega-usinas são um grande benefício para quem consome em alta escala e ainda tem a vantagem de estar ali do lado da barragem. Mas, como maiores beneficiários, os grandes consumidores privados poderiam arcar com os investimentos necessários para a geração de sua própria energia, o que implicaria na construção de barragens menores, de baixo impacto ambiental.
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FONTE : Celso Dobes Bacarji, especial para a Envolverde
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