02 de maio de 2015
(da Redação da ANDA)
Um puma magro e triste que passou a vida acorrentado dentro da carroceria de um carro – a única “casa” que ele conheceu – está finalmente livre. As informações são do The Dodo.
“Ele viveu toda a sua vida preso em uma corrente, amarrado na parte traseira de uma caminhonete”, disse Jan Creamer, presidente da Animal Defenders International (ADI), ao The Dodo. “E ele dividia o espaço da carroceria com um monte de equipamentos de metal”.
Sem ter nem mesmo uma jaula, o infeliz animal foi supostamente vendido no comércio de animais exóticos ainda filhote. Desde então, ele vinha sendo carregado de vila em vila por um circo peruano. Quando ele não estava no espetáculo, ele dormia no frio metal do carro, enrolado atrás de estacas das tendas.
“Foi absolutamente a coisa mais triste e miserável que já vi, um belo animal empurrado em um canto”, afirmou Creamer. “Era como se ele não estivesse sequer vivo”.
O puma chamado Mustafa e um condor com o nome de Condorito, que também viveu nesse circo, foram os últimos animais resgatados na operação “Spirit of Freedom” da ADI, uma ofensiva às performances de animais que veio na esteira da proibição de animais em circos no Peru, aprovada em 2011. O projeto salvou cerca de 80 animais mas, apesar da parceria com o governo peruano, foi frequentemente marcado por muita luta.
No caso de Mustafa e Condorito, o dono do circo encenou um tumulto para evitar que a polícia e a ADI os resgatassem.
Foi anunciado em uma rádio local que ele estava oferecendo dinheiro para que pessoas fossem até lá lutar contra a polícia”, disse Creamer. “Muitas pessoas chegaram e começaram a gritar”.
Após horas de impasse entre o circo, as pessoas e a polícia, o dono do circo voltou atrás quando percebeu que ele estaria enfrentando acusações pesadas – incluindo o agravante de ter pedido às pessoas que levassem crianças consigo ao confronto.
Infelizmente, situações como esta não são incomuns. Além disso, os circos costumam viajar para pequenas vilas e cidades exatamente para não serem encontrados com facilidade, pois sabem que os animais abusados por eles podem ser apreendidos.
Justamente 24 horas antes de resgatar Mustafa, a ADI removeu um tigre chamado Hoover de um circo similar – após outro conflito de horas com o proprietário. Quando a ADI começou a rastrear, o circo tinha apenas dois tigres sobreviventes de um grupo total original de doze. Oito meses depois, quando o circo foi encontrado, Hoover era o único que restara com vida.
“Obviamente eles não estavam cuidando deles adequadamente”, conta Creamer. “Eles não tinham ideia de como esses animais deveriam ser tratados”.
Embora o trabalho no Peru esteja oficialmente finalizado, a ADI continuará a monitorar a área para que se tenha a certeza de que os últimos animais foram resgatados. Eles acreditam que o circo que abusou de Mustafa ainda está escondendo um macaco e possivelmente outro condor. A ADI está apelando ao público que use as mídias sociais para alertá-los sobre quaisquer animais ainda mantidos em cativeiro.
No próximo ano, a ONG voltará as atenções para a Colômbia, que proibiu animais em circos em 2013, e para o México, que estabeleceu a proibição no ano passado. Nesse meio tempo, o grupo estará focado na reabilitação dos animais atualmente sob os seus cuidados.
Mustafa está abaixo de seu peso ideal, o que é nítido pelas fotos, porém aparenta estar mais ferido emocionalmente por seu tempo no cativeiro.
“Ele é muito tímido, e está nervoso”, disse Creamer, que também relatou que eles estão esperando que Mustafa torne-se um pouco mais confiante e sinta menos medo.
Apesar de Hoover ter se animado nos poucos dias desde que chegou à ADI, ele não tem se alimentado bem, perdeu muito peso e está com a aparência bastante cansada. Os veterinários estão preocupados com parasitas, mas é também possível que ele tenha quebrado um dente ou tenha contraído uma infecção dentária – coisas comuns em felinos confinados em circos.
“Quase todos eles, não importa a idade, têm dentes quebrados, pois quando as pessoas estão manipulando animais nos circos, se eles estiverem apresentando qualquer rebeldia, a primeira coisa que elas fazem é esmagar as suas faces com uma barra de ferro”, explicou Creamer. “Outra coisa comum é eles tentarem ‘mastigar’ as barras de metal de suas jaulas, porque ficam desesperados, e assim quebram os seus dentes”.
Os veterinários estão esperando até que os felinos se estabeleçam para que possam ser submetidos ao estresse da sedação e a um exame físico apropriado, mas, felizmente, o seu futuro já parece melhor.
Hoover será transportado de helicóptero para o Wildlife Animal Sanctuary do Colorado (EUA), em junho, juntamente com outros 33 leões resgatados de circos pela ADI e um urso chamado Cholita.
Já Mustafa, por ser de uma espécie nativa, tem o seu destino sendo atualmente discutido pela ADI e pelas autoridades peruanas, que decidirão se ele irá para o santuário no Colorado ou se deverá ser encaminhado a um santuário mais próximo de seu país.
Quanto a Condorito, mais que simplesmente a liberdade pode estar em seu futuro: ele poderá voltar a voar. O circo mutilou as suas asas de forma a deixá-lo sem chances de voar, mas foi dito à ADI que as suas penas de vôo são passíveis de regeneração se forem tratadas, o que pode torná-lo elegível para a liberação.
“Esse é o nosso maior desejo para ele”, disse Creamer. “Que um dia ele esteja sobrevoando a Cordilheira dos Andes”.
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