Relatório da KPMG revela que muitas companhias globais não reportam seus riscos ambientais e sociais efetivamente; Brasil e México estão entre os países da América Latina em que taxa de reporte de responsabilidade corporativa caiu
Nos últimos dois anos, a porcentagem de empresas brasileiras que reportam seus riscos ambientais e sociais caiu de 88% para 78%, revelou um novo relatório da KPMG. Apesar disso, o país ainda se mantém como um dos que mais usa guias da Iniciativa de Reporte Global (GRI) em seus relatórios de responsabilidade corporativa, com mais de 90% das companhias.
Os dados fazem parte do Relatório de Pesquisa Anual de Responsabilidade Corporativa, apresentado nesta segunda-feira (9), que aponta como e quais das grandes empresas mundiais reportam seus riscos ambientais e sociais.
A pesquisa se baseia em um estudo detalhado dos relatórios de corporações sobre o desempenho de responsabilidade empresarial, nas informações disponíveis publicamente nos relatórios financeiros das firmas e nos sites das empresas.
Segundo o relatório, a maioria das grandes companhias internacionais, principalmente de petróleo e gás natural, não reporta adequadamente os impactos ambientais e sociais de suas cadeias de fornecimento.
O documento também inclui uma avaliação da qualidade dos relatórios das 250 maiores companhias internacionais do mundo, chamadas de G250. “Essa pesquisa mostra que alguns setores com cadeias de suprimento complexas, que apresentam possíveis riscos ambientais e sociais catastróficos, têm baixos níveis de reporte sobre os problemas nas cadeias de suprimentos”, coloca a KPMG.
O documento, desenvolvido pelo centro global de excelência para mudanças climáticas e sustentabilidade da KPMG, foi baseado em sete critérios: estratégia; risco e oportunidade; materialidade; estabelecimento de metas e indicadores; fornecedores e cadeia de valores; engajamento das partes interessadas; governança de responsabilidade corporativa; e transparência e equilíbrio.
As corporações foram divididas em 14 setores diferentes, cada um classificado sob três estatísticas: impactos da cadeia de suprimentos discutidos em detalhes; discussão limitada; e sem discussão.
A empresa que teve melhor classificação no relatório foi a Nestlé, a única do setor de alimentos e bebidas a ficar entre as dez primeiras colocadas e uma das dez únicas a marcar mais de 90 pontos de um máximo de 100.
“Um compromisso de alto nível com a transparência é muito importante para a qualidade do relatório. A transparência nos ajuda a resolver problemas, e não há dúvidas de que contribui para uma melhor interação com as partes interessadas externas”, observou Janet Voûte, diretora global de questões públicas da Nestlé.
No setor de eletrônicos e computadores, 59% das companhias discutiram a sustentabilidade de suas cadeias de suprimento com detalhes, 35% limitadamente e 6% não discutiram.
Já no setor automotivo, 41% das empresas tiveram uma discussão detalhada, 41% limitada e 18% ausente. Um dos setores que menos apresentou discussão sobre o assunto foi o de petróleo e gás, com 14% de discussão detalhada, 32% intermediária e 54% nenhuma.
Mas o que menos discutiu a sustentabilidade de suas ações e cadeias de suprimento foi o setor financeiro, de seguros e valores imobiliários, com apenas 7% de discussão aprofundada, 44% intermediária e 49% ausente.
“Incidentes recentes, incluindo vazamentos de petróleo e desastres fabris, deveriam lembrar os líderes empresariais o quão importante é gerir os impactos ambientais e sociais da cadeia de suprimentos. Simplificando, se as companhias não começarem a gerir essas questões, elas não terão licença para operar no mundo globalizado do século XXI”, colocou o relatório.
Das 250 firmas que reportam sua responsabilidade corporativa, 87% identificam pelo menos algumas forças sociais e ambientais que afetam os negócios, que incluem as mudanças climáticas e a escassez de recursos materiais. A pesquisa foi realizada com 4,1 mil companhias em 41 países e 15 setores industriais.
“A responsabilidade corporativa não é mais simplesmente uma questão moral e as companhias reconhecem isso. Elas veem isso cada vez mais com um olhar crítico sobre os concretos riscos e oportunidades dos negócios”, comentou Yvo de Boer, presidente de mudanças climáticas e serviços de sustentabilidade da KPMG.
“É encorajador ver que grandes companhias estão agora vendo as mudanças sociais e ambientais como uma fonte de oportunidade tanto quanto, ou ainda mais, do que como uma fonte de risco, fornecendo uma visão mais completa para as partes interessadas”, acrescentou Boer.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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