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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Um oceano de crustáceos

Os peixes representam apenas 12% de todas as espécies oceânicas, afirma o Censo da Vida Marinha.

Quais seres vivos habitam os oceanos? Principalmente caranguejos, segundo o Censo da Vida Marinha, um esforço que consumiu dez anos de pesquisas. Crustáceos como caranguejos, lagostas, camarões, lapas e krill representam 19% de todas as espécies encontradas em 25 áreas oceânicas cruciais, segundo o Censo, que será publicado em outubro. Os peixes, entre eles os tubarões, representam apenas 12% de todas as espécies oceânicas.

“O Censo da Vida Marinha explorou novas áreas e novos ecossistemas, descobrindo novas espécies em novos lugares”, disse Patricia Miloslavich, da Universidade Simón Bolívar, da Venezuela, uma das cientistas que dirigiram a pesquisa e encarregada dos estudos regionais. “A maior parte desta informação estava dispersa ou indisponível, exceto em um plano muito local. Agora estará reunida, pela primeira vez, toda a informação conhecida para criar uma base de conhecimentos sobre a vida dos oceanos”, disse Patricia ao Terramérica.

Cerca de 360 cientistas avaliaram, analisaram e apresentaram suas conclusões em uma série de documentos publicados na primeira semana deste mês na revista PLoS ONE, de acesso livre pela Internet. As águas da Austrália e do Japão possuem a maior diversidade biológica, com média de quase 33 formas de vida, segundo o Censo. As águas do Oceano Pacífico que banham a China, bem como o Mar Mediterrâneo e o Golfo do México constituem as áreas com mais variedades de espécies conhecidas.

A quantidade total de espécies não mantém relação com a abundância de biomassa marinha nem com a produtividade de uma região em particular, destacou Patricia. O estudo focou somente a biodiversidade, identificando os diferentes tipos de espécies encontradas nas 25 regiões. O Censo descobriu que os animais mais conhecidos, como baleia, leão marinho, foca, aves aquáticas, tartaruga e morsa representam entre 1% e 2% de todas as espécies.

Outra surpresa é que existem muitas espécies endêmicas, aquelas que são encontradas apenas em uma região particular do oceano, em suas águas de origem, disse em uma entrevista ao Terramérica o autor principal do estudo, Mark Costello, do Laboratório Marinho Leigh, na Universidade de Auckland, na Nova Zelândia.

As regiões relativamente isoladas de Austrália, Nova Zelândia, Antártida e África do Sul possuem a maioria das espécies endêmicas. Os cientistas especulam que estas áreas possam ter sofrido menos extinções em razão do esfriamento produzido há milhares de anos, durante a última era glacial. Aproximadamente metade das espécies marinhas dos oceanos da Nova Zelândia e Antártida só pode ser encontrada ali.

As espécies mais cosmopolitas são as menores e as maiores: as algas e as aves aquáticas e os mamíferos marinhos, que passam suas vidas atravessando os mares. O peixe víbora (Chauliodus sloani) é encontrado em mais de um quarto dos oceanos. Também são assombrosas as variações entre as regiões. Os peixes representam 28% das espécies do Oceano Atlântico ocidental tropical e do sudeste dos Estados Unidos, mas somente entre 3% e 6% do Ártico, Antártida, Báltico e Mediterrâneo.

Segundo Patricia, o Golfo do México também é um ponto importante em matéria de biodiversidade: mais de 8.300 espécies vivem nessa região de intensa produção de petróleo. No dia 20 de abril houve ali o pior vazamento de petróleo da história, quando a plataforma de exploração Deepwater Horizon, que a gigante British Petroleum (BP) arrendava da firma suíça Transocean, explodiu e dois dias depois afundou. Só no começo deste mês a BP declarou selado o poço, que em julho tapara provisoriamente.

Os lugares mais ameaçados deveriam ser protegidos por políticas específicas, afirmou Patricia. Um completo inventário das espécies do Golfo foi apresentado em 2009, mas as autoridades norte-americanas o ignoraram. O vazamento foi “muito frustrante”, disse Patricia. Resta o triste consolo de que o dano causado possa ser medido com precisão, já que existe uma base sólida sobre quais espécies existiam ali antes do desastre.

De acordo com Mark, cerca de 230 mil espécies marinhas estarão identificadas em outubro, quando se completar o Censo. “Existem mais de um milhão de espécies marinhas. O que aprendemos nos últimos dez anos é que o que não sabemos sobre os oceanos é, pelo menos, dez vezes mais do que o que sabemos”, ressaltou. São mais conhecidos os oceanos próximos de Austrália, China e Europa, e relativamente pouco o Atlântico ocidental tropical, o Pacífico oriental tropical e o Ártico canadense.

Mark apontou vários estudos recentes que mostram como muitas espécies marinhas sofreram importantes reduções, em alguns casos de até 90%, devido a atividades humanas que as deixaram à beira da extinção. As principais ameaças são a sobrepesca, a perda de habitat, as espécies invasoras e a contaminação, segundo o Censo.

Os novos perigos são a ampliação das “zonas mortas” – áreas oceânicas com pouco oxigênio –, aumento da temperatura da água e acidificação causada pela mudança climática. “O mar está em perigo”, disse em um comunicado de imprensa a bióloga Nancy Knowlton, da Smithsonian Institution. As criaturas oceânicas “não têm voto em nenhum organismo nacional ou internacional, mas estão sofrendo e precisam ser ouvidas”, acrescentou.

LINKS

Petróleo envenena cadeia alimentar do Golfo
http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=3551

Oceanos assentados sobre bactérias gigantes
http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=3460

Censo da Vida Marinha, em inglês
http://www.comlsecretariat.org/

Revista PLoS ONE, em inglês
http://www.plosone.org/home.action
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FONTE : Stephen Leahy (autor é correspondente da IPS)(Envolverde/Terramérica)

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