Nos últimos dias, o Rio Grande do Sul ficou envolto na fumaça das queimadas. No website do Inpe, é possível acompanhar o monitoramento do fogo no país, onde podemos constatar uma triste realidade: já são mais de 40 mil focos de incêndio em 2010, no Brasil.
O fogo como método de “preparo” para a terra remonta a milhares de anos, praticado pelos indígenas que habitavam o território das Américas. Como muitas tribos viviam em meio às florestas, as queimadas para a agricultura já causavam a perda da biodiversidade, no entanto, a dimensão das áreas incineradas era ínfima, comparada ao que o colonizador branco devastou depois.
Além do motivo agrícola, o método utilizado pelos indígenas para subsistência passou a ser praticado em larga escala pelos portugueses, na procura pelas minas de ouro e depois para desbravar o território, nas bandeiras. Áreas imensas da Mata Atlântica sucumbiram ao fogo para dar lugar às cidades e às plantações de café. No Rio Grande do Sul, também a mata de araucárias ardeu em chamas, com a desculpa de “limpar” áreas para o plantio.
Um dos problemas é a visão que muitos brasileiros tiveram (e ainda têm) da floresta e da própria natureza. Na chegada dos primeiros colonizadores, houve o deslumbramento e até um certo receio. Depois, ela foi considerada um empecilho, um entrave no caminho do progresso. A floresta tinha que ser retirada para que o país pudesse expandir as fronteiras agrícolas, as cidades, e com isso, atingir o desenvolvimento.
Entretanto, continuar com essa prática nefasta é inadmissível. É queimando o Cerrado e a Amazônia que o Brasil pretende cumprir as metas apresentadas em Copenhague, ano passado, de reduzir as emissões de gases do efeito estufa entre 36,1% e 38,9%, até 2020? Em meio à campanha eleitoral, cabe ainda mais uma pergunta: quais as propostas dos principais candidatos à Presidência da República para acabar com o descaso histórico do Brasil com seus recursos naturais? É preciso muito mais do que o discurso da sustentabilidade para resolver o problema das queimadas. Além da impunidade histórica, a presença de agentes do Estado não é suficiente para conter o fogo.
Em pleno ano da biodiversidade, o país que possui as maiores reservas florestais do planeta as queima. O quadro é desanimador. Resta torcer para que Estado e sociedade se deem conta de que precisam da natureza para viver, antes que o fogo consuma a última árvore e seja tarde demais.
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FONTE : Elenita Nalta Pereira é Mestranda em História na UFRGS. Artigo originalmente publicado no jornal Zero Hora. (EcoDebate, 31/08/2010)
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