As torres, instalados no Amazonas, vão monitorar áreas com mais de mil quilômetros quadrados. O ATTO é baseado em um modelo similar existente na Sibéria (Rússia), com um orçamento de 8,4 milhões de euros, compartilhado entre Brasil e Alemanha
O processo de formação das nuvens e consequentemente o regime de chuvas recebem influência das trocas gasosas entre atmosfera e a floresta (biosfera) através dos aerossóis (partículas suspensas na atmosfera de origem anorgânica ou orgânica, por processos naturais, porém sofrendo alterações das ações humanas). Com a finalidade de compreender e modelar essas trocas gasosas que ocorrem na camada atmosférica, o Observatório Amazônico de Torre Alta (ATTO) está sendo construído, com previsão de funcionamento para o próximo ano.
O ATTO será uma torre com 320 metros, a primeira desse tipo na América do Sul, instalada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, no município de São Sebastião do Uatumã, interior do Amazonas. É um projeto bilateral entre Brasil, representado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA); e Alemanha, através do Instituto Max Planck de Química.
O planejamento do ATTO iniciou em 2007 e foi apresentado ao público na 61ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorreu ano passado em Manaus. Atualmente, o ATTO está em fase de implementação e demanda uma enorme logística como instalação de laboratórios, moradias, sistema de energia e meios de acesso ao local.
Maior abrangência
O ATTO funcionará 24 horas por dia no período de 20 a 30 anos. Segundo o pesquisador Jochen Schöngart do Max Planck, o ATTO além de atingir uma maior área, diferente das torres pequenas do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), fornecerá dados mais confiáveis sobre os serviços ambientais prestados pela floresta Amazônica e sua interação com a atmosfera.
“A vantagem dessa torre grande é o alcance na camada limite atmosférica, com isso vai obter um sinal muito estável, não sofrerá tanto as variações de dia e noite. O problema dessas pequenas torres é essa variação de dia e noite. À noite as turbulências na floresta são muito baixas, o gás carbônico não é mais visível no fluxo vertical”, explica Schöngart.
De acordo com o coordenador do projeto pelo lado alemão, Jürgen Kesselmeier, o ATTO vai criar um vínculo entre os dados obtidos na terra e observações obtidas através de sensores nos satélites, além de um monitoramento por décadas.
Projeto complementar
Outro projeto complementar ao ATTO é o Claire, que fornecerá informações sobre o processo de oxigenação dos radicais na atmosfera. O Claire vai trabalhar com duas ou três torres, com alturas de 60 a 80 metros, localizado na mesma área do ATTO.
As medições dos gases serão em tempo real. Um das torres terá um elevador anexado, com um laboratório completo, que se moverá 24 horas verticalmente, com a velocidade aproximada de 2 a 4 metros por minuto.
O coordenador Kesselmeier compara os radicais como “detergente da atmosfera”, responsável pela limpeza da atmosfera. Kesselmeier cita o exemplo do radical hidróxido, que pode afetar o metano. São gases que limpam a atmosférica.
O pesquisador Schöngart explica a importância dessas torres para entendimento dos fenômenos climáticos na região. “Toda a massa de ar que estão em processo de troca entre a floresta e atmosfera, os ventos trazem para essa torre e os sensores medem a concentração e o fluxo, com isso vamos obter dados mais robustos sobre a função da floresta Amazônica, em termo de armazenar carbono, ‘sequestrar carbono da atmosfera’, formação de nuvens e o impacto no clima da região. Previsão de funcionamento do projeto de 20 até 30 anos. As mudanças que ocorrerem nesse período serão visíveis, durante o monitoramento”, explica Schöngart.
Os pesquisadores destacam a principal contribuição dos projetos para o Brasil. “Tanto o projeto Claire e o ATTO vão ter uma contribuição muito importante para treinar e formar recursos humanos entre doutores, mestres, técnicos e engenheiros através dos cursos de pós-graduação do Inpa e de outras Instituições brasileira e estrangeira e também, pela troca de estudantes entre Brasil e outros países. Será uma ferramenta importante para capacitar jovens que futuramente continuarão estudando e darão seguimento ao projeto”, concluem.
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FONTE : reportagem de Josiane Santos, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), publicada pelo EcoDebate, 17/08/2010
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