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sábado, 8 de maio de 2010

RIQUEZA IGNORADA !

Crescendo em locais inimagináveis e donas de rusticidade a toda prova, as plantas alimentícias têm um potencial nutricional dos mais relevantes. O tema ganhou visibilidade a partir da tese de doutorado na UFRGS do pesquisador Valdely Kinupp. Kinupp descobriu que de 1,5 mil espécies de vegetação nativa da Região Metropolitana de Porto Alegre, 311 têm potencial alimentício e são praticamente desconhecidas.

Para os amantes da gastronomia, um conselho: nem sempre é necessário pagar caro por iguarias nos supermercados ou lojas especializadas. Elas podem ser encontradas em terrenos baldios, trepadas em cercas ou plantadas no quintal das casas. As plantas alimentícias, ricas em valor nutricional e muitas vezes em sabor, normalmente passam despercebidas pela população urbana.

A Terça Ecológica desta semana, promovida pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ/RS), com apoio da EcoAgência de Notícias e Instituto Goethe, que trouxe a professora titular do Departamento de Horticultura e Silvicultura da Faculdade de Agronomia da UFRGS, Ingrid de Barros, e a engenheira agrônoma e proprietária do Sítio Capororoca, Silvana Bohrer, mostrou que é possível usufruir desse patrimônio no meio urbano. A mediação foi do jornalista e diretor do NEJ/RS Juarez Tosi.

A chave do sucesso da atividade de plantio, segundo a professora Ingrid, está ligada à rusticidade e capacidade de adaptação dessas plantas. “Elas podem ser manejadas ou cultivadas em terrenos baldios, quintais, jardins, muros, cercas-vivas, telhados verdes, entre outros”, explica. As espécies alimentícias subutilizadas também possibilitam a criação de distintos cardápios, favorecendo a segurança nutricional. Elas igualmente podem gerar a diversificação de renda, com potencial econômico para empreendimentos na agricultura familiar.

Divulgação - As plantas alimentícias ganharam os holofotes a partir da divulgação da tese de doutorado na UFRGS de Valdely Kinupp, que pesquisou 1,5 mil espécies da vegetação nativa na Região Metropolitana de Porto Alegre. Deste universo, 311 possuem potencial alimentício e são praticamente desconhecidas. Parte do estudo foi realizado no Sítio Capororoca, Bairro Lami, em Porto Alegre, de propriedade de Silvana. No sítio, 116 plantas são cultivadas, seja para o uso das raízes e dos frutos. Com essa variedade é possível ter oferta de alimentos o ano todo, pois muitas das espécies vegetais resistem a condições extremas de calor e frio, de excesso de água a estresse hídrico.

Em 2004, “Kinupp” ajudou a implementar no Sítio Capororoca e produzir plantas alimentícias não-convencionais, como a capuchinha, a urtiga, que é usada na massa dos pães, o ora-pró-nóbis, as bertalhas, o lulo, o jaracatiá, o tomate de capote, entre outras, que atualmente são produzidas e comercializadas e podem atingir grande valor econômico. Além de plantar, Silvana passou a testar essas plantas em diferentes receitas. O hibisco, por exemplo, foi trazido ao Brasil pelos escravos, e com o qual pode-se fazer o tradicional chá, suco, geleia e o arroz de cuxá maranhense.

Há também o lírio-do-brejo, que das flores extraem-se essências utilizadas na indústria da perfumaria. Já a indústria farmacêutica aproveita a planta inteira na fabricação de medicamentos indicados para doenças cardiovasculares. Assim como o lírio-do-brejo, muitas outras espécies enquadram-se como alimentos nutracêuticos – quando os alimentos vão além de suas funções nutricionais básicas, contribuindo com a redução de risco das doenças crônico-degenerativas.

Do mesmo modo que as plantas oferecem um potencial escassamente conhecido, também podem representar grandes perigos. Um exemplo é o próprio lírio-do-brejo, que tanto a planta, seu chá ou extratos não devem ser consumidos sem acompanhamento médico, pois trata-se de uma espécie muito tóxica que pode levar à morte. De acordo com Ingrid, a evolução deste mercado deve ser acompanhado de cursos de capacitação para a identificação das plantas. Igualmente de políticas públicas que valorizem essa riqueza desconhecida. “Os sem-terra, por exemplo, torravam o inhame e a partir dele faziam café nos assentamentos. Depois que melhoravam de vida, compravam o café convencional. Esses alimentos precisam deixar de serem marginais, para serem incorporados como cultura”, pondera a engenheira Silvana.

Ao final do evento, os participante degustaram pães feitos com hibisco e urtiga, com pasta de hibisco e chimia de abóbora com jaracatiá, fornecidos pelo Sitio Capororoca.
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FONTE : Glauco Menegheti (especial para EcoAgência de Notícias)

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