O catador de material reciclável Luiz Carlos de Araújo, de 44 anos, não pode ver ninguém jogando lixo no lixo que logo explica que aquilo ali pode ser aproveitado para gerar renda a alguém. O salário mínimo que ganha por mês desde que começou a fazer parte da Cooperativa Nova Esperança, em São Miguel Paulista, há cerca de 3 anos, pode parecer pouco para outras pessoas, mas para ele é uma conquista: “venci na vida e a tendência é só melhorar”.
Araújo conta que, desde 1995, vive do que os outros descartam. Na rua, porém, lembra que o salário era sempre incerto. “Tem dia que tirava R$ 20, tem dia que não conseguia nada”. Além disso, consumia quase tudo o que ganhava em bebidas alcoólicas. “Não estava nem aí. Hoje, na cooperativa, tenho responsabilidade com o trabalho”, diz. Reportagem de Lecticia Maggi, iG São Paulo.
Araujo afirma que a Nova Esperança, que emprega 22 pessoas, mudou a realidade do bairro União de Vila Nova. Por muitos anos, o local, localizado às margens do rio Tietê, ficou esquecido pelo poder público, que não o reconhecia nem como área de Guarulhos, nem de São Paulo. “Era muito lixo jogado nas ruas, nos córregos, procuramos conscientizar a população para ajudar no projeto. A gente não rasga mais saco de lixo dos outros, vai às próprias casas e o material está separado”, afirma.
Bom para ele e bom para a comunidade. No entanto, uma realidade ainda verificada em poucos locais do País. De acordo com dados do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), apenas 7% dos municípios brasileiros têm projetos de coleta seletiva em larga escala. E isso porque houve crescimento da reciclagem nos últimos anos.
Em 2003, foram reciclados 5 milhões de toneladas de lixo. Em 2008, o índice foi para 7,1 milhões. André Vilhena, diretor do Cempre, explica que, para alguns materiais, como latinhas de alumínio, o Brasil é referência mundial e a reciclagem atinge 96% do total comercializado no mercado interno.
Já em outros poderia ser comparado a países de terceiro mundo, a exemplo a compostagem de materiais orgânicos, que poderiam ser aproveitados para a produção de fertilizantes. “Ainda é incipiente, não chega a 3% e gera um grande impacto ambiental”, diz.
Política Nacional de Resíduos Sólidos
Vilhena e outros empresários e trabalhadores do setor animam-se com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que foi aprovada no Congresso e deve ser sancionada pelo presidente Lula no dia 5 de junho, Dia do Meio Ambiente.
A política está baseada na gestão compartilhada do lixo. Assim, o poder público deixa de ser o único responsável pela destinação dos resíduos e as empresas também passam a atuar na questão. Outro ponto é a chamada coleta reversa, onde os produtos que podem ser reaproveitados voltam para as empresas que os fabricam, como pilhas, lâmpadas e eletroeletrônicos. As companhias são obrigadas a oferecer locais para os clientes entregarem os materiais.
O diretor da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos Silva Filho, destaca também a hierarquia no tratamento dos resíduos. “Você terá que obedecer uma ordem de ações, primeiramente, a minimização na geração, reutilização, reciclagem, recuperação e, por último, a disposição sobre o solo”, explica. Assim, segundo ele, diminuirá significativamente a quantidade de lixo a ser enterrado.
“Em 2008, a reciclagem movimentou cerca de R$ 12 bilhões e a expectativa é que possa dobrar esse valor nos próximos anos com a política nacional”, afirma André Vilhena.
Destino do lixo
Diariamente, o Brasil produz cerca de 150 mil toneladas de lixo, sendo que 67 mil vão para locais inadequados, como lixões. “Em relação à destinação de resíduos somos equiparados a Índia e países da África”, afirma Silva Filho. Para ele, parte do problema se deve a falta de investimentos no setor.
Em 2008, o Brasil gastou R$ 16,8 bilhões para dar fim ao lixo. “Parece muito, mas quando se divide por habitante dá cerca de R$ 8,90 por mês para cada um. É muito pouco se comparado a outros serviços públicos”, critica. Apesar disso, ele diz que a solução não está na construção de mais aterros. “Vai chegar uma hora que não haverá mais lugar”. O segredo diz, é investir na hierarquização: pensar antes de comprar, depois, antes de se desfazer e, quando não for mais possível, reciclar.
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FONTE : EcoDebate, 06/05/2010
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