Um novo olhar sobre a sabedoria da natureza foi oferecido pela bióloga e escritora americana Janine Benyus na palestra “Integridade Ecológica”, que tratou do segundo princípio da Carta da Terra, relacionado à proteção e restauração dos sistemas ecológicos, no primeiro dia da Conferência Internacional 2010 do Instituto Ethos. Especialista em biomimética, ela foi apresentada pelo designer Fred Gelli, seu discípulo no Brasil, que ressaltou a lógica da natureza para enfrentar desafios: prefere o caminho da minimização (leia-se, zero de desperdício), é regida por ciclos e trabalha com a interdependência. “Nós, em vez de otimizar, preferimos maximizar. Agimos de forma linear e temos uma visão fragmentada”, comparou Gelli. Essas três direções determinam também a forma como utilizamos a ciência para construir a realidade.
Gelli afirmou que o ecossistema fornece um “conjunto de inspirações” para que pensemos em atalhos para soluções, assim como ele tem feito para se aprimorar nos últimos 3,8 bilhões de anos. “Os projetos da natureza aliam elegância e eficiência e nós temos esse conhecimento incrustado nas nossas células. Precisamos apenas recuperar a conexão perdida com essa forma sofisticada de superar problemas”, argumenta Gelli.
Janine Benyus instou a audiência a trocar a culpa e a pena que sentimos pelas espécies ameaçadas por respeito. “Respeito é uma emoção muito poderosa, que leva à mudança de comportamento. A floresta, as comunidades indígenas devem nos ensinar a repensar a maneira como nos relacionamos com as pessoas e com o restante do mundo natural. A crise que vivemos hoje é de relacionamento”, diz a cientista.
Segundo ela, cada vez mais aumenta a percepção da indústria de que é preciso descobrir – e não inventar – tecnologias forjadas pela natureza há bilhões de anos. Janine listou uma série de produtos e processos que estão sendo criados a partir da observação de plantas e animais. “No meu carro, a aderência dos pneus é inspirada nas rãs. Em casa, estamos construindo um sistema de ventilação baseado na toca dos esquilos, um túnel subterrâneo por onde o ar passa. No Zimbábue, por exemplo, há um prédio com sistema de resfriamento semelhante ao dos montes de cupins”, exemplifica.
A forma como as conchas e os recifes de coral dissolvem o CO2, a super- resistência das teias de aranha (que não dependem de calor nem do uso de toxinas), a maneira como as folhas transformam fótons em combustível, a capacidade de pavões e borboletas darem um show de cores sem recorrer a pigmentos químicos, e a dos ácaros de preservarem a comida sem a necessidade de refrigeração, são outros exemplos.
A lista de ensinamentos, por vezes insondáveis, da natureza tem levado os empreendedores de visão a convidar biólogos para sentar junto com arquitetos e projetistas e desenhar produtos mais sustentáveis. “Há um livro de receitas industrial e um livro de receitas da natureza”, explica Janine. Cabe a nós cultivar a humildade para extrair do mundo natural o caminho menos agressivo para o futuro do planeta.
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FONTE : Denise Ribeiro (Envolverde/Instituto Ethos)
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