Powered By Blogger

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Energia limpa e viável em SC

Em tubos de ensaio, pesquisadores da Universidade Federal de SC (UFSC) trabalham num projeto que promete revolucionar o mercado de produção de etanol. No laboratório de bioquímica nasceu a ideia que busca aumentar a produção de biocombustíveis, no caso, o etanol, com a mesma quantidade de cana-de-açúcar.

O trabalho liderado pelo pesquisador Boris Stambuk consiste no melhoramento genético de leveduras – fungos – utilizadas na produção do etanol. No laboratório, a equipe obteve ganhos de até 10% na produção de álcool a partir da mistura de cana-de-açúcar com a levedura modificada.

– Na produção de uma usina, isso representa muita coisa – destaca.

O estudo foi parar na capa de revistas científicas especializadas e agora parte para a aplicação prática. A pesquisa será testada no próximo ano em escala industrial, numa usina no interior paulista (veja explicação abaixo).

Peruano radicado em SC, Stambuk trabalha com pesquisas de leveduras desde 1990. Mas só em 2004 iniciou o projeto que o levou a passar um período como professor visitante na Universidade de Stanford, na Califórnia.

Fungos microscópicos, as leveduras exercem papel fundamental na transformação do açúcar da cana em álcool durante a fermentação. O que a equipe de Stambuk fez foi alterar o genoma (informação hereditária codificada no DNA) da levedura, aumentando a capacidade de produção do etanol na fermentação.

Na usina, a mesma levedura é usada em vários ciclos de fermentação. E bastam alguns quilos da levedura modificada para aumentar o rendimento de uma tonelada de melaço de cana-de-açúcar.

Nova imagem para o carvão

O carvão catarinense, que tem um histórico centenário de poluição provocada pela extração no Sul do Estado, também virou foco de estudos que buscam alternativas energéticas limpas. Um dos trabalhos mais avançados concentra-se na área de gaseificação do carvão mineral.

O gás produzido, além de ser uma energia limpa, poderia se tornar uma importante alternativa para a indústria cerâmica da região Sul, destaca o engenheiro Fernando Zancan, secretário-executivo do Sindicato da Indústria da Extração do Carvão de SC (Siecesc) e presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral.

O processo de gaseificação consiste em converter o carvão mineral em combustível sintético de aplicação direta na produção de energia. Zancan explica que foram firmadas parcerias internacionais para avançar com pesquisas práticas nas indústrias nos próximos dois anos. Em um primeiro momento, a gaseificação do carvão visa à produção de gás industrial. Mas esse mesmo gás poderia ser empregado na geração de energia elétrica ou na produção de combustíveis líquidos, como o hidrogênio.

A construção do Centro Tecnológico de Carvão Limpo, em Criciúma, promete representar um grande avanço no setor.

As obras de infraestrutura do terreno estão em andamento. No início de 2010 começa a construção do primeiro prédio do complexo, com 1,5 mil metros quadrados. Ele deve ficar pronto ainda no próximo ano, e abrigará um centro de documentação e uma área de pesquisa para 64 profissionais. Ao todo, o complexo terá 12 mil metros quadrados – resultado de R$ 15 milhões em investimentos do governo federal e estadual.

De vento em popa

Recursos gratuitos e abundantes em SC, o sol e o vento mostram, na prática, resultados eficazes como fonte de energias limpas. O potencial eólico é o que está mais avançado e deve ganhar novos impulsos no próximo ano.

O professor Sergio Colle, coordenador do Laboratório de Engenharia de Processos de Conversão e Tecnologia de Energia da UFSC, diz que, além de Água Doce (Meio-Oeste) e Bom Jardim da Serra (Serra), onde existem parques eólicos, o potencial do uso do vento como energia é grande em Laguna e na Praia de Moçambique, em Florianópolis.

Hoje, Água Doce tem dois parques, coms potência de 9 e 4,8 megawatts. Bom Jardim da Serra tem um, com potência de 0,6 megawatt. Mas a cidade serrana é alvo de investimentos da argentina Impsa, cujo projeto é construir 62 aerogeradores – com cem metros de altura cada –, gerando 93 megawatts, o suficiente para fornecer energia a 300 mil pessoas.

O secretário de Planejamento de Bom Jardim, Áureo Ribeiro Cassettari, diz que a meta é que o parque comece a funcionar até o final de 2010.

Na Grande Florianópolis, a Ventus Participações está à frente do Parque Eólico no Morro da Boa Vista, em Rancho Queimado, que deve operar em 2012. O projeto custará R$ 150 milhões e gerará 28,8 megawatts.

A produção de energia solar caminha a passos mais lentos. O professor Sergio Colle, que também coordena o Laboratório de Energia Solar da UFSC, reclama da falta de políticas públicas de incentivo.

– Santa Catarina tem um dos menores potenciais do país para energia solar, mas, ainda assim, ele é maior que a maioria dos países europeus.

Nada se perde, tudo se reaproveita

Boas ideias não estão restritas aos laboratórios. Empresa criadoura de suínos para a agroindústria Aurora, a Maiale abriga hoje geradores de energia elétrica que funcionam à base de esterco de porco (veja quadro abaixo).

As primeiras experiências foram realizadas há seis anos. Hoje, o sistema abastece as duas granjas de suínos, que abrigam 13 mil animais. Duas caldeiras e três geradores estão incorporados a ele. O próximo passo é canalizar o vapor para utilizá-lo no aquecimento dos filhotes.

– A grande sacada seria vender o excedente de energia que produzimos e não consumimos, mas não temos autorização para isso – conta o diretor Fabiano Mario Lanznaster.

O gás excedente é queimado. Com a queima, o metano (CH4) é transformado em gás carbônico (CO2), reduzindo os níveis de poluição. O metano tem um efeito poluente 21 vezes mais forte do que o gás carbônico.

O projeto ainda garante créditos de carbono para a empresa. Previstos pelo Protocolo de Kyoto, assinado em 2001, os créditos são vendidos como títulos em bolsa de valores para países ou cidades que não conseguem reduzir os seus níveis de poluição.

A Maiale estruturou o projeto via parceria com uma agência de certificação de crédito de carbono, que bancou o investimento inicial. Hoje, a agência fica com 90% do valor obtido com os créditos, e a empresa, com os 10% restantes. A Maiale já recebeu parte de duas vendas – em 2007, foram R$ 3,5 mil; e em 2008, R$ 9,5 mil.

O que a empresa faz para consumo próprio pode ganhar uma versão em larga escala no médio prazo. O governo do Estado trabalha para consolidar o investimento da alemã ME-LE, que planeja construir a primeira usina de biogás alimentada por dejetos suínos em SC. A unidade seria erguida em Ipuaçu, no Oeste do Estado.

O empreendimento, o primeiro desta natureza no Brasil, está orçado em 1,5 milhão de euros (R$ 4 milhões). A proposta é construir uma usina capaz de consumir os dejetos de 120 mil suínos ao ano.
******************************************
FONTE : Diário Catarinense, edição de 23 de novembro de 2009.

Nenhum comentário: