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quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Cientistas do Sul estudam doenças esquecidas
Enquanto boa parte dos especialistas em saúde do mundo concentra sua atenção na aids, malária e tuberculose, poucos recursos são destinados a doenças tropicais esquecidas como dengue, ancilostomíase e esquistossomose, que afetam um bilhão de pessoas. Porém, laboratórios pequenos em países emergentes despertam hoje a esperança de serem desenvolvidos tratamentos inovadores e baratos, segundo o estudo “Business Plan to Help the Global South in Its Fight Against Neglected Disease” (Plano de negócios para ajudar o Sul global na luta contra doenças esquecidas). O informe foi publicado ontem na edição novembro-dezembro da revista especializada norte-americana Health Affairs.
“Todos pensam que os laboratórios multinacionais podem proporcionar vacinas e diagnósticos para as doenças tropicais esquecidas”, disse um dos autores do estudo, Peter Singer, do Centro McLaughlin-Rotman para a Saúde Global, pertencente à canadense Universidade de Toronto. Mas a pesquisa recém-divulgada “demonstra que são as pequenas empresas biomédicas do mundo em desenvolvimento que estão fazendo isso”, acrescentou. Singer e seus colegas documentaram pela primeira vez os produtos e as inovações de 78 pequenas e médias companhias biotecnológicas de alcance local no Brasil, na China, Índia e África do Sul.
Coletivamente, estas empresas elaboraram 123 produtos, entre eles vacinas, remédios e análises de diagnóstico para todas as doenças tropicais esquecidas, bem como para a malária, a tuberculose e a aids. Aproximadamente metade das doenças tropicais foi especificamente abordada por essas companhias, principalmente mediante novos produtos, sem serem versões genéricas, diz o estudo.
“Estas são enfermidades dos pobres, e estas empresas locais baseiam seu modelo empresarial em inovações baratas para atender as necessidades locais”, disse Singer à IPS. “O dono de uma dessas empresas me disse: o que para vocês são doenças de pobres, para nós é uma oportunidade de mercado”, acrescentou. Entre as enfermidades tropicais esquecidas figuram tracoma, principal causa - passível de prevenção - de cegueira no mundo, elefantíase, lepra, dengue, ancilostomíase e esquistossomose.
Mas, o gasto mundial para combater esses males equivale a uma gota no oceano (apenas US$ 500 milhões em 2007), ou cerca de 5% do total investido em novos medicamentos, vacinas e métodos de diagnóstico. Estas enfermidades raramente ocupam as primeiras páginas dos jornais, mas prejudicam a produtividade econômica das comunidades afetadas e freiam o desenvolvimento nacional, diz o informe. Os laboratórios multinacionais não podem, simplesmente, obter lucro desenvolvendo produtos para atender a esta necessidade, exceto se recorrerem às doações, acrescenta o estudo.
“Não exigimos a substituição da caridade das multinacionais. Apenas destacamos que nos próprios países em desenvolvimento há uma fonte de inovação barata que não é plenamente aproveitada”, disse Singer. As empresas das economias emergentes agora preenchem esse vazio, desenvolvendo produtos inovadores contra enfermidades tropicais esquecidas. Muitas dessas companhias conseguem chegar aos mercados regionais. E isto é como uma mina de ouro sem explorar localizada no Sul pobre, e cuja exploração é necessária, disse Singer. “O que eles necessitam com urgência é ajuda para que esses produtos e seus benefícios cheguem a lugares distantes”, ressaltou.
Os autores do estudo propõem um serviço sem fins lucrativos para proporcionar a perícia necessária a fim de ajudar as firmas do Sul em desenvolvimento para que seus produtos passem do laboratório a outras comunidades de todo o mundo. O projeto “Global Health Accelerator” (Acelador da Saúde Mundial) buscará concretizar este objetivo conectando uma diversa comunidade internacional de inovadores em biotecnologia, facilitando redes de associações entre organismos do setor público e empresas e instituições privadas, proporcionando serviços de apoio empresarial e operando como um centro independente que vincule firmas, investidores e partes interessadas.
Este programa aproveitará o poder das redes para conectar agências doadoras, fundações, instituições de finanças para o desenvolvimento, indivíduos particulares e capitalistas de risco compartilhado interessados em financiar inovadoras companhias de nações pobres, diz o informe. A proposta também inclui um prêmio anual (o global Health EnterPrize) para incentivar e reconhecer novos métodos de diagnóstico, medicamentos, vacinas ou aparelhos com um impacto sanitário mundial desenvolvidos por empresas do Sul. “Pensamos no Global Health Accelerator como um FedEx (empresa de entregas) para novos medicamentos, vacinas e métodos de diagnóstico para combater doenças tropicais esquecidas”, disse Singer.
Sarah Frew, outra coautora do informe, considera que as empresas dos países emergentes veem oportunidades de negócios na cura de enfermidades, mas costumam carecer de conhecimentos em áreas como as regulações internacionais, avaliação de mercado e posicionamento dos produtos, o que inclui a fixação de preços, acesso ao crédito e identificação de sócios internacionais para a comercialização. O potencial de pesquisa e desenvolvimento do Sul pobre é muito maior do que o das 78 companhias documentadas no estudo.
“Há mais de 500 empresas de biotecnologia sanitária, e muitos mais institutos acadêmicos e universitários em países como Malásia, Indonésia e México. O talento criativo está ali, mas os obstáculos, dos quais o financiamento é apenas um elemento, impedem o progresso e frustram os esforços atuais”, disse Frew à IPS. Na mesma edição da revista Health Affaris, o subeditor, Philip Musgrove, e o coautor Peter Hotez afirmam que os esforços concertados podem vencer muitas enfermidades esquecidas. “As doenças esquecidas afetam milhões de vidas, mas podem ser tratadas ou eliminadas a um custo relativamente baixo. É hora de o mundo agir”, disse Musgrove.
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FONTE : Stephen Leahy - Cancun, México, 04/11/2009. (IPS/Envolverde)
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