Mesmo que o desmatamento na Amazônia seja interrompido milagrosamente amanhã, e é claro que isso não ocorrerá, diversas espécies que foram afetadas pelos impactos passados seriam extintas de qualquer maneira. Essa é a conclusão de um estudo britânico que mostra como os animais que perdem seus habitats não morrem imediatamente. Em vez disso, eles morrem gradualmente durante várias gerações, acumulando uma “dívida de extinção”, que deve ser eventualmente paga na íntegra.
O estudo da revista Nature mostra que a Amazônia brasileira tem acumulado uma dívida pesada de extinção de vertebrados, com mais de 80% das extinções, ocasionadas pelo desmatamento passado, ainda pendente.
O trabalho publicado recentemente, liderado pelo ecólogo Robert Ewers, calcula quantas espécies são perdidas no curto e longo prazo, à medida que uma área da Amazônia é desmatada.
Dentre os animais mais conhecidos considerados pendentes a entrar em extinção estão: o Macaco Aranha, a Anta Brasileira e a Jaguatirica.
O estudo
No estudo, os autores tratam apenas de fenômenos locais, analisando o que aconteceria em média com um terreno de 2.500 quilômetros quadrados na Amazônia. As previsões sobre extinções totais, porém, já começaram a ser feitas.
“Nós rodamos o modelo tentando prever extinção global também, e no cenário business as usual (em que o ritmo de desmatamento segue quase sem controle da lei), terminamos com algo em torno de 45 espécies sendo extintas e mais de 100 sendo condenadas à extinção”, contou Ewers à Folha. “Sob um cenário de governança em que há intervenção mais forte do governo contra o desmate, claro, os números serão muito menores.”
As extinções globais de espécies seriam mais numerosas que as locais porque muitas espécies amazônicas são endêmicas, ou seja, só existem em uma área muito restrita. Isso significa que não é preciso uma devastação muito ampla para fazer com que muitas delas desapareçam por completo.
Apesar das limitações, Ewers defende que o conceito que criou deve ser usado para planejar ações de conservação, incluindo a preservação de mata que cresce em fazendas abandonadas na Amazônia: “Claro que nosso método carrega um grau de incerteza, mas ele nos dá o poder de imaginar cenários e ver o que vai acontecer de 40 a 50 anos no futuro em algumas áreas, em razão das decisões que são tomadas hoje”, afirmou.
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FONTE : * Publicado originalmente no site EcoD.
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