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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Na África do Sul, caçadores ilegais matam mais de um rinoceronte por dia

As autoridades pretendem retirar preventivamente os chifres dos mamíferos para desencorajar o tráfico incentivado pela demanda asiática

Desde o início do ano, 280 rinocerontes foram mortos ilegalmente na África do Sul, mais de um por dia em média. Nesse ritmo, 2011 será ainda mais mortífero que 2010 (333 animais mortos ilegalmente) e dentro de um ou dois anos a população começará a declinar. A luta contra esse massacre é um quebra-cabeça para as autoridades sul-africanas. Reportagem de Sébastien Hervieu, Le Monde.

Na segunda-feira, 29 de agosto, a ministra do Meio Ambiente, Edna Molewa, levantou a ideia de instaurar uma moratória sobre a caça ilegal de rinocerontes brancos, a principal espécie presente no país: “A caça ilegal e os abusos no sistema de licenças talvez sejam as principais ameaças à sobrevivência dos rinocerontes em estado selvagem em um futuro próximo.”

Um estudo sobre as consequências da remoção dos chifres dos rinocerontes, já praticada em algumas reservas privadas, também foi citado. Os especialistas continuam céticos sobre a factibilidade logística e financeira de tal medida aplicada aos 20 mil rinocerontes que vivem na África do Sul (80% da população mundial). A instalação de chips GPS nos chifres também foi testada. No início dos anos 2000, a unidade sul-africana especializada na proteção de espécies ameaçadas foi dissolvida, e somente 13 rinocerontes haviam sido caçados em 2007 por seus chifres.

Mas essa protuberância de queratina, uma proteína presente nas unhas humanas, é valorizada na Ásia pelas classes médias que hoje não param de aumentar. Símbolo de riqueza, o chifre transformado em pó também é elogiado por suas virtudes medicinais como a – errônea – de curar o câncer.

No mercado negro, seu preço explodiu, a cerca de US$ 50 mil (35 mil euros) por quilo, segundo a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (Cites), a organização especializada da ONU.

Depois do Zimbábue, a vizinha África do Sul foi alvo de máfias asiáticas que contratam moradores locais que conhecem o terreno e se dispõem a assumir riscos para ganhar em uma noite vários anos de salário.

Para responder a caçadores que não hesitam mais em utilizar helicópteros para localizar suas presas ou em atacar de noite com óculos infravermelhos, o exército foi mobilizado em abril ao longo da fronteira com Moçambique, no célebre Parque Kruger, do tamanho de Israel. Os casos de caça ilegal diminuíram fortemente.

“Desde o início do ano fizemos muitos esforços e estamos colhendo os frutos”, afirma Wanda Mkutshulwa, porta-voz dos parques nacionais sul-africanos.

Uma cooperação reforçada entre os serviços policiais, judiciais e alfandegários já permitiu prender 155 suspeitos em 2011 (162 em 2010). Penas que vão até dez anos de prisão foram aplicadas. Cerca de 15 caçadores também teriam sido mortos.

Sensibilização

Abrigando um quarto dos rinocerontes da África do Sul, as 400 reservas privadas são mais vulneráveis. “Contratamos guardas de segurança privados, mas custam caro e são insuficientes”, avalia Pelham Jones, da Associação de Proprietários Privados.

Michael Eustace, um economista especializado sul-africano, também é partidário da legalização do mercado: “Com os chifres provenientes das mortes naturais, dos estoques e das remoções pelos fazendeiros, poderíamos alimentar o mercado sem necessidade de matar rinocerontes”, ele explica. “Mas há necessidade de uma regulamentação, com os chifres certificados e identificados.”

Para seus adversários, essa medida só faria aumentar a demanda. As autoridades sul-africanas refletem a respeito. Segundo Joseph Okori, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), a solução passa pelos países consumidores, como Vietnã ou China: “É preciso sensibilizar essas populações e sobretudo que os que vendem e compram chifres sejam finalmente processados na justiça”.

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FONTE : Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves. Reportegem de Le Monde, no UOL Notícias. EcoDebate, 06/09/2011

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