Zoneamento do Vale do Itajaí poderia ter evitado tragédia, diz especialista
Um diagnóstico sócio-ambiental e o conseqüente zoneamento da região, inseridos nos planos diretores dos municípios catarinenses, poderiam ter evitado a tragédia vivida pelo estado nas duas últimas semanas.
A avaliação é da coordenadora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Adriana Rossetto.
“Mesmo com mecanismos de monitoramento e de alerta, é uma tragédia que ocorreu depois de quantos dias de chuva e sabendo que haveria uma maré alta? Teve essa proporção porque houve vários fenômenos climáticos que ocorreram ao mesmo tempo, mas o poder público não estava preparado. Achamos que a tecnologia resolve tudo e a gente vai se descuidando. A prevenção é uma coisa que não aparece politicamente e isso é uma grande falha dos nossos gestores”, afirmou.
Em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, Adriana destacou que o momento atual é de “correr atrás” por meio de ações paliativas que resolvam o caos provocado pelas enchentes e pelos deslizamentos de terra no Vale do Itajaí.
Mas, segundo ela, um trabalho paralelo, com ações preventivas, também precisa ser pensado. “O longo prazo é mais importante do que o curto prazo”, disse.
“A reconstrução não é fácil, ainda mais por ser uma tragédia em uma escala muito maior do que as que a gente comumente tem presenciado. Nesse momento, o poder público tem um papel muito importante, assim como a sociedade. Temos que assumir toda a nossa parcela de responsabilidade. Não adianta a gente fazer algumas obras imediatas e achar que está tudo resolvido”, explicou ela.
Para Adriana, uma das medidas imediatas precisa ser o diagnóstico e o zoneamento sócio-ambientais, ou seja, uma radiografia da região que inclua a aptidão do solo após o período de temporais intensos. O objetivo, de acordo com a especialista, é definir quais os pontos são apropriados para a urbanização e para a instalação de lavouras, por exemplo.
“Tudo isso interfere na composição do solo e acaba, no somatório, trazendo características desfavoráveis”, afirmou. Segundo ela, a identificação de áreas onde poderão ser realocados os quase 33 mil desabrigados e desalojados também deve ser prioridade, uma vez que existem diversas regiões do estado evacuadas e para as quais os moradores não poderão retornar.
Adriana cita, ainda, o fornecimento de recursos e de crédito por parte do governo federal e estadual para obras de infra-estrutura e para a recomposição do setor empresarial de Santa Catarina. “Sem esse diagnóstico, é impossível que se tome decisões acertadas”, destacou.
“Se a gente for começar a buscar a causa para a tragédia, vamos retroagir muito, desde modelos econômicos que se adotam para o crescimento até as escolhas que se fazem. A gente acha que desenvolver é só crescer economicamente, quando, na verdade, existe uma série de questões que vão sendo reprimidas. Os gestores, na maioria, são imediatistas, não pensam em uma escala de longo prazo. Com certeza, houve questões que não foram observadas e isso existe em praticamente todas as gestões públicas no Brasil”, alertou Adriana. (Com informações da Agência Brasil).
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