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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
SC : PREVENÇÃO E CONTROLE
Tragédias naturais como a que se abateu sobre Santa Catarina, e cujos efeitos ainda não foram completamente dimensionados, ocorrem no mundo inteiro, e são inevitáveis, como chuvas torrenciais, deslizamentos de morros, inundações, furacões, tsunamis, terremotos e outras manifestações da natureza em fúria. Os rios, de fato, tanto provocam inundações na China, na Rússia, nos Estados Unidos, na França quanto no Vale do Itajaí. E os registros dessas tragédias datam de tempos ancestrais, desde que o homem começou a escrever sua história sobre o Planeta. Mas se ainda não está ao alcance do homem evitar que elas ocorram, ele já dispõe de meios para preveni-las, e controlar os seus efeitos deletérios na medida do possível.
Não se atribua, portanto, apenas ao acaso as mortes e a devastação causadas pelas chuvas, inundações e deslizamentos em Santa Catarina nesses dias de luto e pesadelo. Para causar essas conseqüências funestas contribuiu, também, a ação predadora do homem sobre o patrimônio natural, através do desmatamento, do assoreamento dos rios, das ocupações irregulares de terrenos em áreas de risco, da falta de fiscalização e da irresponsabilidade de quem permitiu - não raro com fins eleitoreiros - a construção de residências em locais sabidamente sujeitos a essas ocorrências, como encostas de morros ou várzeas de rios. Tudo isso ajudou a potencializar os efeitos devastadores da tragédia. A maioria dos mortos não foi vítima da água, mas da terra que deslizou e das casas que desabaram.
Registros indicam que na região de Blumenau, entre 1980 e 2004, ocorreram 32 inundações, de intensidade variada - ou seja, mais de uma inundação por ano. Alertas, portanto, nunca faltaram. Obras de contenção de cheias? Diques, barragens? Sistemas de monitoramento capazes de antecipar a ocorrência de cheias com antecedência suficiente para adotar medidas cautelares ou retirar os moradores das áreas de risco? São temas para reflexão futura, após os trabalhos de salvamento, de atendimento às necessidades da população atingida, da recuperação das áreas devastadas, e da volta da normalidade.
A destruição da Mata Atlântica também pode ter contribuído para a tragédia causada pelas chuvas em Santa Catarina, na avaliação do professor Lino Bragança Peres, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC. A substituição das árvores por terrenos habitados e vegetação rasteira provocou a erosão, e os deslizamentos aconteceriam, mais ou cedo ou mais, tarde, e as fortes chuvas dos últimos dois meses apenas aceleraram o processo, segundo ele. A Mata Atlântica cobria 15% do território nacional à época da Descoberta; hoje restam tão-só 7%, e o processo de devastação não recua. Nos anos recentes, segundo a organização não-governamental SOS Mata Atlântica, Santa Catarina foi o Estado brasileiro que mais devastou este importante bioma. A natureza agredida cobrou amargo preço outra vez.
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FONTE : Editorial do DC, edição de 3/12/2008
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