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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

SUSTENTABILIDADE EM ALEMÃO


Nachhaltigkeit. Esta palavra quase impronunciável quer dizer sustentabilidade na língua alemã. Assim como –já cantou Caetano Veloso – está provado que só é possível filosofar em alemão, é impossível abordar o tema das tecnologias sustentáveis sem recorrer ao que se pesquisa e se desenvolve naquele país europeu de marcantes tradições verdes.

Os alemães são líderes mundiais no tema. Colhem hoje em prestígio e lucros o que plantaram na década de 1980, quando ajudaram a desenhar os primeiros contornos de um então inusitado mercado de tecnologias ambientais. Apenas para se ter uma idéia em números, estima-se que o mercado de soluções sustentáveis gere em todo o mundo negócios da ordem de US 1,4 trilhão, cifra comparável, por exemplo, à da indústria automobilística, com a diferença importante de que, até a crise do subprime, crescia a taxas bem superiores às do PIB mundial.

Para ficar em dois campos de atuação, a Alemanha movimenta US$ 40 bilhões em energias sustentáveis (renováveis e redução de emissões de carbono) e US$ 82 bilhões em soluções para meio ambiente (água e saneamento, controle de poluição, gestão de resíduos sólidos e reciclagem).

A comparação com o Brasil dá bem a proporção das distâncias. O País investe respectivamente US$ 5,7 bilhões e US$ 5,2 bilhões nas duas áreas de negócios mencionadas, volumes ainda modestos ante o enorme potencial brasileiro. Isso significa, na prática, uma janela de oportunidades para empreendedores brasileiros e, é claro, para alemães.

Não por outro motivo, um grupo de presidentes de companhias alemãs instaladas no Brasil, sob o comando da Câmara Brasil-Alemanha, anunciou na semana passada o que classificam como uma terceira onda de investimentos alemães no Brasil a partir da sinergia de interesses em sustentabilidade. A onda inicial teria ocorrido na primeira metade do século 20 na área do comércio. E a segunda, nos anos 1950, com a entrada das montadoras de automóveis.

As relações comerciais entre os países sempre foram prósperas. Com aportes diretos de US$ 25 bilhões, a Alemanha é o terceiro maior investidor estrangeiro no País. A balança comercial bilateral registra um movimento de 15,3 bilhões de euros. O Brasil exporta 8,6 bilhões para a Alemanha, quinta nação para a qual mais vende matérias-primas e produtos. Do país europeu, importa 6,7 bilhões de euros, montante que só perde para os EUA, China e Argentina.

Para março de 2009, os alemães planejam uma grande feira de tecnologias sustentáveis, denominada Ecogerma, na qual empresas realizarão negócios esperados de cerca de R$ 200 milhões em seis áreas específicas – energia, tecnologias ambientais, infra-estrutura, pesquisa e desenvolvimento, indústria, bens de consumo e agricultura sustentável, sendo esta última, na opinião do grupo promotor, a mais promissora.

Entre as companhias presentes no Brasil, Basf, Bosch, Volkswagen, Mercedes-Benz, Siemens e ThyssenKrupp apresentarão suas tecnologias sustentáveis. Da Alemanha, devem vir corporações de pequeno e médio portes interessadas em vender expertise no Brasil, país que, segundo Ban Ki-Moon, secretário-geral das Nações Unidas, em discurso na Conferência do Clima em Poznam (Polônia), no último dia 11 de dezembro, é hoje “uma das economias mais verdes do mundo.”

Que tipo de negócio sustentável os alemães esperam fazer no Brasil? Estudo da consultoria Roland Berger identificou algumas oportunidades. Com índices de tratamento de esgoto abaixo de 20% e de reciclagem oscilando entre 11% e 12%, há mercado francamente favorável aqui para equipamentos nos quais os alemães são pioneiros. Nunca é demais lembrar que apenas 39% das cidades brasileiras possuem aterros. E novas iniciativas governamentais para separar lixo demandarão tecnologias apropriadas. Com a realização das PPPs, os alemães estão de olho ainda no aumento de investimentos públicos no setor de água. De acordo com o estudo, a escassez desse recurso natural em algumas regiões decorre de perdas que poderiam ser evitadas com boas soluções tecnológicas. Outro campo de interesse dos alemães é o etanol. Companhias daquele país conhecem muito bem o biodiesel e dispõem de tecnologias capazes de apoiar o desenvolvimento do setor no Brasil.

Como já era de se esperar, na reunião de anúncio da Ecogerma 2009, os empresários germânicos não tiveram como escapar da pergunta sobre o eventual impacto da crise econômica para o futuro imediato dos negócios sustentáveis. A opinião de Rolf Dieter Acker, presidente da Basf para a América Latina, revelou otimismo e confiança. Segundo o CEO da centenária corporação alemã, a história mostra que para sair de crises as empresas são forçadas a economizar custos por meio da eficiência de processos e a abrir novos mercados. A sustentabilidade é, portanto, uma alternativa bem-vinda na medida em que favorece, no caso da desejada parceria Brasil-Alemanha, esses dois aspectos.
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FONTE : Ricardo Voltolini é publisher da revista Idéia Socioambiental e diretor da consultoria Idéia Sustentável.(Envolverde/Revista Idéia Socioambiental)

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